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60º CBC
concreto armado, impedindo que as altas temperaturas
das faces expostas ao fogo sejam transferidas durante o
incêndio para o interior dos elementos, onde se localizam
as armaduras. Isto garante a estabilidade da edificação,
pois o aço, responsável por resistir aos esforços de tra-
ção, sofre perda significativa de resistência ao redor de
500°C, enquanto que o concreto, encarregado de resistir
aos esforços de compressão, perde significativamente
essa propriedade quando atinge temperaturas próximas
a 800°C. Com base nessas características dos materiais,
é possível definir em projeto um cobrimento mínimo da
armadura pelo concreto, de modo que se assegure por
determinado tempo que as altas temperaturas de um in-
cêndio não atinjam o aço no interior do concreto. “Uma
laje de concreto armado em situação de incêndio deve
manter sua estabilidade, estanqueidade e seu isolamento
térmico por até 120 minutos, critérios estipulados pelas
normas técnicas”, exemplificou o palestrante Marcelo de
Araújo Ferreira, coordenador do Núcleo de Estudo e Tec-
nologia em Pré-Moldados de Concreto da Universidade
Federal de São Carlos (Netpre-USFSCar).
DIMENSIONAMENTO CONTRA INCÊNDIO
O tempo durante o qual elemento estrutural deve
manter sua estabilidade, sua estanqueidade e seu iso-
lamento térmico é tecnicamente conhecido como tempo
requerido de resistência ao fogo (TRRF). Ele é definido
pelas normas ABNT NBR 5628 – Componentes constru-
tivos estruturais – Determinação da resistência ao fogo e
ABNT NBR 10636 – Paredes divisórias sem função es-
trutural – Determinação de resistência ao fogo. Seu va-
lor é obtido por meio de um ensaio padronizado no qual
amostras são submetidas a uma curva de aquecimento-
-padrão num forno fechado de laboratório. Em razão dis-
so, o TRRF é caracterizado como tempo de ensaio, não
como tempo real, durante o qual um tipo de elemento da
estrutura (pilar, viga, laje, parede) mantém sua estabili-
dade (ou resistência), avaliada por meio da medição de
deformações horizontais e do impacto pendular de es-
feras metálicas no componente ensaiado), estanqueida-
de (verificada por meio da aproximação de chumaço de
algodão do componente ensaiado) e isolamento térmico
(definido pelas temperaturas medidas na face oposta à
face exposta ao fogo como estando abaixo de 140 ºC em
média e de 180 ºC em qualquer ponto).
“O TRRF não é o tempo real que uma edificação deve
manter sua estabilidade, estanqueidade e isolamento tér-
mico para permitir a evacuação. Este tempo real deve ser
maior do que o TRRF, porque as condições de ensaio
no forno são exigentes”, comentou Luiz Carlos Pinto da
Silva Filho.
Essas condições de ensaio são extrapoladas para a
edificação por meio do conceito-chave de compartimen-
tação. A compartimentação vertical do edifício impede a
propagação de gases e calor de um pavimento para o
imediatamente superior, promovendo a segurança con-
tra o incêndio e, por isso, sendo obrigatória nos projetos
de estruturas. Já, a compartimentação horizontal impe-
de a propagação de gases e calor entre compartimentos
contíguos no mesmo pavimento, restringindo perdas e
facilitando as atividades de combate ao incêndio. Dessa
forma, “a ação térmica na edificação é simulada pela cur-
va de aquecimento normalizada como ocorrendo dentro
de um compartimento, tal como acontece no forno de
laboratório, com as vigas, lajes e paredes dos pavimen-
tos funcionando como compartimentos”, exemplificou o
palestrante Valdir Pignatta e Silva, diretor da Associação
Luso-Brasileira para a Segurança contra Incêndio) e pro-
fessor da Escola Politécnica da USP. Em sua exposição,
ele deu exemplos de dimensionamentos com e sem com-
partimentação vertical.
Entende-se, portanto, como as condições de labo-
ratório buscam replicar as condições reais, na medida
em que a compartimentação é requerida no projeto das
edificações, como medida de segurança contra incêndio.
Todavia, cada incêndio real tem suas próprias caracte-
rísticas específicas, que podem ou não ser mais rigo-
rosas do que as condições normalizadas do ensaio de
Momento da palestra do Prof. Marcelo Ferreira no Seminário