Revista Concreto & Construções - edição 92 - page 48

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60º CBC
desses ensaios foram comparados entre si e em relação
ao elemento de referência, sem revestimento. Além de
confirmarem os dados da literatura sobre revestimentos
de argamassa com eficiência equivalente ao concreto,
mostraram que o cobrimento de 1,5 cm de espessura foi
capaz de fazer a temperatura na armadura não ultrapas-
sar os 600°C.
As vantagens e desvantagens dos tipos de proteção
passiva das estruturas, como a tinta intumescente e a
argamassa projetada, foram apresentadas pelo presiden-
te da Associação Brasileira de Proteção Passiva (ABPP),
Eng. Rogério Lin, que assinou com o IBRACON um termo
de cooperação técnica para a disseminação de conheci-
mento e informações sobre o assunto.
RAZÕES PARA O COLAPSO DO WILTON PAES
DE ALMEIDA
Por fim, coube ao Prof. Paulo Helene conjecturar so-
bre as prováveis causas do colapso do edifício Wilton
Paes de Almeida, em razão de seu incêndio.
Se, por norma, as estruturas de concreto em situa-
ção de incêndio devem manter sua estabilidade, estan-
queidade e isolamento térmico durante, pelo menos, 90
minutos, para garantir a evacuação do prédio por seus
moradores, por que isto não aconteceu no Wilton Paes
de Almeida, que desabou 80 minutos após seu incêndio?
Como apresentado anteriormente a especificação
do TRRF de 90 minutos se deu em norma publicada em
2001, mais de quarenta anos após a construção do Wil-
ton Paes de Almeida, sendo ainda que tal especificação
refere-se ao tempo obtido em ensaio de laboratório, em
condições controladas, de uma estrutura de concreto ar-
mado, não ao tempo real que um edifício, sob incêndio
descontrolado e com dinâmica complexa, deve manter
suas características de segurança.
As análises experimentais e teóricas feitas pela equi-
pe coordenada por Helene, por conta do termo firmado
entre o IBRACON e a Prefeitura de São Paulo, apontaram
que as temperaturas no prédio devem ter sido inferiores
a 600°C e que a espessura calcinada não passou de um
centímetro, não atingindo, assim, as armaduras de aço.
Esses dados descartam as hipóteses de que as armadu-
ras das estruturas perderam sua resistência.
Outros resultados dessas análises apontaram, segun-
do projeto estrutural hipotético, já que o projeto original
não foi localizado pela equipe técnica do IBRACON, que
os pilares foram bem dimensionados conforme a norma
brasileira para dimensionamento de concreto vigente à
época da construção, que a resistência do concreto era
de 15 MPa e seu módulo de elasticidade dinâmico era de
27 GPa, sendo a profundidade de carbonatação no pilar
analisado de apenas 3 cm. Essas observações afastam
quaisquer hipóteses relacionadas a problemas no projeto
estrutural e na sua execução.
A conclusão da equipe, baseada em simulações dos
deslocamentos últimos na edificação em função das va-
riações térmicas nos seus elementos estruturais, foi de
que essas variações de temperatura nos pilares da caixa
do elevador devem ter provocado o aumento em mais de
dez vezes dos momentos nesses pilares, em relação aos
momentos resultantes das cargas verticais, o que levou
ao rompimento do poço do elevador, provocando a ruína
do prédio.
Para o Prof. Helene, a maior lição que os engenheiros
devem tirar do colapso do Wilton Paes de Almeida é que
“não devemos desprezar ou minimizar a ação do fogo
nas estruturas de concreto”. No final de sua palestra,
ele deixou as recomendações de que os projetos devem
sempre buscar estar em consonância com as normas
técnicas vigentes e devem pecar pela redundância e pela
robustez, além de fazerem uso dos sistemas de proteção
ativa e passiva disponíveis.
“Projetar estruturas é complexo e requer estar muito
bem preparado, em especial projetar estruturas não si-
métricas e arrojadas requer análise abrangente, sistêmica
e holística levando em conta todas as possibilidades de
esforços atuantes”, finalizou Helene.
Eng. Rogério Lin apresentando a certificação de produtos para
proteção passiva
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