Revista Concreto & Construções - edição 83 - page 23

CONCRETO & Construções | 23
álcali-silicato, ao invés da reação
álcali-sílica, uma novidade no Brasil.
Para inibir a reação expansiva
adicionou-se ao concreto 15% de
cinza volante.
Por essas razões me interessei
pela RAA como tema para meu
mestrado, cuja parte prática foi sobre a
experiência que tive em Salto Osório, os
cuidados tomados em sua construção.
Ainda nesta época tínhamos pouco
conhecimento da RAA, principalmente
sobre os casos de reação álcali-
silicato. Nosso conhecimento avançou
com os estudos na barragem de
Moxotó. O relatório técnico da
Promon sobre a causa da fissuração
de Moxotó tinha três partes. Na
primeira parte verificou-se se a
vibração das máquinas podia ser a
causa da fissuração. Na segunda
parte foi verificado se havia algum
problema com a fundação. A terceira
parte, sob minha responsabilidade,
associou a fissuração à reação
álcali-agregado. A Promon resolveu
tirar do relatório final a minha parte,
alegando que, por eu ter feito minha
dissertação de mestrado sobre a
RAA, via a reação até onde ela não
estava presente. Um dia recebo um
telefonema do presidente da Chesf na
época, respaldando minhas opiniões
sobre o problema em Moxotó, porque
a RAA era a única causa que havia
sobrado nos estudos. Recomendei
que fossem feitos ensaios no Canadá,
com o Richard Mielenz, maior
autoridade
no assunto
na época.
Aproveitei o
fato de ter
sido retirado
um cilindro de
concreto de
toda a altura da
barragem, para
a colocação do
pêndulo, para
extrair uma
quantidade
grande de
corpos de prova, de cotas diferentes
da barragem. O relatório do Mielenz
sobre os ensaios constatou que
a reação álcali-agregado estava
presente das fundações até o topo
da barragem. Ela era muito forte
embaixo, próximo às fundações, e
diminuía de intensidade à medida
que se subia, por causa da menor
umidade. Mas havia RAA em toda
a barragem. Quando o Mielenz veio
ao Brasil para examinar de perto
a barragem, o Simão Priszkulnik
mostrou-lhe os corpos de prova
das barragens de Paulo Afonso e
seu parecer foi que havia também
a reação álcali-silicato em Paulo
Afonso. Em Moxotó a situação
era crítica. A barragem era quase
estrutural, construída com 350
kg de cimento por metro cúbico.
Hoje usa-se 70 kg de cimento
por metro cúbico. Em Água
Vermelha, foram usados 150. Quer
dizer: quanto mais cimento, mais
reação! Além disso, a estrutura
de Moxotó era muito delicada,
com as máquinas praticamente
penduradas no concreto. Por isso,
qualquer alteração do concreto
estrutural afetava as máquinas. A
solução para recuperá-la foi fazer
cortes no concreto, de cerca de 15
centímetros cada, que possibilitaram
a expansão do concreto sem afetar
a estrutura. Não tive contato com a
barragem depois dessa intervenção,
mas, acredito, que as suas quatro
máquinas estão ainda em pleno
funcionamento.
IBRACON
– P
assados
mais
de
setenta
anos
após
sua
descoberta
por
S
tanton
,
hoje
a
RAA
é
bem
conhecida
em
termos
dos
mecanismos
e
fatores
envolvidos
na
reação
,
dos
tipos
de
obras
mais
suscetíveis
a
ela
Microfissuras na borda de agregado e argamassa.
Aumento 10x
UM DIA RECEBO UM TELEFONEMA DO PRESIDENTE
DA CHESF NA ÉPOCA, RESPALDANDO MINHAS OPINIÕES
SOBRE O PROBLEMA EM MOXOTÓ, PORQUE A RAA ERA
A ÚNICA CAUSA QUE HAVIA SOBRADO NOS ESTUDOS
CRÉDITO: ACERVO ABCP
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