CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 27
tratar de um material incombustível, ou
seja, que não contribui com o aumento
da carga de incêndio, pode dar margem
a interpretações que confundam con-
ceitos distintos relacionados à proteção
passiva. O material, de fato, não contri-
bui com a liberação de fumaça, a propa-
gação das chamas e o desenvolvimento
de calor no incêndio, mas isso não signi-
fica que o elemento construtivo de con-
creto seja resistente ao fogo e que não
seja particularmente susceptível a danos
maiores causados por um incêndio. Tal
característica depende de muitos outros
aspectos envolvidos para suportar efei-
tos completamente adversos, já discuti-
dos anteriormente.
dilatação térmica, podem promover a ex-
centricidade de cargas ou ainda o deslo-
camento de apoios, que levam à ruina de
parte ou de toda a edificação. Esta última
questão também afeta estruturas molda-
das
in loco
, provocando especialmente o
cisalhamento de pilares.
O caso da ruína do edifício da te-
celagem Zêlo, em incêndio ocorrido em
Barueri (SP), em 12 de maio de 1995,
afetando estrutura de concreto pré-
-moldada, exemplifica perfeitamente as
questões levantadas e são mostradas
através das fotos 1, 2, 3 e 4.
Outro caso exemplar correspondeu
ao edifício da CESP (edifício Sede II), em
maio de 1987 (Fotos 5 e 6). Tratava-se
de uma grande estrutura moldada
in
loco
composta por pórticos múltiplos,
ligados entre si (praticamente) apenas
por meio das lajes, nos quais os pila-
res localizavam-se junto a fachadas
paralelas, mantendo vãos de, aproxi-
madamente, 12 m, vencidos por vigas
de grande seção. Os esforços de dila-
tação das vigas cisalharam as colunas,
promovendo o colapso de um pórtico,
e parte considerável da estrutura, inca-
paz de promover a redistribuição de
esforços, ruiu (Fotos 7 e 8).
Outro caso interessante e de grande
repercussão, entre tantos, corresponde
ao incêndio do edifício Grande Avenida,
ocorrido em São Paulo nos idos de 1981.
Ali o lascamento explosivo do concreto e
os esforços decorrentes da dilatação de
parte da estrutura submetida ao calor do
incêndio provocaram o colapso de parte
da estrutura, felizmente não associada à
Torre da edificação, mas apenas ao seu
pódio frontal.
Os ensaios definidos na norma ABNT
NBR 5628 – Componentes construtivos
estruturais – Determinação da resistência
ao fogo indicam a exposição de corpo de
prova representativo do elemento estru-
tural à elevação de temperatura conforme
indicado na Figura 1 (a linha pontilhada
representa a curva de elevação padroni-
zada de temperatura, a linha vermelha,
a temperatura interna no equipamento
– forno – e as linhas verdes, as tempe-
raturas na face não exposta do corpo de
prova). Ao longo do tempo de ensaio é
verificado o atendimento aos critérios
de estabilidade, integridade e isolamen-
to térmico; estes dois últimos aplicados
apenas a elementos estruturais que acu-
mulam a função de compartimentação.
Por meio desses ensaios, frequen-
temente realizados no Laboratório de
Segurança ao Fogo e a Explosões (LS-
FEx) do IPT, tem sido possível observar,
sob condições controladas, o fenômeno
do lascamento explosivo, que definitiva-
mente deve ser considerado na concep-
ção e dimensionamento das estruturas
de concreto. Tal fenômeno em situa-
ções extremas pode comprometer ins-
tantaneamente a integridade/estabilida-
de do elemento estrutural (Foto 12). Em
outras situações este fenômeno se ma-
nifesta de maneira continuada, por meio
de pequenos lascamentos sucessivos,
que promovem a redução gradual da
seção do elemento estrutural e expõem
a armadura à ação direta do calor (Foto
13). Tal situação, no desenvolvimento
do incêndio, pode definir as condições
necessárias para o colapso estrutural.
A combinação dessas duas formas de
lascamento explosivo também ocorre
de maneira frequente (Fotos 14 e 15).
4. CONCLUSÃO
A possibilidade de colapso de ele-
mentos estruturais de concreto em situ-
ação de incêndio, verificado através de
sinistros ocorridos e por análises labo-
ratoriais, comprova a necessidade de
elaborar projetos levando em conside-
ração a sua resistência ao fogo. Por se
Foto 12 – Parede de concreto com
perda de integridade decorrente de um
“lascamento” instantâneo
Foto 13 – Lascamentos contínuos
em parede de concreto com diminuição
da seção transversal e exposição
da armadura