Revista Concreto & Construções - edição 92 - page 41

CONCRETO & Construções | Ed. 92 | Out – Dez • 2018 | 41
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A concentração crítica é o parâmetro definido como a
quantidade de cloretos necessária na região que circunda o
aço na estrutura para despassivá-lo ou, em termos práticos,
para iniciar o processo de corrosão e provocar a deterioração
visível da estrutura de concreto.
Na avaliação do Prof. Pedro Castro, o principal problema
com esses modelos é assumir que existe uma constante de
difusão do cloreto na estrutura de concreto. “O comporta-
mento de difusão dos cloretos no concreto é um processo
de transporte mais complexo do que o descrito pela Lei de
Fick”, concluiu.
Segundo o pesquisador, vários estudos têm revelado que
o coeficiente de difusão dos cloretos no concreto varia em
decorrência do tipo de concreto e do meio ambiente (mi-
croclima) no qual está inserida a estrutura. Concretos com
diferentes relações água/cimento e com diferentes tipos de
cimentos apresentam diferentes taxas de difusão dos clore-
tos em seu interior. Já, estruturas de concreto situadas em
ambientes com distintas temperaturas e umidades relativas
do ar apresentam também coeficientes distintos de difusão
de cloretos. “Por um lado, a maior relação água/cimento na
dosagem do concreto implica uma maior porosidade do con-
creto, que facilita o ingresso de cloretos. Por outro, a maior
temperatura do ambiente leva a uma maior mobilidade de
cloretos pela estrutura de concreto”, exemplificou.
Outros fatores que influenciam nos modelos de predição
são as diferentes zonas de exposição das estruturas (diferen-
tes alturas das estruturas numa obra em relação ao nível da
água salina) e a distância da obra em relação ao mar. Em ra-
zão disso, além da zona de difusão dos cloretos, os modelos
matemáticos têm assumido também a zona de convecção,
que leva em conta esse mecanismo no transporte dos clore-
tos na superfície da peça de concreto, o que define a região
que sofre seu efeito. Conjugando-se essas duas zonas, os
pesquisadores conseguiram chegar a modelos de predição
da difusão de cloretos em estruturas de concreto cujos re-
sultados são muito próximos daqueles medidos em campo.
O recado final do Prof. Pedro Castro aos quase 400 con-
gressistas que assistiram a sua palestra foi o da necessidade
de construção de um atlas que considere o estágio das pes-
quisas e pondere por regiões os materiais comumente usa-
dos na dosagem do concreto e as circunstâncias ambientais
típicas a que são expostas as estruturas de concreto. Dessa
forma será possível estipular para cada região do atlas os mo-
delos conceituais e matemáticos mais apropriados para prever
o comportamento da difusão dos cloretos no concreto.
DESCOBERTAS CIENTÍFICAS LEVAM A NOVO MODELO
NANOESTRUTURAL DAS REAÇÕES NO CIMENTO
Tão importante quanto prever quando uma estrutura po-
derá estar sujeita a manifestações patológicas causadas pela
penetração de cloretos ou de outros agentes agressivos do
meio, é prevenir o ingresso e inibir a ação desses agentes
agressivos. Uma medida preventiva que tem se mostrado efi-
caz tem sido usar adições minerais ou cimentos produzidos
com essas adições, como as cinzas volantes, as escórias de
alto forno, entre outras, tecnicamente conhecidas como mate-
riais cimentícios suplementares, por suas reações secundárias
de hidratação, ou seja, reações com os produtos hidratados
do cimento.
Tratar da natureza da principal fase aglomerante do con-
creto e como ela é afetada pelos materiais cimentícios suple-
mentares foi o tema da palestra do pesquisador da Univer-
sidade de Leeds, na Inglaterra, Ian Richardson, no 60º CBC.
O cimento Portland anidro é formado basicamente por
silicatos tricálcicos, silicatos dicálcicos, aluminatos tricálcicos
e aluminatos ferrosos de cálcio, nas composições de 40%
a 60%, 10% a 25%, 10% a 15% e 10% a 15%, respectiva-
mente. Essas espécies químicas originam, na presença de
água, por meio de reações de hidratação, silicatos de cálcio
hidratados (C-S-H), cálcios hidratados (CS) e hidratos de alu-
minatos de cálcio ferrosos e sulfurosos. Dentre esses pro-
dutos hidratados, os silicatos tricálcicos são a fase principal
aglomerante, possuindo composição química, morfologia e
nanoestrutura variáveis.
Prof. Pedro Castro em momento de sua palestra
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