84 | CONCRETO & Construções | Ed. 88 | Out– Dez • 2017
de aplicação. Nos estudos prévios
devem ser executados os ensaios
preconizados no projeto para veri-
ficação do atendimento aos requi-
sitos estabelecidos” (ABNT NBR
14026:2012).
Ressalta-se que não é aceitável
realizar ensaios prévios em concreto
moldado, dado que já foi comprova-
do que não há correlação confiável
entre os concretos moldados con-
vencionalmente e o CPRF. Uma das
características marcantes do CPRF é
a reflexão que altera o teor de fibra
efetivamente incorporado ao mate-
rial, o que é impossível de reprodu-
zir em laboratório. Nesse contexto,
Banthia, Trottier e Beaupré (1994) já
demonstraram não haver um perfei-
to paralelismo entre o concreto pro-
jetado e moldado para um mesmo
traço. Portanto, não se admite que
uma obra de infraestrutura, como é
o caso dos túneis, ignore aspecto
tão básico da boa tecnologia exigi-
da pela normalização vigente. Dessa
forma, devem ser realizados os estu-
dos de dosagem prévios, através da
moldagem de placas com a utiliza-
ção de mão de obra e equipamento
que serão empregados na obra, de
modo a verificar qual é o teor de fibra
que efetivamente cumpra com todos
os níveis de exigência estabelecidos
pelo projetista.
A título de ilustração, apresenta-
-se na Tabela 2 a frequência de ensaio
recomendada pela EFNARC (1996)
para três níveis de rigor de controle.
Evidentemente, o nível de rigor é di-
retamente proporcional à responsa-
bilidade da estrutura, à variabilidade
apresentada pelo material e ao grau
de risco que sua execução pode re-
presentar. O especificador deve for-
necer a frequência de ensaio deseja-
da e, também, o critério de aceitação
para o material. Vale comentar que os
ensaios de absorção de energia em
placas e flexão de prismas, especí-
ficos do CPRF, apresentam a menor
frequência entre todos os ensaios
especificados. Isto ocorre porque a
EFNARC (1996) tem implícita a ideia
de que uma vez que se controla a
adequação da matriz (ensaios de re-
sistência à compressão) e o conteúdo
de fibra, obtém-se uma razoável con-
fiabilidade para o processo.
Pode-se ampliar a frequência de
verificação específica do CPRF e,
a critério do projetista, dispensar o
uso dos ensaios de punção e flexão
de prismas, através do uso conjun-
to do ensaio Barcelona e do método
indutivo. Obviamente, isto só é pos-
sível atendendo-se à exigência de
realização de estudos prévios que
calibrem de maneira confiável as
correlações entre os ensaios. Infeliz-
mente, ainda não há métodos equi-
valentes ao método indutivo para a
quantificação do teor de macrofibras
poliméricas incorporadas ao CPRF.
Portanto, neste caso, a determina-
ção do conteúdo de fibra deve ser
feita de maneira independente do
ensaio de duplo puncionamento.
4. COMENTÁRIOS FINAIS
O fato do concreto projetado ter
seu comportamento extremamen-
te afetado pelo processo de proje-
ção impede que se faça a simples
importação de parâmetros de es-
pecificação e controle do concreto
convencional para esta aplicação.
Dessa maneira, deve-se ter muito
cuidado na observação das especi-
ficidades do CPRF, entre as quais o
fato de ter um teor de fibra incorpo-
rado variável. Muitas especificações
se restringem a estabelecer um teor
de fibra, o que é um equívoco do
ponto de vista tecnológico. É ain-
da mais grave a situação quando,
mesmo tendo um teor de fibra es-
pecificado, nem mesmo esse parâ-
metro é controlado. Isto claramen-
te não contribui para que os túneis
produzidos com esta tecnologia te-
nham garantida a conformidade do
CPRF que compõe a sua estrutura.
Portanto, recomenda-se fortemente
que não se ignore a normalização
vigente no país e que estas obras
realizem estudos prévios, devida-
mente acompanhados pelo projetis-
ta, de modo a garantir que o progra-
ma de controle da obra seja feito de
maneira confiável.
u
Tabela 2 – Frequência da realização dos ensaios segundo o rigor do nível
de controle da qualidade (EFNARC, 1996)
Tipo de ensaio de controle
Reduzido
Normal
Rigoroso
Resistência à compressão
500
250
100
Resistência à tração na flexão
–
500
250
Tenacidade na flexão
–
1000
500
Absorção de energia em placas
–
1000
500
Aderência
–
500
250
Conteúdo incorporado de fibra
–
250
100
Espessura da camada projetada
50
25
10
Área em m
2
de revestimento produzido entre testes