Revista Concreto & Construções - edição 87 - page 89

CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 89
haverá um certo prejuízo para a mobi-
lidade da mistura com o aumento do
teor de fibras. Por outro lado, como
os resultados demonstram, baixos te-
ores de fibras de aço pouco prejudi-
cam nas medidas de trabalhabilidade.
Nesses casos, um pequeno aumento
do teor de aditivo dispersante (poli-
funcional ou plastificante) pode ser o
suficiente para mitigar o problema.
3. OS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO
DA TRABALHABILIDADE DO CRF
Idealmente, seria interessante
utilizar ensaios reológicos para uma
avaliação mais ampla do comporta-
mento do CRF no estado fresco (Al-
feres Filho et al., 2016). No entanto,
são muito raros os laboratórios que
contam com um reômetro para reali-
zar uma avaliação desse tipo. Assim,
os métodos de avaliação devem ser
aqueles adequados à consistência do
CRF. Ou seja, CRFs de consistência
plástica são, normalmente, avaliados
a partir do ensaio de abatimento de
tronco de cone. Esse ensaio apre-
senta boa sensibilidade quando o ní-
vel de abatimento está entre 40 mm
e 140 mm. Há alguns ensaios desen-
volvidos especificamente para avaliar
o CRF, como é o caso do cone in-
vertido (ASTM C995), mas a sua apli-
cabilidade apresenta uma série de
dificuldades e pode ser substituído
sem problemas pelo ensaio de abati-
mento convencional como apontou o
estudo realizado por Ceccato (1998).
Para concretos de consistência
seca, o risco de prejudicar a avalia-
ção da trabalhabilidade é grande. Tal
é o caso dos concretos utilizados
para a produção de algumas peças
pré-moldadas, como tubos para
obras de saneamento. Neste caso,
o ensaio Ve-Be apresenta boa capa-
cidade de diferenciação de compor-
tamentos. No estudo de Figueiredo
e Ceccato (2015), foi feita uma cor-
relação entre os resultados obtidos
por ensaios Ve-Be e de abatimento,
o que pode ser observado na Figura
8. Confirmou-se que o ensaio Ve-Be
apresenta melhor sensibilidade para
os concretos com abatimento infe-
rior a 20 mm e, em especial, para os
concretos que apresentaram abati-
mento zero. Abatimento nulo signifi-
ca apenas que o método de ensaio
atingiu o seu limite e, portanto, deve-
-se utilizar outro que não dependa
apenas da ação da gravidade para
mobilizar o concreto, tal como o Ve-
-Be. Por outro lado, abatimentos su-
periores a 60 mm não apresentaram
qualquer diferenciação em termos de
resultado Ve-Be, mostrando que este
ensaio não é adequado para CRFs
com consistência plástica.
No caso de concretos com con-
sistência fluída, como é o caso dos
concretos autoadensáveis, deve-se
empregar métodos de ensaio espe-
cíficos para essa avaliação, tal como
os preconizados na série de normas
ABNT NBR15823:2010, quais se-
jam, o método do espalhamento e
do tempo de escoamento, o anel J, a
caixa L e o funil V. Vale ressaltar que
a avaliação da habilidade passante
é de grande importância quando da
utilização de reforço híbrido de fibras
e vergalhões. Assim, se pode verificar
condições de risco de bloqueio, como
o caso ilustrado na Figura 9. Por outro
lado, caso o concreto seja utilizado
apenas com o reforço de fibras, este
tipo de avaliação é desnecessário.
Há vários trabalhos abordando a
análise de trabalhabilidade do con-
creto autoadensável reforçado com
fibras, como é o caso dos desenvol-
vidos por Sahmaran
et al.
(2005), Fer-
rara et al (2007) e Ding
et al.
(2008).
Isto ocorre porque há um grande
número de vantagens aplicativas do
concreto autoadensável reforçado
com fibras que, portanto, passa a
ser muito atrativo. No entanto, ele
exige um elevado grau de controle de
execução para se evitar orientações
preferenciais desfavoráveis origina-
das pelo próprio fluxo. No trabalho
de Alferes Filho (2016), foi demons-
trado que pode haver prejuízo signi-
ficativo de comportamento mecânico
de elementos planos em função de
u
Figura 8
Correlação entre os resultados
obtidos com os ensaios de
abatimento e tempo Ve-Be
de concretos reforçados
com fibras
(Figueiredo e Ceccato, 2015)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0
5
10
15
20
Tempo VeBe (segundos)
Abatimento (mm)
u
Figura 9
Bloqueio do fluxo de concreto
com alto teor de fibras de aço
durante a realização do ensaio
de caixa L (Alferes Filho, 2016)
1...,79,80,81,82,83,84,85,86,87,88 90,91,92,93,94,95,96,97,98,99,...116
Powered by FlippingBook