Revista Concreto & Construções - edição 92 - page 78

78 | CONCRETO & Construções | Ed. 92 | Out – Dez • 2018
u
pesquisa e desenvolvimento
Risco sísmico no Brasil:
ameaça, normalização
e vulnerabilidade
1. SISMICIDADE NO BRASIL
L
ocalizado na região central
da placa sul-americana, uma
região intraplaca, o Brasil é
classificado como um país de baixa
sismicidade. Nesta condição, embora
com pequena probabilidade de ocor-
rência, sismos de grande magnitude
com graves consequências podem
acontecer, como o sismo de magnitude
7,7 graus na escala Richter ocorrido em
2001 na Índia, que causou a morte de
pelo menos 20.000 pessoas [1].
Os registos sísmicos brasileiros, em-
bora bastante recentes, apontam em
geral, para sismos de magnitude máxima
da ordem de 5,5 graus na escala Richter.
A partir da década de 70, com a instala-
ção da rede nacional de monitoração, foi
possível detectar um número bem maior
de eventos sísmicos no território brasilei-
ro. A Tabela 1, confeccionada a partir de
dados do IAG/USP – Instituto de Astro-
nomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
da Universidade de São Paulo, apresenta
a frequência de sismos ocorridos no Bra-
sil entre os anos de 1724 e 2017. Para
melhor compreensão da atividade sís-
mica no Brasil, neste trabalho os sismos
são divididos em duas categorias: sis-
mos com magnitude maior ou igual a 2,0
graus e menor que 5,0 graus na escala
Richter, classificados como Sismos I, e
sismos com magnitude maior ou igual a
5,0 graus na escala Richter, classificados
como Sismos II.
Embora os eventos sísmicos ocorri-
dos no Brasil não tenhamgerado grandes
consequências, em algumas situações
foram motivo de preocupação e exigiram
maior atenção por parte da comunidade
técnica. Destacam-se os eventos ocorri-
dos no Nordeste brasileiro, em especial
os sismos de magnitude 5,1 e 5,0 graus
na escala Richter ocorridos em 1986 na
cidade de João Câmara, no estado do
Rio Grande do Norte. Nesta ocasião, a
falha tectônica de Samambaia aumen-
tou sua extensão de 10 km para quase
30 km, sendo esta a origem dos sismos
citados, além de vários outros eventos
de menor magnitude que fizeram a terra
tremer por cerca de 7 anos. Se a seção
desta falha tivesse quebrado de uma
única vez, um sismo da ordem de 7,0
graus na escala Richter poderia ter sido
gerado [2]. Por conta desses eventos,
paredes e telhados desabaram total ou
parcialmente, 4.348 edificações tiveram
que ser reconstruídas ou recuperadas,
26.200 pessoas ficaram desabrigadas e
mais de 10.000 pessoas abandonaram a
PAULO S. T. MIRANDA
HUMBERTO S. A. VARUM
NELSON S. VILA POUCA
CONSTRUCT-LESE, FEUP – F
aculdade
de
E
ngenharia
da
U
niversidade
do
P
orto
(P
ortugal
)
u
Tabela 1 – Frequência de sismos
ocorridos no Brasil de 1724
a 2017
Estado
Magnitude
Sismos
I
Sismos
II
Acre – AC
31
6
Alagoas – AL
17
0
Amazonas – AM 33
3
Amapá – AP
2
3
Bahia – BA
103
0
Ceará – CE
358
1
Distrito Federal – DF
1
0
Espírito Santo – ES
9
1
Goiás – GO
97
1
Maranhão – MA
19
0
Minas Gerais – MG 423
0
Mato Grosso do Sul – MS 31
1
Mato Grosso – MT
184
3
Pará – PA
62
0
Paraíba – PB
7
0
Pernambuco – PE
147
0
Piauí – PI
6
0
Paraná – PR
46
0
Rio de Janeiro – RJ
99
0
Rio Grande do Norte – RN 290
2
Rondônia – RO
12
0
Roraima – RR
11
0
Rio Grande do Sul – RS 29
1
Santa Catarina – SC 30
1
Sergipe – SE
7
0
São Paulo – SP
267
2
Tocantins – TO
43
0
1...,68,69,70,71,72,73,74,75,76,77 79,80,81,82,83,84,85,86,87,88,...116
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