Revista Concreto & Construções - edição 90 - page 42

42 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018
u
entidades da cadeia
A construção de um
sistema de sucesso
RUBENS MONGE
ABCP
ARCINDO VAQUERO Y MAYOR
ABESC
JOÃO BATISTA R. SILVA
IBTS
1. INTRODUÇÃO
O
déficit habitacional brasilei-
ro representa um desafio
crônico para os administra-
dores públicos. A necessidade de no-
vas moradias acompanha não apenas
o constante crescimento populacional,
mas também os novos arranjos fami-
liares e o permanente reordenamento
urbano das cidades brasileiras. Por
isso, encontrar soluções técnicas e
políticas para esse problema é um ob-
jetivo permanente de todo o setor da
construção civil.
O desenvolvimento de um sistema
construtivo capaz de atender à deman-
da habitacional com qualidade, rapidez
e custo adequado é uma ação prioritá-
ria nesse cenário. Pode-se afirmar que
o sistema parede de concreto moldada
in loco vem cumprindo muito bem esse
objetivo. Embora existam exemplos
dessa tecnologia já nos anos 70/80,
o sistema ganhou corpo no Brasil, de
fato, em meados dos anos 2000, ini-
cialmente para atender ao aquecido
mercado imobiliário; depois, como uma
das principais soluções técnicas ado-
tadas no programa Minha Casa Minha
Vida (MCMV), a partir de 2009. Estima-
-se que, em 2014, a parede de con-
creto já estava presente em 36% das
unidades produzidas pelo programa,
apresentando-se como solução técnica
alinhada com as necessidades do país.
Vale lembrar que o MCMV, embora
suscetível a críticas, ocupa um lugar de
destaque no enfrentamento da ques-
tão habitacional e é também o principal
avalista do sucesso do sistema parede
de concreto. Em um estudo apresen-
tado em maio de 2017 no IV Encontro
Brasileiro de Administração Pública,
em João Pessoa/PB, pesquisadores
da Universidade Federal de Viçosa
1
computaram a contratação recorde,
entre 2009 e 2016, de mais de 4,5 mi-
lhões de unidades habitacionais, nas
três faixas de financiamento do MCMV
oferecidas à época (ainda não existia
a Faixa 1,5). Ainda segundo o estudo,
o MCMV cobre 96,1% do território na-
cional, com presença em 5.530 dos
5.570 municípios brasileiros. O uso
da parede de concreto nesse universo
tem sido crescente.
Mas como o setor de construção
civil se aculturou tão rapidamente
para absorver essa nova tecnologia e
atender a essa gigantesca necessida-
de de moradias? A resposta está, em
parte, ligada a uma iniciativa tomada
em 2007, quando três entidades as-
sociativas do setor (ABCP, ABESC e
IBTS) decidiram unir esforços e bus-
car, no exterior, tecnologias industria-
lizadas para a crescente demanda de
mercado. A iniciativa foi recompensa-
da no final, mas houve muito trabalho
nesse percurso.
2. SURGE O GRUPO PAREDE
DE CONCRETO (GPC)
Em 2007, o mercado imobiliário
(em especial os segmentos de média
e baixa rendas), liderado pelas empre-
sas privadas, encontrava-se aquecido
diante do maior poder aquisitivo da po-
pulação. Mas, para dar sustentação fi-
nanceira aos negócios, as construtoras
precisavam de sistemas construtivos
mais ágeis e competitivos.
Diante da alta demanda, entidades
como ABCP (Associação Brasileira de
Cimento Portland), ABESC (Associação
Brasileira das Empresas de Serviços de
Concretagem) e IBTS (Instituto Brasilei-
ro de Telas Soldadas) decidiram buscar
métodos mais racionalizados de cons-
trução. Lideraram então visitas técnicas
ao Chile, Colômbia (Figura 1) e México,
países onde o sistema parede de con-
creto moldada in loco é utilizado em di-
versos segmentos habitacionais.
As visitas revelaram as vantagens
da solução: eliminação de etapas
construtivas, redução de ciclos de
execução e prazos; otimização da
mão de obra; maior qualidade; e dis-
ponibilidade de materiais locais. A tec-
nologia era mais que adequada para
um mercado aquecido.
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