CONCRETO & Construções | 11
RESISTÊNCIA DO CONCRETO
Q
ual
é
a
justificativa
para
um
resultado
de
ensaio
de
resistência
à
compressão
aos
28
dias
apresentar
um
valor
inferior
ao
resultado
de
7
dias
?
JÉSSIKA PACHECO
E
ngenheira
C
ivil
A variação da resistência dos concretos
convencionais de cimento Portland, não
incluindo, portanto, os concretos de alto
desempenho, ocorre em função do grau
de hidratação do cimento e da forma de
desenvolvimento e embricamento dos
cristais, supondo-se sempre crescente
com o aumento da idade sob condições
adequadas de cura (temperatura adequa-
da, com a necessária quantidade de água
e sem a presença de agentes deletérios).
A dinâmica das reações de hidratação,
supondo-se água de amassamento e
agregados isentos de matéria orgânica
ou outros contaminantes, dependerá da
composição química e da finura do ci-
mento, da relação água/cimento, da tem-
peratura do meio ambiente e da eventual
ação de aditivos plastificantes, acelerado-
res de pega ou endurecimento e outros.
Observe-se inicialmente que há uma va-
riabilidade natural na resistência de cor-
pos de prova produzidos com o mesmo
concreto, em função da aleatoriedade
verificada nos processos de moldagem,
transporte e estocagem dos corpos de
prova. Nessa variabilidade interfere ain-
da o tamanho e a forma do corpo de
prova, seu processo de obtenção (mol-
dagem ou extração), as características e
a forma de execução do ensaio (qualida-
de da prensa de ensaios, regularidade
do acabamento dos corpos de prova,
velocidade de carregamento e outras).
Para concluir-se pela diferença significativa
de resistência entre duas amostras, extra-
ídas ou não do mesmo concreto, há ne-
cessidade de tratamentos estatísticos, que
partem sempre do pressuposto de que a
aleatoriedade anteriormente referida con-
duz a resultados de resistência que obede-
cem a uma distribuição Normal, ou curva
de Gauss, conforme indicado na figura 1.
u
Figura 1
Curva de distribuição normal/
percentuais típicos de resultados
de CPs de concreto em torno
da média
(Adam Neville – Propriedades do
Concreto – 5ª edição)
Ao encontro à sua pergunta, e supondo-
-se que seja muito pequena a diferença
de resistência observada entre CPs en-
saiados aos sete e aos vinte e oito dias,
pode-se supor que:
a) o concreto foi preparado com cimento
de altíssima resistência inicial, fazendo
com que sua resistência potencial fos-
se quase que totalmente desenvolvida
após sete dias do início das reações
de hidratação; ou seja, pode ser que,
na realidade, não existia diferença
estatisticamente significativa entre a
resistência de CPs dos dois grupos
(ensaios aos sete ou aos 28 dias);
b) por coincidência, CPs ensaiados
aos sete dias alojaram-se sempre
próximos à calda da direita da dis-
tribuição Normal anteriormente ilus-
trada, enquanto que CPs ensaiados
aos 28 dias alojaram-se próximos à
calda da esquerda;
c) ocorreram diferenças importantes no
preparo e/ou nos ensaio dos CPs,
com falta de controle de variáveis
importantes, incluindo até mesmo a
mudança de equipamento de ensaio
e/ou do próprio operador / técnico
de laboratório;
d) ocorreram problemas no transporte
dos corpos de prova (choques, vibra-
ção excessiva, ação do calor etc);
e) em função do posicionamento na
prensa, ou acabamento irregular dos
corpos de prova, ocorreram con-
centrações de tensão, resultando
aos 28 dias rupturas ocorridas sob
importante influência de tensões tan-
genciais (e não simples tensões nor-
mais de compressão);
f) foram inadequadas as condições de
cura entre os sete e os 28 dias de ida-
de, podendo, por exemplo, ter ocorri-
do retração considerável do concreto,
com o desenvolvimento de microfis-
suras superficiais e/ou destacamentos
localizados entre a pasta e os agrega-
dos graúdos, com consequente redu-
ção na resistência à compressão do
concreto; temperaturas muito baixas
podem também ter “congelado” os
processos de reação química;
g) caso não sejam verdadeiras as hi-
póteses anteriores, ocorreu alguma
anomalia no interior da massa (início
de reação álcali-agregado, reações
expansivas decorrentes da presen-
ça de sulfatos, presença de algum
agente inibidor da continuidade das
reações de hidratação etc), cujo
diagnóstico requer investigações
bastante aprofundadas.
ENG° ERCIO THOMAZ – PESQUISADOR DO CENTRO
TECNOLÓGICO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO DO IPT
(CETAC) E MEMBRO DO COMITÊ EDITORIAL