Revista Concreto & Construções - edição 89 - page 80

80 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018
Curiosamente, a
Polytechnique
foi
a fonte de inspiração para uma radical
mudança de rumo do ensino america-
no. Não deve ser coincidência, mas
a
École Polytechnique
é uma escola
militar e a americana que primeiro a
copiou foi
West Point
, que além de
ensinar Engenharia, é a academia mi-
litar do Exército Americano. O modelo
foi progressivamente adotado pelas
demais escolas de engenharia que se
formavam ou se transformavam.
Sua escola de engenharia combi-
nou a “overdose” de teoria francesa
com a sólida índole prática de tudo
que se faz naquele país. Ademais,
manteve no currículo um substancial
conteúdo de Humanidades – inexis-
tentes na tradição francesa das esco-
las puramente profissionais.
Aparte esse casos polares, o mun-
do tendeu para soluções paralelas.
Na Alemanha, forma-se o Ingenieur,
mais teórico, em paralelo aos técni-
cos formados nas
Fachhochschu-
len
. Com as variantes esperadas, o
modelo duplo se reproduziu em boa
parte do mundo. Na própria França,
em contraponto à Engenharia teóri-
ca da
Polytechnique
, foram criados
os
Institutes Universitaires de Tech-
nologie (IUT)
, versões mais práticas
da Engenharia.
2. COMO O BRASIL CRIOU
A SUA ENGENHARIA
Em grande medida, até a metade
do século XX, nossa Educação se ins-
pirou na França. Dada a forte influên-
cia cultural deste país, optamos por
copiar a
École Polytechnique
. Assim
sendo, há muita Matemática e mui-
ta teoria. Mas como as cópias ten-
dem agravar as fraquezas do copia-
do, temos pouco laboratório e ainda
menos prática.
Note-se, mesmo na França, trata-
-se de um modelo elitista, voltado
para os poucos candidatos de exce-
lente preparação, o que não é mais
o caso entre nós. De fato, sendo um
modelo único para todos, chegam
às nossas engenharias alunos sem
a base científica e de Matemática
requerida.
Mas, o que é pior: não temos a
solução dupla da França e Alemanha.
O tecnólogo deveria cumprir esse pa-
pel. Mas nem em quantidade e nem
em qualidade consegue dar conta
do recado.
Pensemos na construção civil. O
nosso peão é tão analfabeto quan-
to o argelino que carrega tijolos na
obra francesa. Mas acima dele há um
francês com um
Certificat d’Aptitude
Professionel
(equivalente ao SENAI).
No patamar seguinte está o graduado
de um
Lycée Technique
(equivalente
ao nosso técnico). Ainda mais alto
está o graduado da IUT. E no topo, o
soberbo “
polytechnicien
”. Ou seja, há
gente com o perfil requerido em todos
os níveis da hierarquia da obra.
Dentre nós, acima do peão há o
encarregado, um ex-peão, cuja for-
mação é improvisada e cheia de limi-
tações. Não há técnicos e nem tec-
nólogos, pois seu número é ínfimo.
E mandando em todo mundo, está
um engenheiro que quase nada sabe
dos processos sob a sua supervisão.
Ou seja, há um vácuo profissional en-
tre o peão e o nosso “
polytechnicien
”.
O resultado bem conhecemos, um
deles sendo a perda de 30% de ma-
teriais na obra. Poucos discordam de
que estamos diante de um modelo
amplamente disfuncional. Em outros
ramos da Engenharia, os proble-
mas podem ser menores, mas não
estão ausentes.
3. A INTELIGÊNCIA DAS
MÃOS E A ENGENHARIA
Na transformação para
Homo sa-
piens
, deixando de ser um primata
irrelevante, duas mudanças chamam
a atenção. A primeira é o polegar,
que cresce, tornando a mão uma fer-
ramenta muito mais versátil e pode-
rosa. A segunda é o cérebro, que se
desenvolve, passando de 300 para
1300 gramas. Mas essas não são
evoluções independentes. O cérebro
cresce para permitir à mão façanhas
antes impossíveis. E a mão estimu-
la o cérebro a crescer, por abrir as
portas para manipulações cada vez
mais ambiciosas.
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