Revista Concreto & Construções - edição 83 - page 32

32 | CONCRETO & Construções
de outras fontes intrínsecas ao concre-
to, como os aditivos e as adições, ou
mesmo os próprios agregados que con-
tenham um alto teor desses íons; além
dessas fontes, os álcalis também po-
dem ser oriundos do ambiente no qual a
estrutura está inserida. Por essa razão,
atualmente um parâmetro mais aceito é
o teor total de álcalis ativos do concre-
to, fornecidos por todos os seus mate-
riais constituintes. Assim, a ABNT NBR
15577-1: 2008 limita o teor de álcalis
do concreto a valores menores do que
3,0 kg/m
3
e 2,4 kg/m
3
, respectivamente
para as intensidades de ação preventiva
mínima e moderada.
A umidade tem uma ação funda-
mental no desenvolvimento da RAS.
O primeiro papel da água é ionizar e
transportar íons alcalinos e hidroxila
ao longo da porosidade da matriz para
reagirem com o agregado, produzindo
um gel sílico-alcalino ou cálcio-sílico-
-alcalino. O segundo papel é propiciar a
expansão do concreto devida à adsor-
ção de água pelo gel. Por esta razão,
de forma geral, considera-se que a re-
ação não pode danificar o concreto se
a umidade relativa média do ambiente
não for superior a 80%-85%.
A temperatura é um fator importan-
te de ser considerado na RAS por pos-
suir um efeito cinético no fenômeno.
A elevação da temperatura acelera o
início e também a velocidade inicial da
expansão e, consequentemente, as ex-
pansões e a deterioração da estrutura.
As tensões confinantes, bem como
a presença de armaduras passivas ou
ativas no concreto, tendem a limitar o
fenômeno ou até mesmo suprimir a livre
expansão do concreto, tendo uma influ-
ência benéfica sobre a reação. Por esta
razão, os danos nas estruturas reais
tendem a ser menos pronunciados do
que os danos no concreto de corpos de
prova de laboratório atacados pela RAS.
A porosidade do concreto, função
da relação água/ligante e dos seus ma-
teriais constituintes, também influen-
cia a RAS. No entanto, não existe um
consenso de como é esta influência. Se
houver uma baixa porosidade, esta ten-
de a dificultar o transporte dos reagen-
tes até os agregados, mas, uma vez
iniciada a reação, mais rápidas e mais
acentuadas serão as expansões devi-
das à limitação de espaço para acomo-
dação do gel formado. Por outro lado,
um concreto com alta porosidade dis-
põe de maior espaço físico para arma-
zenamento de água intersticial, tendo
assim maior quantidade de reagentes
para propiciar o fenômeno, porém, em
função desse maior espaço, há melho-
res condições para o armazenamento
do gel formado antes que se atinja um
estágio crítico de tensões que leve o
concreto a iniciar um processo de ex-
pansão (evoluindo para a fissuração).
3. MODELOS PREDITIVOS DE
DANO GERADO PELA RAA
Nas últimas décadas, a comunidade
científica tem se dedicado ao desenvol-
vimento de modelos de previsão de vida
útil e de previsão de danos de estruturas
de concreto, dentre eles os relacionados
à RAS. Atualmente, na literatura, já exis-
tem disponíveis vários modelos, que se
diferenciam quanto à sua concepção,
dados de entrada, escala de aborda-
gem, natureza, etc. A seguir, são tecidas
considerações que visam esclarecer al-
guns aspectos conceituais importantes
e de aplicação dos modelos.
3.1 Considerações gerais sobre
os modelos
Um modelo pode ser definido, de
forma geral, como a representação de
um sistema real em determinada forma
de linguagem, geralmente a linguagem
matemática. Modelos matemáticos são
descrições construídas em linguagem
matemática, mediante simplificações
do sistema, sendo representados por
componentes, variáveis, parâmetros e
relações funcionais.
Os modelos para previsão de vida
útil e de danos podem ser desde os
mais simples, chamados de modelos
empíricos, passando pelos modelos
analíticos (ou semianalíticos), chegan-
do nos mais complexos, os modelos
numéricos.
Os modelos empíricos não se ba-
seiam em dados físicos e, portanto,
existe a necessidade de que sejam
calibrados para os fins de predição
do comportamento futuro da estrutu-
ra, tendo, em geral, um interesse limi-
tado no campo preditivo. Os modelos
analíticos consideram como dados de
entrada, de maneira direta ou indireta,
indicadores de desempenho quanto à
durabilidade físico-química, como a po-
rosidade, a permeabilidade, o estado
hídrico, etc. Eles apresentam a vanta-
gem da simplicidade e da boa repre-
sentatividade global dos fenômenos,
porém, não são capazes de represen-
tar de modo detalhado as reações.
Os modelos numéricos propõem-
-se a descrever detalhadamente a físi-
ca dos fenômenos, levando em conta,
principalmente, os mecanismos de
transporte em meio poroso não satu-
rado, os equilíbrios químicos, as cinéti-
cas das reações e as modificações de
porosidade do material. Consequente-
mente, o grau de complexidade envol-
vido requer a implantação de métodos
numéricos, devido ao grande esforço
de cálculo. Na sequência deste item,
será dada ênfase aos modelos numé-
ricos aplicáveis à RAS.
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