100 | CONCRETO & Construções
e escalonamento entre placas. Casos,
como o do rodoanel Mario Covas em
São Paulo, onde houve a fissuração irre-
gular de algumas placas, são exemplos
do problema. Balbo (2009), por fim, cita
que, de cada seis defeitos mais comuns
na pavimentação em concreto, quatro
estão relacionados com as juntas de
retração. Com isso, se o problema dos
pavimentos de concreto está nas juntas,
por que não construir um pavimento de
concreto sem juntas?
É nessa premissa que se insere
a ideia do Pavimento de Concreto
Continuamente Armado (PCCA): um
pavimento de concreto sem juntas.
Explica-se: o concreto no PCCA
apresenta a mesma tendência à
fissuração do concreto no PCS,
porém no PCCA não existe a
indução da fissuração, o concreto
fissura livremente; o controle está no
espaçamento e, principalmente, na
abertura das fissuras que irão surgir.
Para isso, existe uma armadura longi-
tudinal, acima da linha neutra da placa,
em altas taxas, cujo único papel é man-
ter as fissuras fortemente apertadas de
modo que se tornem imperceptíveis ao
tráfego e que mantenham altos níveis
de transferência de carga pelo intertra-
vamento de agregados. Diferentemen-
te dos pavimentos de concreto arma-
do (PCA), a armadura do PCCA não
possui papel estrutural no pavimento,
portanto, a espessura de concreto das
placas é similar àquela corriqueiramen-
te empregada em PCS. Pela quantida-
de de aço necessário, o custo inicial
do PCCA é de aproximadamente 40%
superior do que o do PCS, porém a
baixa necessidade de manutenção e
a durabilidade recompensam o inves-
timento inicial. Pode-se afirmar, numa
visão prática e simplificada, que as
fissuras que irão surgir no PCCA de-
sempenham um papel semelhante às
juntas do PCS, entretanto, frisa-se que
o desempenho das primeiras é muito
menos suscetível a erros construtivos
do que o da segunda. A Figura 1 com-
para as seções longitudinais e trans-
versais do PCS e do PCCA.
1.1 PCCA: durabilidade e mínimo
de manutenção
A primeira aplicação do PCCA data
de 1938 e foi realizada no estado norte-
-americano de Indiana. Nos próximos dez
anos, vários trechos experimentais foram
executados em diversos estados do país,
com dedicação especial do Texas e de
Illinois. Porém, foi somente em meados
dos anos 1950 que a técnica começou a
ganhar popularidade; em 1958, existiam
127 km de rodovias com o PCCA. Foi a
partir também dos anos 1950 que a ideia
do PCCA migrou para o continente Euro-
peu, tendo a Bélgica como sua precurso-
ra. Atualmente, só nos EUA existem em
operação mais de 50 mil quilômetros de
rodovias construídas com o PCCA.
O PCCA tem fama de apresentar
alta durabilidade com um mínimo de
manutenção frente à cargas de trá-
fego pesado e à condições ambien-
tais intimidantes. Para exemplificar
as qualidades do PCCA, a Tabela 1
traz uma compilação de resultados
que Tayabji et al. (1998 – 2012) in-
vestigaram nos estados norte-ameri-
canos, em alguns países da Europa e
no Canada.
Deve ser notado que alguns pro-
jetos iniciais apresentaram problemas
com o PCCA; de modo geral, o tipo de
base, a taxa de armadura e a posição
da armadura têm influência no compor-
tamento da estrutura e no surgimento
das fissuras, como será discutido no
decorrer do artigo. Porém, perante os
anos de sucesso comprovado do pavi-
mento no exterior e da possibilidade de
uma rodovia ou corredor urbano com
durabilidade de mais de 30 anos, de-
cidiu-se importar a técnica e construir
quatro seções experimentais desse pa-
vimento no campus da Universidade de
São Paulo (USP). Esse artigo apresenta
os conceitos fundamentais do PCCA,
além de trazer o relato do projeto e da
construção das seções experimentais e
comparar a eficiência de transferência
u
Figura 1
Diferenças básicas de PCCA e PCS