Revista Concreto & Construções - edição 83 - page 8

8 | CONCRETO & Construções
observação do desenvolvimento da reação e buscando al-
ternativas para prevenção e correção do problema, cujas
principais manifestações foram verificadas em obras hidráu-
licas, especialmente barragens de concreto, além de casos
em pavimentos, dormentes de concreto de estradas de ferro
e outros de menor expressão. Desde então muitas pesqui-
sas foram desenvolvidas no mundo inteiro e grande parte do
conhecimento moderno foi se acumulando nos congressos
ICAAR, cuja primeira edição foi na Dinamarca, em 1974, e
que o Brasil teve a honra de sediar a edição deste ano. Atual-
mente é prática internacional a eliminação de, pelos menos,
um dos três fatores concorrentes da RAA como técnica de
prevenção dessa patologia e a utilização de materiais miti-
gadores quando do uso de agregados comprovadamente
reativos. Alguns autores já associaram a RAA à AIDS, em vis-
ta da facilidade da prevenção em detrimento do tratamento.
Efetivamente as técnicas de recuperação são onerosas, nem
sempre eficazes e pouco vem evoluindo.
No Brasil, historicamente conhecido como um fenômeno raro
e de lento desenvolvimento, a reação álcali-agregado foi, du-
rante décadas, objeto de estudos específicos para a cons-
trução de obras hidráulicas. A adoção de medidas sistemá-
ticas de prevenção vem, atualmente, evitando a ocorrência
de manifestações patológicas dessa natureza, mas, no pas-
sado, essa iniciativa não era comum. Constituem exemplos
de prevenção as barragens de Jupiá (concluída em 1963),
Água Vermelha (construída entre 1975 e 1979), Salto Osório
(construída entre 1971 e 1975), Tucuruí, Itaipu, dentre outras,
onde foram utilizados materiais pozolânicos para inibir a ex-
pansão com o uso local de agregados reativos. Entretanto a
partir de 1985, o meio técnico brasileiro tomou conhecimento
da ocorrência desse fenômeno nas barragens de Moxotó e
Joanes II, ambas localizadas na Região Nordeste, por reuni-
rem as condições que favoreceram a reação e do desconhe-
cimento até então da natureza do agregado reativo utilizado.
A constatação da reação álcali-agregado em obras de edi-
fícios foi verificada pela primeira vez na região metropolitana
de Recife, em Pernambuco, devido ao interesse gerado na
inspeção das fundações de diversos edifícios habitacionais,
após a queda do Areia Branca em 2004. Cumpre esclarecer
que as causas do desabamento do Edifício Areia Branca fo-
ram devidamente apuradas e nada se constatou que pudes-
se apontar a RAA como causa do episódio. No entanto, a
inspeção das fundações de diversos edifícios naquela região
permitiu a verificação da existência de muitos casos onde
houve fissuração dos blocos de coroação de estacas ou de
sapatas corridas. A análise acurada dessas ocorrências por
especialistas, a partir de testemunhos de concreto extraídos
dos elementos de fundação, mostrou realmente tratar-se de
reação álcali-agregado, tendo, por exemplo, os laboratórios
da ABCP estudado mais de 60 casos.
Contudo não se tem notícia de casos onde os efeitos da rea-
ção tenham levado à falta de segurança no uso das cons-
truções; mas, sim, à necessidade de manutenção corre-
tiva, que, em qualquer situação, é mais onerosa do que a
prevenção do fenômeno. Na oportunidade, mais uma vez o
IBRACON cumpriu seu papel de disseminar o conhecimen-
to, reunindo, dentre seus associados, um grupo de especia-
listas que elaboraram dois textos: um dirigido à mídia não
especializada e de grande penetração, procurando cons-
cientizar a população afetada por notícias alarmantes de
colapso das edificações; Outro dirigido a especialistas, que
culminou, dentro do Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto
e Agregados da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT/CB-18), no início de trabalhos que levaram à criação,
em 2008, de uma norma moderna com seis partes, envolven-
do um guia de prevenção da RAA e outras partes dedicadas
à amostragem e aos métodos de ensaios. Em 2016, o Comi-
tê Técnico CT 2001 do IBRACON concluiu, após quase dois
anos de estudo, novos textos-base, que foram encaminha-
dos ao CB-18 como contribuição para revisão das normas
de RAA, incorporando os avanços desde 2008. Os trabalhos
darão os subsídios necessários para imprimir às normas a
mesma qualidade de suas congêneres internacionais. Para-
lelamente, o CT 201 programou quatro publicações a serem
oferecidas pelo Instituto, tendo iniciado a Prática Recomen-
dada da RAA, documento dirigido a não especialistas, e, na
sequência, deverão ser redigidos textos sobre inspeção e
diagnóstico de estruturas suspeitas de RAA, como agir em
casos de estruturas afetadas pela RAA e, finalmente, um tex-
to comentado sobre a nova norma.
Todas essas atividades são um exemplo e prova contumaz
de que o IBRACON pratica efetivamente sua missão de criar
e divulgar o conhecimento, em benefício de seus associados,
do meio técnico e de toda a sociedade. Boa leitura.
ARNALDO FORTI BATTAGIN
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