Revista Concreto & Construções - edição 83 - page 7

u
editorial
E
sta edição da nossa Revista apresenta como
tema de capa a reação álcali-agregado (RAA).
Nada mais oportuno em vista das ações que o
Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) vem
conduzindo nesse assunto. Aconteceu em julho
passado, em São Paulo, a décima quinta edição da ICAAR-
International Conference on Alkali Aggregate Reaction, rea-
lizada pela Unesp - Ilha Solteira e que teve amplo apoio do
IBRACON. Nessa oportunidade foram discutidas pelos mais
renomados especialistas internacionais questões sobre o
entendimento dos mecanismos da reação, metodologias de
ensaio, medidas de prevenção, diagnóstico e reparo das es-
truturas de concreto, cujos trabalhos mais importantes foram
selecionados para fazer parte desta edição. Assim nossos
leitores são agraciados com o que há de mais atualizado so-
bre esse tema. Mas o que é a RAA? Trata-se de um termo
genérico aplicado a dois tipos distintos de deterioração do
concreto, denominados reação álcali-sílica e reação álcali-
-carbonato. Esta última é de mais rara ocorrência em âmbi-
to mundial e nacional. Já a reação álcali-sílica, como o pró-
prio nome indica, é uma reação entre a sílica amorfa ou mal
cristalizada, e alguns silicatos presentes em certos tipos de
agregados, e os álcalis precipitados presentes nas soluções
dos poros do concreto. Esta reação tem como produto um
gel expansivo e para sua ocorrência há necessidade de três
fatores simultâneos, quais sejam água, fase reativa e álcalis.
A quantidade de gel e as pressões exercidas são muito va-
riáveis, dependendo da temperatura, do tipo e proporções
das fases reativas, da composição do gel, e de outros fa-
tores, mas que podem ser suficientes para induzir o desen-
volvimento e propagação de microfissuras que, por sua vez,
levem à expansão e fissuração generalizada do concreto ou
elemento estrutural afetado.
As feições típicas das manifestações patológicas decorren-
tes da reação álcali-sílica
no concreto incluem fis-
surações, expansão e consequente desalinhamento de ele-
mentos estruturais, pop-outs, presença de gel preenchendo
fissuras ou associados com agregados no interior do concre-
to, formando bordas de reação. Essa reação normalmente
demora entre cinco e doze anos para se desenvolver, em-
bora existam muitas exceções, e é tanto mais grave quanto
maiores as concentrações de álcalis nas fases líquidas dos
poros de concreto.
Ainda no século XIX, observações davam conta de que o con-
creto, embora considerado um material durável, poderia se
deteriorar sob ação do gelo/degelo e sob ação da água do
mar. Durante os anos 20 e 30, do século passado, numero-
sas estruturas de concreto na Califórnia apresentaram intensa
fissuração, embora não expostas às condições ambientais ci-
tadas e nas quais boas práticas de engenharia tivessem sido
adotadas. Foi, portanto, um grande avanço científico, quando,
em 1940, Thomas Edson Stanton, numa publicação que se
tornaria clássica, propôs a existência da reação álcali-agrega-
do como um processo deletério intrínseco dos constituintes
do concreto. Nesse trabalho, o autor atribuiu a fissuração ob-
servada em pavimentos de concreto à expansão provocada
pela reação entre a sílica constituinte dos agregados e os álca-
lis do concreto, na presença de umidade proveniente do solo.
Suas recomendações da época para a prevenção da reação
já apontavam para o uso de materiais pozolânicos e para a
redução da quantidade de compostos alcalinos no concreto.
Nas primeiras décadas após a constatação do fenômeno nos
Estados Unidos, ele foi detectado em diversas regiões do
mundo. Na Dinamarca nos anos 50, na Alemanha nos anos
60, no Reino Unido em meados dos anos 70 e no Japão nos
anos 80. Na sequência, alguns países iniciaram pesquisas
sobre o tema, desenvolvendo técnicas laboratoriais para a
Divulgando conhecimento
sobre a RAA para sua
prevenção
Caro leitor,
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