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60º CBC
Seminário disseminou
informações sobre resistência
do concreto ao fogo
O
colapso do edifício Wilton Paes de Almeida, em
São Paulo, em maio último, em decorrência do
incêndio iniciado no quinto andar, reacendeu questões
na comunidade brasileira de arquitetos e engenheiros ci-
vis. Imediatamente ao trágico acidente, o Instituto Bra-
sileiro do Concreto (IBRACON), juntamente com outras
associações técnicas, lançou um manifesto público aler-
tando para a herança negativa e preocupante de edifica-
ções não devidamente adaptadas para resistir ao fogo
nas cidades brasileiras.
O edifício Wilton Paes de Almeida fora construído na dé-
cada de 1960 para abrigar a sede da empresa Companhia
Comercial de Vidros do Brasil (CVB). Com 24 andares, 12 mil
m² de área construída, o edifício foi projetado pelo arquiteto e
professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Univer-
sidade de São Paulo (FAU-USP), Roger Zmekhol, sendo con-
siderado um marco da arquitetura modernista de São Paulo.
Após os incêndios nos prédios comerciais em concreto ar-
mado Andraus e Joelma, na década de 1970, houve atualiza-
ções das regras para prevenção e combate ao fogo em prédios
na cidade de São Paulo. Antes dessas tragédias com vítimas
fatais, as medidas exigidas eram extintores e hidrantes sinaliza-
dos. Após elas, decreto da Prefeitura estabeleceu critérios para
localização de escadas e saídas de emergência, e quanto tem-
po paredes, pilares e vigas deveriam resistir ao fogo.
Em 2001, a Associação Brasileira de Normas Téc-
nicas lançou as normas ABNT NBR 5628 e ABNT NBR
14432, que estabeleceram requisitos de resistência ao
fogo para componentes construtivos estruturais e para
elementos construtivos de edificações, respectivamente.
Já, em 2011, a entidade publicou a norma ABNT NBR
15200, que estabeleceu os critérios de dimensionamento
de estruturas de concreto para resistir a incêndios.
Todavia, essas regras e normas foram aplicadas para
novas edificações e para edificações reformadas após
mudanças em seu uso. Prédios construídos antes da dé-
cada de 1970, que se mantiveram em uso sem reformas,
como o Wilton Paes de Almeida, ou não foram adaptados
ou o foram parcialmente. Essa situação é preocupante
porque somente na cidade de São Paulo, dos 53 mil pré-
dios existentes, 24 mil foram construídos antes de 1970.
Para debater o assunto o IBRACON promoveu o II Semi-
nário sobre Segurança de Estruturas em Situação de Incêndio,
no dia 19 de setembro, como evento paralelo do 60º Con-
gresso Brasileiro do Concreto, que foi realizado em Foz do
Iguaçu, de 17 a 21 de setembro. Seu objetivo foi “trazer infor-
mações sobre o comportamento do concreto em situação de
incêndio, para tranquilizar a comunidade técnica e a sociedade
brasileira quanto às boas propriedades do concreto em resis-
tir ao fogo”, assinalou na abertura do Seminário um de seus
coordenadores, o professor da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), Rogério Cattelan Antocheves de Lima. Ao que
foi complementado pela professora da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Ângela Graeff, que afirmou ser o propó-
sito do seminário “disseminar conceitos e técnicas de projeto
e construção, bem como descobertas científicas, que possibi-
litem evitar o incêndio e sua propagação na edificação, ou que
permitam projetar e executar a estrutura para resistir a ele”.
RESISTÊNCIA AO FOGO
Quando se trata de edificações em situação de incên-
dio, uma distinção inicial se faz necessária: a reação ao
fogo e a resistência ao fogo. O incêndio ocorrido na Boa-
te Kiss, na cidade de Santa Maria, em 2013, que matou
242 pessoas e feriu outras 680, foi um caso de reação ao
fogo: o material usado no teto para isolamento acústico
era inflamável e sua combustão liberou enorme quanti-
dade de fumaça tóxica. Para evitar essa modalidade de
FÁBIO LUÍS PEDROSO