 
          CONCRETO & Construções  |  Ed. 94 |  Abr – Jun • 2019  |   39
        
        
          Após abandonar uma série de hipó-
        
        
          teses que não se sustentaram, foi-se
        
        
          atrás da verificação da flexo-compres-
        
        
          são da lingueta, que parecia o melhor
        
        
          caminho para justificar a ruptura.
        
        
          Observando bem a foto  do pilar P9
        
        
          no dia do acidente (Fig. 5), parece que
        
        
          a lingueta rompeu por esgotamento do
        
        
          concreto à compressão, à meia altura.
        
        
          De fato, a ponta da lingueta aparece
        
        
          apoiada no pilar com trecho íntegro
        
        
          de meio metro de altura, e dele saem
        
        
          dobradas em S as barras de armadura
        
        
          vertical da lingueta, entrando na parte
        
        
          superior da mesma lingueta, ainda pre-
        
        
          servada e ligada à superestrutura.
        
        
          Essa condição de apoio foi sempre
        
        
          razão de preocupação, seja com a per-
        
        
          da da capacidade de suportar as 700 tf,
        
        
          seja porque dificultasse a operação de
        
        
          macaqueamento, por conta do atrito
        
        
          com a lingueta vizinha, uma vez que a
        
        
          junta estava cheia de resíduos.
        
        
          Na procura incansável do diagnós-
        
        
          tico, decidiu-se estudar a hipótese de
        
        
          que, por serem velhos (quase 40 anos),
        
        
          os aparelhos de apoio tivessem deixado
        
        
          de permitir deslizamento. De fato, para
        
        
          forças horizontais da ordem de 250 tf ·
        
        
          m, geradas por deformações impostas
        
        
          ainda remanescentes, a lingueta pode-
        
        
          ria ter sido esmagada a meia altura.
        
        
          Ok, mas 250 tf · m é muito!!!
        
        
          Verificou-se, em seguida, que, con-
        
        
          siderado o desgaste por fadiga do con-
        
        
          creto conforme critério da ABNT NBR
        
        
          6118, equivalente ao do fibM1990 e
        
        
          Eurocode EC2, a necessária ordem de
        
        
          grandeza da força horizontal caia pra
        
        
          200 tf · m. Essa hipótese de diagnóstico
        
        
          tomou força e parece mais plausível do
        
        
          que a descrita acima. Mas 200tf tam-
        
        
          bém é muito!
        
        
          Analisando a lingueta do ponto de
        
        
          vista da concretagem, verifica-se que,
        
        
          por conta das armaduras inferiores
        
        
          das 3 almas e da laje, bem como da
        
        
          fretagem, que toma toda a espessura
        
        
          da lingueta, a ruptura deve ter sido di-
        
        
          fícil (Fig. 6)! Pode ter se formado uma
        
        
          “bicheira” na lingueta, favorecendo sua
        
        
          ruptura por flexo-compressão, com ou
        
        
          sem fadiga.
        
        
          Já com o macaqueamento execu-
        
        
          tado e com os projetos de alargamento
        
        
          dos pilares 5 e 9 (para dar mais liber-
        
        
          dade para movimentos horizontais e
        
        
          facilitar a troca de aparelhos de apoio),
        
        
          começaram a aparecer surpresas: apa-
        
        
          receram defeitos de concretagem, bi-
        
        
          cheiras, na lingueta oposta à rompida
        
        
          (pilar P9). Elas apareceram quando da
        
        
          operação de injeção das fissuras cla-
        
        
          ramente visíveis após a demolição da
        
        
          parte remanescente (Fig. 7). Dois furos
        
        
          de injeção vizinhos, beberam, como se
        
        
          u
        
        
          
            Figura 6
          
        
        
          Indicação da região rompida da lingueta do P9 e de suas armaduras de fretagem
        
        
          u
        
        
          
            Figura 7
          
        
        
          Fissuras na lingueta oposta recebendo injeção de calda