Revista Concreto & Construções - edição 90 - page 35

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 35
cálculo orientativo para o projeto es-
trutural em Alvenaria Armada, quando
ainda não tínhamos normas brasileiras
de projeto de AE. Havia, no entanto,
desde 1968, mas ainda ignorado pelo
meio técnico em geral, um anteprojeto
de norma elaborado na COPPE/UFRJ
(Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-
-Graduação e Pesquisa de Engenha-
ria, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro) pelo engenheiro e professor-
-doutor Fernando Luiz Lobo Carneiro
(1913-2001), feito por encomenda do
BNH, mas sem uso até então, po-
rém de conhecimento do eng. Jorge
Kurken Kurkdjian (1937-1989).
Como arquiteto, e tendo projetado e
acompanhado a construção de sobra-
dos e edifícios de quatro pavimentos
entre 1972 e 1975 na construtora Zar-
vos Imóveis, atividades nas quais pude
aplicar conceitos de coordenação mo-
dular desenvolvidos com o grupo SAR,
na Holanda, vi na AE grande potencial
para o desenvolvimento de um sistema
construtivo muito flexível em termos
de organização do espaço, permitindo
soluções arquitetônicas para a constru-
ção de edificações as mais diversas.
A título de exemplo, em 1975 a Cia.
Construtora Guaratinguetá tinha um
desafio para construir o Edifício Muriti,
em São José dos Campos (SP), com
pilotis e mais 16 pavimentos-tipo. O
prazo era muito pequeno e só foi viabi-
lizado com o projeto estrutural em alve-
naria armada elaborado pelo eng. José
Luiz Pereira, um pioneiro no Brasil no
cálculo de edifícios altos em alvenaria
armada de blocos de concreto.
A partir de 1976, trabalhando na in-
dústria de blocos, fui testemunha ocu-
lar do desenvolvimento da AE em várias
construtoras da época: Balbo, Con-
cima, Tibério, Sergus, Jaú etc. Essas
empresas produziam habitações para
os Inocoop´s (Instituto de Orientação
às Cooperativas Habitacionais de São
Paulo), Cohab´s (Central da Habitação
da Prefeitura de São Paulo) e para o
mercado imobiliário. A cada obra, ob-
servávamos a necessidade de criar no-
vos tipos de blocos, além do bloco in-
teiro: o meio-bloco,a canaleta inteira,a
meia-canaleta e outros. Mais tarde,
quando se passou a projetar as pare-
des com blocos de 14x19x39 cm, foi
necessário fabricar blocos de canto de
14x19x34 cm e blocos de encontro de
paredes estruturais de 14x19x54 cm,
para se manter a modulação de 20cm.
Com o conhecimento da literatu-
ra americana da
National Concrete
Masonry Association (NCMA)
, das nor-
mas americanas da
American Standard
for Testing and Materials (ASTM)
e uma
palestra do eng. Greer Ferver, de San
Diego, Califórnia (EUA), que havia sido
proferida no Instituto de Engenharia de
São Paulo (IE-SP) em 1968 e na qual
foram mostrados o projeto e a constru-
ção do primeiro edifício (Hotel Hanalei)
feito em Alvenaria Armada nos Estados
Unidos, alguns calculistas se propu-
seram a enfrentar projetos de edifícios
mais altos, mesmo não existindo até
então normas da ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas).
Em 1977, a Cohab-SP coloca em
licitação o primeiro conjunto de 37 pré-
dios para serem erguidos em Itaquera,
bairro da zona leste de São Paulo. A
construtora Beter aceitou o desafio de
utilizar um projeto alternativo em Alvena-
ria Armada, elaborado pelo escritório do
eng. Kurkdjian, projeto este contratado
como investimento de uma indústria de
blocos de concreto, apostando no su-
cesso da empreitada. Estavam certos,
pois a partir daí muitos outros conjuntos
de edifícios de quatro e cinco pavimen-
tos foram feitos em Alvenaria Armada.
3. DISCUSSÕES TÉCNICAS DA AE,
SUA NORMALIZAÇÃO
BRASILEIRA E ENSINO
Após um Seminário de Alvenaria
Estrutural no Instituto de Engenharia
de São Paulo (IE-SP), no final de 1977,
com grande participação da cadeia
produtiva da construção civil, é final-
mente instalada a Comissão de Estu-
do das Normas Brasileiras de Alvena-
ria Estrutural com Blocos Vazados de
Edifício residencial com 19 pavimentos, em Diadema (Construtora Tecnisa)
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