104 | CONCRETO & Construções | Ed. 92 | Out – Dez • 2018
u
normalização técnica
Os vergalhões e o concreto
armado no Brasil
1. INTRODUÇÃO
N
a procura de dados da evo-
lução do aço para concreto
armado no Brasil, nos de-
paramos com grande quantidade de
informações da História do Concreto
Armado. De fato, a evolução do Con-
creto Armado acompanhou a evolução
do concreto e do aço nele utilizados,
bem como toda a normalização corres-
pondente.
2. ENTRADA DA NORMALIZAÇÃO
– PRIMEIROS PASSOS
É interessante começar pela NB1-
1940. Essa, a primeira norma da ABNT
(Associação Brasileira de Normas Téc-
nicas), recém-fundada, veio depois de
uma considerável evolução de peque-
nas obras até edifícios como o “Mar-
tinelli”, em São Paulo, e o “A Noite”,
no Rio de Janeiro, mas principalmente
após a construção da Ferrovia Mairin-
que-Santos. Vale recordar que esse
processo construtivo foi liderado por
Humberto Fonseca, que conseguiu,
com seus parceiros, convencer os di-
rigentes da Sorocabana Railway a exe-
cutar as Obras de Arte em concreto
armado, e não em estrutura metálica,
como era tradicional na época.
Junto com Fernando Lobo Carneiro
e Telêmaco Van Langendonck, Hum-
berto Fonseca ajudou na elaboração da
NB1, que, na sua a primeira versão pu-
blicada em 1940, já continha um critério
de cálculo da flexão na ruptura. Nessa
época, só duas normas no mundo fa-
ziam isso, a NB1 e a Norma Russa!
Justamente um ano antes saia a
primeira versão da EB3-1939
1
, naquela
época definindo apenas os aços 37CA
e 50CA, com limite de escoamento
2
de
24 e 30 kgf/mm
2
, equivalentes a 240
e 300 MPa, respectivamente (naquela
época a classe do aço não se definia
pelo limite de escoamento, mas pelo
limite de resistência
3
, por isso 37 e 50
em lugar de 24 e 30). Nessa primeira
especificação de aços para concreto
armado já se tinha preocupação com
a ductilidade do aço, especificando um
alongamento mínimo na ruptura e um
ensaio de dobramento!
A evolução da NB1 passou da versão
de 1940 para a de 1950 e 1960, quando
evoluiu o critério de cálculo na ruptura,
caminhando na direção do que temos
hoje e atingindo inclusive os pilares!
Foi um pouco depois, no ano de
1967, que saiu a segunda versão da
EB3. Nessa versão, bastante ambicio-
sa, apareciam 5 tipos de aço (CA24,
32, 40, 50 e 60). A Tabela 1 mostra,
para cada um desses aços, a tensão
de escoamento, a relação ruptura/es-
coamento, o alongamento de ruptura,
o diâmetro de dobramento e, pela pri-
meira vez, o coeficiente de conforma-
ção superficial.
Esse coeficiente era muito impor-
tante para a ancoragem das barras
no concreto, bem como emendas por
transpasse, especialmente no caso de
aço de alta resistência, como CA50 e
60, que exigiram barras de alta ade-
rência de forma a evitar comprimentos
muito grandes de ancoragem. Essa
segunda versão da EB3 já trazia crité-
rios para o cálculo dos comprimentos
de ancoragem (com ou sem gancho) e
de emenda.
Por outro lado, as mossas e saliên-
cias correspondentes agravavam o pro-
blema da fadiga, pouco importante nas
barras lisas, mas importante nas de alta
aderência, por conta da concentração
de tensão que as saliências criavam.
De novo, preocupados em evitar rup-
turas frágeis, agora por fadiga, nossos
mestres da época introduziram, com
as barras de alta aderência, os critérios
para verificação da fadiga.
FERNANDO REBOUÇAS STUCCHI – P
rofessor
titular
,
diretor
e membro
U
niversidade
de
S
ão
P
aulo
(USP) – EGT E
ngenharia
– C
omitê
B
rasileiro
de
C
onstrução
C
ivil
da
A
ssociação
B
rasileira
de
N
ormas
T
écnicas
(ABNT/CB2)
1
NB-3
passou
a
ser
NBR 7480
por
ter
sido
registrada
pelo
INMETRO.
2
L
imite
de
escoamento
corresponde
ao
patamar
que
se
observa
no
diagrama
tensão
-
deformação
,
em
que
as
deformações
crescem
sem
qualquer
acréscimo
de
tensão
.
3
L
imite
de
resistência
corresponde
ao
ponto mais
alto
do
trecho
de
encruamento
do
diagrama
tensão
-
deformação
,
que
se
apresenta
após
o
patamar
de
escoamento
.
D
e
fato
,
após
esse
patamar
a
barra
de
aço
requer mais
força
para
se
alongar
,
dizemos
que
ela
encrua
,
até
que
rompa
efetivamente
no
topo
desse
trecho
,
o
limite
de
resistência
.