Revista Concreto & Construções - edição 81 - page 90

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u
pesquisa e desenvolvimento
Pavimento de concreto
com armadura contínua: o
experimento USP e parceiros
1. INTRODUÇÃO
D
iversas rodovias cons-
truídas nas duas últimas
décadas no Brasil, com
solução em pavimento de concreto
simples, vem apresentando desem-
penho insatisfatório, induzido por
aspectos de projeto em várias nu-
ances (tal como método de dimen-
sionamento inadequado), bem como
por falhas construtivas, estas em sua
maior parte relacionadas às juntas de
contração exigidas por esse tipo de
solução. Esse estado de coisas tem
origem em diversas fases do proces-
so que até hoje parecem serem mal
compreendidas pelos vários agentes
envolvidos. Não querendo nos furtar
aqui de esclarecimentos sobre essas
sérias questões, a questão da pavi-
mentação em concreto com elimina-
ção de juntas de contração em pla-
cas parece ser o aspecto mais crucial
para a reflexão de uma tecnologia
alternativa. Este artigo discute a con-
cepção do projeto de pavimento de
concreto continuamente armado (ou
com armadura contínua), as parcerias
estabelecidas para a pesquisa e os
aspectos executivos da pista experi-
mental construída em janeiro de 2016
no campus da Universidade de São
Paulo, na capital.
2. ENTENDIMENTO DO PRINCÍPIO
DE FORMAÇÃO DE JUNTAS DE
CONTRAÇÃO E SEUS
PROBLEMAS TÍPICOS
Os pavimentos de concreto simples
são moldados
in loco
para a constru-
ção de rodovias, corredores de ônibus,
pistas e pátios aeroportuários, portos,
pisos industriais, estacionamentos,
dentre outras aplicações. É reconheci-
damente uma solução de pavimenta-
ção de grande durabilidade especial-
mente para suportar o tráfego pesado.
Sua durabilidade é indiscutível, desde
que a obra seja resultado de um projeto
consciente e amadurecido, que envolva
os aspectos mecânicos que permeiam
o comportamento dessas placas com
juntas e barras de transferência, consi-
deradas aí as respostas às cargas am-
bientais e do tráfego. Infelizmente esse
quadro se aplica muito bem à Alema-
nha, por exemplo, e não tem sido re-
trato das obras rodoviárias brasileiras.
Outra exigência para se alcançar
essa durabilidade, que deve ser conside-
rado como o aspecto mais crítico simul-
taneamente com o processo de fadiga
do concreto, são as juntas de indução
de fissuras de retração, denominadas
simplesmente por juntas de contração.
Os engenheiros devem entender que
essa propriedade do concreto na fase
de seu endurecimento (retração de se-
cagem) é muito crítica para grandes áre-
as e volumes expostos ao clima durante
sua construção; e que não há maneira
de controlar a ocorrência de tal fenô-
meno, embora esse possa ser mitigado
com diversas tecnologias disponíveis,
da mais simples às mais rebuscadas em
aspectos de química tecnológica.
A serragem de juntas nos pavimen-
tos de concreto simples (PCS) constitui
a técnica cabal para controle das fissu-
ras de retração. Em geral, com um ser-
viço esmerado e consciente do ponto
de vista de engenharia, o que requer
controle de qualidade do processo de
modo constante pelos engenheiros e
encarregados de obras, essas juntas
são eficientes. É possível, todavia, que
ao longo de anos, possam paulatina-
mente causar desconforto ao rolamento
de veículos, caso ocorram escalona-
mentos ou degraus nelas. A ausência de
esclarecimento sobre a questão entre os
atores das obras, que em geral não re-
cebem treinamento e certificação, sem
eximir de responsabilidade os engenhei-
ros responsáveis, tem gerado mazelas
que se repetem em obras de pavimen-
tação rodoviária do “Oiapoque ao Chuí”.
As causas mais comuns para fa-
lhas na construção dessas juntas, que
resultam na ocorrência da fissura de
JOSÉ TADEU BALBO
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