Revista Concreto & Construções - edição 83 - page 46

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objetividade característica. Claro que
os fundamentos químicos são neces-
sários, pois tudo começa, e às vezes
nos esquecemos disto, com uma rea-
ção química, que, por mais complexa
que seja, está sujeita às leis da química.
Este panorama químico envolve, entre
outros, o aumento ou a diminuição da
velocidade de reação, com a presença
de catalisadores ou inibidores, poden-
do chegar até a completa inibição em
função das condições de temperatura,
variações da concentração dos reagen-
tes e do meio de reação, que pode ser
mais ou menos oxidante, ou redutor, e
há outras tantas variáveis que podem
estar envolvidas.
O produto de um processo químico
não depende só das condicionantes da
reação, mas das relações estequiométri-
cas dos reagentes, no caso álcalis e sílica
em suas mais variadas formas, da pre-
sença de compostos ou elementos pre-
sentes em pequenas quantidades que
possam acelerar ou retardar as reações.
Desse modo, as variáveis são quase in-
finitas se considerarmos em conjunto
todas as condições ambientais à quais a
estrutura de concreto estará submetida
durante a construção ou quando exposta
em condições de trabalho.
Por seu turno, se considerar-
mos que os vários tipos de cimentos
Portland mudam regularmente seus
atributos químicos em função de va-
riações em sua matéria-prima, de
alternativas de operação do forno,
como diferentes pressões para atingir
metas de produção e, mais recente-
mente, com o processo denominado
coprocessamento, no qual inúmeros
elementos químicos menores são in-
troduzidos no clínquer por ocasião da
queima de materiais potencialmente
poluentes, com as mais diversas ca-
racterísticas químicas, aumenta-se
ainda mais a quantidade de variáveis
envolvidas na reação álcali-agregado.
Além disso, as jazidas de agrega-
dos mudaram com a aceleração da ex-
ploração, especialmente em torno dos
grandes centros consumidores, não só
por exigências dos órgãos controlado-
res do meio ambiente, mas também
em função da exaustão de muitas das
fontes tradicionais de fornecimento,
obrigando o uso de alternativas com
características menos adequadas à
produção de agregados para concreto.
Soma-se a isto a variabilidade intrínse-
ca dos maciços rochosos, bastante co-
mum na forma de variações petrográ-
ficas texturais e
estruturais, além
das variações do
nível de intempe-
rismo, que altera
sua composição
petrográfica e,
portanto, suas
características
químicas.
Fora essas
condições
de
contorno, que
influenciam di-
retamente e de
várias formas nos reagentes envolvidos
na reação álcali-agregado, há também
o constante avanço na tecnologia do
concreto, que inclui o desenvolvimento
de aditivos. Aditivos estes que contri-
buíram para o avanço que vai desde o
concreto com trabalhabilidade reduzida
e baixa resistência até aqueles denomi-
nados autoadensáveis e com elevadís-
sima resistência mecânica. Com este
progresso fatalmente haverá a inserção
de compostos químicos que, mesmo
em pequena quantidade, poderão ace-
lerar ou retardar as reações químicas,
além do fato de que a microestrutura
do concreto também muda, certamen-
te afetando o desenvolvimento das
feições patológicas características da
reação álcali-agregado.
Enfim, é preciso um novo olhar
que comece com o entendimento do
que os projetistas consideram como
adequado em termos de resistências
mecânicas e durabilidade do con-
creto, parâmetros que garantem a
vida útil projetada para a obra. Por
exemplo, qual o nível de fissuração
admissível, quais as dimensões, dis-
tribuição e características dessas fis-
suras, qual a perda de resistências
mecânica que, mesmo ocorrendo,
ainda mantém a estabilidade e segu-
rança da obra, e outros parâmetros,
como aqueles ligados a proprieda-
des específicas, como o módulo de
elasticidade do concreto.
Para a obra e para o engenheiro
responsável, o que importa é o com-
portamento do concreto de sua obra.
Assim parece razoável que o traço ou
traços específicos, com seus materiais
selecionados para obra em particular,
sejam submetidos a um procedimento
ou aos procedimentos que possam dar
resposta quanto ao nível de risco que
determinado traço ficará submetido,
Dendritos de gel proveniente da RAA sobre agregado
ACERVO DA ABCP; GEÓLOGA ANA LÍVIA SILVEIRA
1...,36,37,38,39,40,41,42,43,44,45 47,48,49,50,51,52,53,54,55,56,...100
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