Revista Concreto & Construções - edição 83 - page 21

CONCRETO & Construções | 21
VERIFIQUEI QUE O PROJETO [CAIC] ERA ÚNICO
PARA TODO O BRASIL, O QUE RESULTAVA EM
PROBLEMAS CONSTRUTIVOS POR CAUSA DAS
DIFERENÇAS DE CLIMA ENTRE AS REGIÕES
IBRACON
– V
ocê
poderia
discorrer
sobre
os motivos
e
circunstâncias
que
o
levaram
a
se
formar
engenheiro
civil
e
a
se
especializar
em
consultoria
de
obras
de
barragens
e
outras
obras
de
grande
porte
.
V
ladimir
A
ntonio
P
aulon
– Eu não
conhecia outras profissões em minha
época de ingressar na faculdade a
não ser engenharia civil, medicina
e advocacia, áreas mais fortes na
graduação em Porto Alegre. Acabei
optando pela engenharia civil porque
meu irmão, bem mais velho do que
eu, era engenheiro civil. Eu já tinha
naquela época o hábito de visitar seu
escritório e ajudar nos desenhos de
arquitetura. Por isso, fui praticamente
direcionado para a profissão.
Ao me formar pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, em
1963, fui trabalhar num escritório de
engenharia em Paris como desenhista
de arquitetura. Em seguida, ganhei
uma bolsa do governo francês para
estudar concreto protendido. Por ter
gostado das aulas do Prof. Robert
L’Hermite, fui trabalhar em pesquisa
no Laboratório do
ITBS (Institute
Technique du Bâtiment et des Travaux
Publics)
em Paris, direcionando-me
para a área de tecnologia do concreto.
Voltei para o Brasil em 1968. Por um
curto período trabalhei no Instituto
Tecnológico do Rio Grande do Sul
(ITERS), como chefe do serviço
de dosagens, e, em 1969, fui
convidado pelo Francisco Basílio,
então presidente da Associação
Brasileira de Cimento Portland
(ABCP), para ser chefe do recém-
inaugurado Laboratório de Concreto,
em São Paulo, onde fiquei por um
ano. Em 1970, na EPT (Engenharia
e Pesquisas Tecnológicas), o Eládio
Petrucci, diretor técnico, encarregou-
me da consultoria para a Barragem
de Salto Osório, no Paraná, projeto
da Copel/Eletrosul. Foi minha grande
sorte: eu não conhecia nada de
barragem, mas tive um tremendo
professor ao meu lado, trabalhando
em Salto Osório durante cinco anos.
Com a morte do Petrucci, fui para
a Promon, em 1975, trabalhar nos
grandes projetos de barragens,
como Itaipu, Água Vermelha, Xingó,
Três Irmãos. A Promon era uma das
cinco grandes projetistas da época,
com projetos fabulosos, não só de
barragens. Fiquei na Promon, como
funcionário, até 1985, passando
em seguida a dar consultoria aos
seus projetos.
IBRACON
– C
omo
consultor
independente
você
participou
do
P
rojeto
CAIC,
do
M
inistério
da
E
ducação
,
que
usou
a
argamassa
armada
para
a
construção
de
escolas
num
volume
inédito
no
país
. O
que
foi
o
projeto
CAIC (C
entro
de
A
tenção
I
ntegral
à
C
riança
e
ao
A
dolescente
),
quais
foram
os
desafios
para
o
engenheiro
consultor
e
por
que
ele
foi
tão
importante
em
sua
carreira
profissional
?
V
ladimir
A
ntonio
P
aulon
– Nos anos
90, como consultor da Promon, fui
para o Rio de Janeiro assessorar o
projeto dos CAICs, projeto do governo
federal para a construção de escolas
pré-moldadas em todo Brasil, nas
quais as crianças permaneciam em
tempo integral, em atividades de
ensino e lazer. O plano inicial era
construir cinco mil escolas até o final
do Governo Collor, tendo sido atingidas
14 fábricas de peças pré-moldadas
de argamassa armada e cerca de 480
escolas espalhadas pelo Brasil. Após
ter construído três CAICs (Brasília, Rio
de Janeiro e Paraná), o arquiteto Lelé
(João Filgueiras Lima), idealizador do
projeto, retirou-se, fazendo críticas à
qualidade das construções. Ao assumir
verifiquei que o projeto era único para
todo o Brasil, o que resultava em
problemas construtivos por causa das
diferenças de clima entre as regiões.
Devido às baixas temperaturas de São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, as peças pré-moldadas
não alcançavam o endurecimento
necessário para a desforma em
poucas horas, exigindo a espera de
até 25 horas, inviabilizando o projeto.
Para as peças despachadas para os
estados abaixo do Rio de Janeiro,
recomendamos a cura térmica das
peças, com o aquecimento da água
do tanque no qual as peças eram
mergulhadas após cinco horas da
moldagem, permanecendo por cinco
dias. Para uma fábrica no Paraná,
fizemos um túnel de cura a vapor
das peças.
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