CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 65
é exposto ao calor já está bem con-
solidado no meio técnico. Pesquisas
precursoras já alertam que os concre-
tos sofrem altos gradientes térmicos
quando expostos ao fogo e há uma
forte tendência das camadas quentes
da superfície se separarem das cama-
das mais frias do interior do elemento
por desplacamento (
spalling
). No en-
tanto, esse mecanismo de falha por
desplacamento explosivo, no caso do
concreto de alta resistência, não deve
ser equivocadamente generalizado no
meio técnico, pois depende de alguns
fatores intrínsecos, principalmente re-
lacionados ao programa experimental
e às amostras envolvidas nas pesqui-
sas. Quando em elevadas temperatu-
ras, a anisotropia e a heterogeneidade
do material concreto se tornam cada
vez mais evidentes e, em elementos
estruturais do tipo pilar, por exemplo,
o comportamento não pode ser con-
siderado uniforme para toda seção
transversal. Na realidade somente
poucos centímetros do concreto ex-
posto diretamente ao fogo sofre com
as elevadas temperaturas
4
.
2. RELEVÂNCIA DA PESQUISA
Ressalta-se como interessante
neste artigo a diversidade de ensaios
residuais procedidos no pilar protóti-
po pós-simulação de incêndio, bem
como outras características intrínse-
cas à própria amostra, como a idade
avançada do concreto envelhecido
naturalmente ao ambiente agressivo
local (8 anos) e a natureza litológica
do agregado graúdo (basalto). Além
disso, este artigo também discute a
importante contribuição da pigmenta-
ção inorgânica do concreto, com uso
de óxido de ferro (Fe
2
O
3
), como recur-
so útil na interpretação dos resultados
obtidos na avaliação do concreto após
incêndio, através da mudança de cor
do concreto colorido (pigmentado).
3. RESUMO DO PROGRAMA
EXPERIMENTAL
As informações detalhadas do
programa experimental e da amostra
(pilar protótipo) submetida ao experi-
mento de simulação de incêndio es-
tão contidas na primeira parte desse
artigo
1
, que trata das avaliações pre-
liminares. Em resumo, o programa
experimental foi realizado no forno do
Laboratório de Segurança ao Fogo e
a Explosões do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT) do Estado de São
Paulo, o qual possui um forno com di-
mensões compatíveis com o progra-
ma térmico planejado. Na oportunida-
de, foi estabelecido que o tempo de
exposição ao fogo do pilar protótipo
seria de 180min (3h), com ensaio de
simulação de incêndio caracterizada
pela curva padrão de aquecimento
ISO 834. O pilar protótipo foi ensaia-
do sem carregamento e com exposi-
ção de três faces ao fogo, o que pro-
piciou que uma das faces (onde os
termopares estavam instalados) per-
manecesse de livre acesso durante a
simulação de incêndio.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
(PROPRIEDADE RESIDUAIS)
4.1 Indicador colorimétrico
(pigmentação inorgânica
com uso de óxido de ferro)
Devido ao uso de pigmentação inor-
gânica à base de óxido de ferro sinté-
tico (Fe
2
O
3
), incorporada na dosagem
do concreto colorido de alta resistência
(4% em relação à massa de cimento),
foi possível avaliar mudanças de colo-
ração ao longo (no interior) da seção
transversal e na superfície do pilar pós-
-simulação de incêndio. Constatou-se
que aproximadamente 55mm de pro-
fundidade da amostra apresentou colo-
ração mais escura (ou negra), no meio
das faces, e que também essa alteração
de cor não foi tão evidente na superfície
do pilar e na profundidade das arestas,
onde a coloração se apresentou menos
escura e somente um pouco “desbota-
da” (tipo alaranjada). Com base nesses
indicadores observados, procedeu-se
com diversas extrações de amostras, a
fim de verificar a correlação da cor com
as diferentes temperaturas obtidas no
interior do elemento e as prováveis va-
riações nas propriedades mecânicas,
u
Figura 2
Índice colorimétrico promovido no interior do pilar devido à
transformação química de redução, ocorrida com o calor, do óxido de
ferro (Fe O ): escura no interior do centro das faces e alaranjada na
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superfície das faces e profundidade das arestas