72 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018
Apesar de esses mecanismos funcio-
narem de forma independente, a pre-
ponderância de cada um é discutível e
alguns autores defendem que a ação
combinada desses dois mecanismos é
a forma mais comum de ocorrência do
fenômeno (Figura 1).
A ocorrência do fenômeno do des-
placamento pode se dar de diversas
formas e geralmente é dividido em seis
categorias: desplacamento de agrega-
do; desplacamento de aresta; despla-
camento de superfície; desplacamento
explosivo; desplacamento por delami-
nação; e desplacamento pós-resfria-
mento. Cada uma dessas formas pode
apresentar diferentes características e
fatores de influência e o fato de estarem
inter-relacionados aumenta a complexi-
dade na definição dos parâmetros para
predição de sua ocorrência. Os princi-
pais fatores estão relacionados com a
composição do concreto, característi-
cas do elemento estrutural e sua forma
de exposição. Destaca-se a resistência
e a idade do concreto, o tipo e tama-
nho dos agregados, teor de umidade e
permeabilidade do material, tempera-
tura máxima e a taxa de aquecimento,
forma e tamanho da seção transversal,
configuração das armaduras, presença
de fibras e a forma e a intensidade de
carregamento do elemento estrutural.
A descoberta do
spalling
não é re-
cente e entrou em maior evidência de-
vido a incêndios ocorridos em túneis
na década de 1990, principalmente no
Great Belt Tunnel
(1994), no
Channel
Tunnel
(1996) e no
Mont Blanc Tunnel
(1999). No entanto, a compreensão to-
tal dos parâmetros que desencadeiam
o fenômeno ainda é uma lacuna na
área, visto a natureza estocástica do
problema. No Brasil, o tema também
tem despertado interesse e discussão
entre pesquisadores em diversas uni-
versidades e centros de pesquisa. Vi-
sando contribuir para esta demanda,
criou-se em 2015 um núcleo de pes-
quisa sobre o tema no itt Performance
– Instituto Tecnológico em Desempe-
nho e Construção Civil da Unisinos. O
presente artigo apresenta resultados
experimentais obtidos no âmbito deste
projeto, onde foi estudado o compor-
tamento de elementos estruturais em
escala real (pilares e painéis pré-fabri-
cados) submetidos a ensaios de resis-
tência ao fogo.
2. ESTUDOS EXPERIMENTAIS
Considera-se que, mesmo após
décadas de pesquisas, ainda não foi
possível compreender com precisão a
relação entre os fatores que ocasionam
o desplacamento, o que limita o de-
senvolvimento de modelos de previsão
fidedignos quanto ao comportamento
das estruturas de concreto em situação
de incêndio. Por estar atrelado a vários
fatores, muitos deles combinados entre
si, os resultados de estudos têm levado
a divergências entre os pesquisadores
acerca da caracterização dos parâme-
tros que são indutores do fenômeno
do desplacamento.
A maior parte desses estudos tem
sido realizada em muflas elétricas, em
corpos de prova de concreto sem ne-
nhum tipo de reforço, expostos a ta-
xas de aquecimento constantes. Uma
das principais limitações deste tipo de
u
Figura 1
Mecanismos de desenvolvimento do fenômeno de desplacamento
Fonte:
Klingsch (2014, p. 31)