Revista Concreto & Construções - edição 92 - page 51

CONCRETO & Construções | Ed. 92 | Out – Dez • 2018 | 51
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informou que no Brasil existem em torno de 650 concreteiras,
mas que apenas 300 delas possuem engenheiro tecnologis-
ta responsável pelo traço do concreto fabricado. “O merca-
do brasileiro avalia apenas o preço do produto, sem levar em
consideração a capacidade técnica da empresa”, desabafou.
Para ele, o laboratório de controle tecnológico deve atuar para
auxiliar o construtor no processo de compra do concreto.
Com Jairo Abud concordou o diretor do Grupo Falcão
Bauer, Eng. Roberto Bauer, para quem o critério de escolha
dos fornecedores tem um impacto importante na qualidade
final da construção. Jorge Batlouni foi além, propondo a certifi-
cação das concreteiras nos moldes da certificação dos labora-
tórios de controle tecnológico. O processo de certificação dos
laboratórios foi explicado pelo diretor da ABRATEC e diretor de
certificação do IBRACON, Eng. Gilberto Giuzio.
“Uma questão que se coloca nesta discussão é a da signi-
ficativa variabilidade dos percentuais de adições pozolânicas e
de escória permitidas para um mesmo tipo de cimento. Embo-
ra esta variação esteja dentro da norma, isto afeta a dosagem
experimental e compatibilização com os aditivos. O tecnolo-
gista, ou a concreteira, faz o estudo de dosagem e compa-
tibilização com os aditivos para um cimento CP III ou CP IV,
com x% de adição e, durante a obra, as cimenteiras podem
variar o percentual de adições em valores que podem chegar
ao dobro, no caso do CP III, ou a mais que o dobro no caso
CP IV. Isto afetará a qualidade do concreto produzido e, por-
tanto, aumenta a importância do controle tecnológico.” interviu
o mediador da Mesa-Redonda, Prof. Enio Pazini Figueiredo.
“A variabilidade na composição de cimentos compostos
acontece em todo mundo. As faixas de variação são previstas
em normas. É o comprador quem deve exigir as especifica-
ções do cimento mais adequadas para seu concreto e sua
obra”, rebateu a superintendente do Comitê Brasileiro de Ci-
mentos, Concreto e Agregados da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT/CB-02), Engª Inês Battagin, que as-
sistia ao debate entre os integrantes da Mesa-Redonda. “Além
disso, o ensaio de controle de recebimento do concreto deve
ser feito pelo comprador”, complementou.
Outra questão associada aos concretos produzidos pelas
concreteiras brasileiras foi a dos concretos sem conformidade
com as especificações do projeto estrutural. “Avolumam-se
resultados de ensaios contratados pelas grandes construtoras
do eixo Rio-São Paulo que indicam a não conformidade dos
concretos entregues pelas concreteiras nas obras. Será que
este problema está associado ao ensaio nos laboratórios ou à
produção do concreto pelas concreteiras?”, questionou o pre-
sidente da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria
Estrutural (Abece).
Jairo Abud, Inês Battagin, Jefferson Dias, Egydio Hervé Neto,
Gilberto Giuzio, Roberto Bauer, Raphael Holanda e Enio Pazini
assistem, na primeira fila, a palestra no Seminário
Para o diretor da Holanda Engenharia, Eng. Raphael Ho-
landa, a acreditação do laboratório de controle tecnológico o
gabarita a verificar as especificações do concreto produzido
pelas concreteiras.
Segundo Roberto Bauer, um programa de ensaios realiza-
do recentemente no Grupo Falcão Bauer com 300 corpos de
provas moldados a partir de lotes de concreto vindos de dife-
rentes concreteiras atestou que apenas 2,5% dos resultados
dos ensaios tinham valores abaixo dos valores de resistência
característica à compressão dos projetos para os quais foram
contratados. “O programa atestou que os concretos produzi-
dos no país são conformes”, concluiu.
Na avaliação de Jairo Abud o problema da não conformida-
de do concreto está associado ao não cumprimento das normas
técnicas e à falta de fiscalização das pequenas concreteiras. Ele
defendeu mudança na normalização e na legislação brasileira
para a modernização das concreteiras no país, como a maior di-
versificação das centrais misturadoras frente às centrais dosado-
ras (tema que foi debatido em um outro seminário do 60º CBC) e
a incorporação de novas tecnologias no concreto que informem
algumas de suas características ao comprador no momento de
sua chegada à obra, como sua consistência e seu abatimento.
Os debatedores foram unânimes em apontar para a im-
portância de se seguir as normas técnicas para garantir a qua-
lidade da construção na cadeia produtiva do concreto. Eles
foram convidados pela engenheira Inês Battagin a participar
das comissões de estudos da ABNT, inclusive por vídeo con-
ferência, e a contribuir com a proposição, revisão e atualização
de normas técnicas brasileiras.
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