CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 81
Como isso acontece simultaneamen-
te, as conexões neuronais das mãos
se localizam nos campos mais novos
do cérebro, responsáveis pelo raciocí-
nio analítico – que avançava também
nesta etapa. Assim sendo, a mão e a
inteligência estão fisicamente conecta-
das. Dizendo de outra forma, há uma
inteligência da mão. Vejamos o que di-
zem autores acima de qualquer suspeita:
u
“Por ter mãos, o homem é o mais
inteligente dos animais”
(Anaxágoras)
u
“O que temos que aprender,
aprendemos fazendo”
(Aristóteles)
u
“A mão é a janela da mente”
(Kant)
u
“A Inteligência da mão existe”
(Charles Bell)
u
“Fazer coisas e fazê-las melhores
está na essência da humanidade”
(Piaget)
u
“Quando a mão e a cabeça se se-
param, o resultado é uma disfun-
ção mental”
(R. Sennet)
Se aprendemos com as mãos,
uma profissão cujo
leit motiv
é fazer
não deveria jamais perder a ajuda das
mãos ao ser estudada. Como diz uma
corporação de ofício francesa: “O
conhecimento mora na cabeça, mas
entra pelas mãos”. Ao construir o que
quer que seja, as mãos aprendem e
ensinam para o cérebro.
Com esses comentários, passa-
mos a examinar os equívocos da di-
dática predominante nos cursos de
Engenharia – que aliás, neste particu-
lar, não é muito diferente das outras
carreiras. Em seguida, falamos de sua
evolução recente.
4. ERROS E ACERTOS
NA SALA DE AULA
O ensino de Engenharia compar-
tilha com quase todos os outros cur-
sos os mesmos problemas de uma
pedagogia velha e equivocada. Mas
isso não é um grande consolo.
Apenas ouvir o professor jamais foi
uma boa maneira de aprender. Tam-
pouco é encher o quadro negro e obri-
gar os estudantes a copiar e memo-
rizar o que lá está. Ensinar assuntos
cuja utilidade os alunos não percebem
é uma péssima ideia. Entupir os alunos
com mais matéria do que conseguem
digerir é outro erro contumaz, pois se
não dá tempo para entender, o jeito
é decorar. Ouvir falar de tudo e não
aprender nada em profundidade é o
resultado dessa pedagogia.
Como na Medicina, a didática da
Engenharia deveria ser mais do que
óbvia. Uma profissão em que se fa-
zem coisas só pode se aprender fa-
zendo. Mas nos cursos não se pra-
tica, apenas se ouve falar de prática.
Lembremo-nos, tecnologia se apren-
de fazendo e não vendo a foto da má-
quina no livro.
Esses são os problemas, sérios
e muito bem conhecidos. De fato, a
educação acontece na sala de aula e
sem uma aula eficaz não há salvação.
O lado bom é que conhecemos tam-
bém os caminhos certos.
A primeira lição importante é que
só se aprende quando se aplica. O
professor dá uma aula brilhante. O
aluno fica admirado e acredita que
aprendeu. Mas se for proposta uma
aplicação, verá que não havia apren-
dido. Tem então que lutar bravamen-
te com o assunto novo, até conseguir
entender. Mas na volúpia dos currícu-
los frondosos e exagerados, raramen-
te se aplica o ensinado. Fica então o
aluno na ilusão de que sabe, talvez
quebrada no dia da prova – se esta
pedir aplicação. Se isso não aconte-
cer, é na obra ou na fábrica que vai
tomar conhecimento das profundezas
da sua ignorância.
É preciso entender claramente o
que é aplicação. Se a resposta está
no livro ou foi mencionada pelo pro-
fessor, não é aplicação, mas um mero
exercício de memória. Aplicar é ser
capaz de resolver um problema que
não foi proposto, que não é o mesmo
da aula. No fundo, é testar a portabili-
dade do conhecimento.
Em uma área aplicada como a En-
genharia, a prática não é simplesmen-
te aplicar mecanicamente números
a um algoritmo. A teoria não explica
tudo, não prevê tudo. É necessário