Revista Concreto & Construções - edição 87 - page 33

CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 33
u
entendendo o concreto
Controle tecnológico do
comportamento mecânico do
concreto reforçado com fibras
1. INTRODUÇÃO
N
o Brasil o uso de fibras
para o reforço mecânico
do concreto ainda se con-
centra em aplicações de baixo consu-
mo e estruturas contínuas, como pa-
vimentos e concreto projetado. Essas
aplicações, por requererem menor
demanda estrutural para o reforço, re-
sultam maior segurança aos projetis-
tas para a especificação do concreto
reforçado com fibras (CRF). A Asso-
ciação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) possui duas normas, a de es-
pecificação das fibras de aço e a da
aplicação dessas fibras em tubos de
concreto para águas pluviais e sane-
amento. Essa limitação no arcabouço
de normas técnicas e práticas reco-
mendadas que subsidiem com se-
gurança a especificação do material
limita também o uso do CRF em apli-
cações de maior demanda estrutural.
Um dos principais gargalos está no
controle tecnológico, que é algo bá-
sico e fundamental para a qualidade e
segurança nas obras de engenharia.
O controle do comportamento
mecânico do CRF não é trivial, ge-
ralmente envolvendo ensaios mais
complexos e que exigem equipa-
mentos de maior custo de aquisição
e manutenção. Por essa razão, são
poucos laboratórios dotados de in-
fraestrutura adequada para a execu-
ção de ensaios de caracterização do
CRF no Brasil (FIGUEIREDO, 2014).
Em várias situações, o único controle
de comportamento mecânico efeti-
vamente realizado é a determinação
da resistência à compressão, o que
não é capaz de avaliar a contribuição
das fibras.
O ensaio de flexão para a determi-
nação da tenacidade através do tra-
dicional método da norma japonesa
(JSCE SF4, 1984) é o mais comum
de ser executado em laboratórios de
controle tecnológico brasileiros. Po-
rém, esse método é crítico em termos
de reprodutibilidade e pode resultar
em intensa instabilidade no compor-
tamento pós-fissuração da matriz de
concreto, como já foi apontado por
diversos estudos nacionais e inter-
nacionais. Em nível internacional a
tendência é a adoção do ensaio de
flexão de prismas com entalhe, con-
forme preconiza a norma europeia
EN14651:2007, sendo este o ensaio
de referência para o novo código mo-
delo europeu para estruturas em con-
creto com fibras, o
fib
Model Code
2010 (FIB, 2013), e também das prá-
ticas recomendadas do CT303 do
IBRACON e ABECE.
Na busca por ensaios de configu-
ração mais simples e, ainda assim,
confiáveis para o controle tecnológico
do CRF, foi desenvolvido o ensaio de
duplo puncionamento. A possibilida-
de de se utilizar ensaios alternativos é
prevista no
fib
Model Code 2010 (FIB,
2013), mas a correlação com o ensaio
de referência (EN14651, 2007) deve
ser comprovada. Nesse trabalho, são
apresentados os dois ensaios e teci-
das as considerações pertinentes a
cada um deles.
2. ENSAIO DE FLEXÃO EM TRÊS
PONTOS COM ENTALHE
O ensaio de flexão em três pon-
tos com entalhe é o método de en-
saio para o controle do CRF para
aplicações estruturais segundo as
recomendações do fib Model Code
2010 (FIB, 2013). Nesse ensaio, os
prismas recebem um carregamento
concentrado em um cutelo superior
posicionado no meio do vão e com
um entalhe inferior, sendo possível
obter uma curva de carga por aber-
tura de fissura (
CMOD – Crack mouth
opening displacement
). Este ensaio é
o estabelecido pela norma europeia
EN14651:2007.
A norma EN14651:2007 define
os corpos de prova prismáticos com
RENATA MONTE – P
esquisadora
D
outora
E
scola
P
olitécnica
da
U
niversidade
de
S
ão
P
aulo
ALINE DA SILVA RAMOS BARBOZA – P
rofessora
T
itular
U
niversidade
F
ederal
de
A
lagoas
1...,23,24,25,26,27,28,29,30,31,32 34,35,36,37,38,39,40,41,42,43,...116
Powered by FlippingBook