Revista Concreto & Construções - edição 87 - page 48

48 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
Espanha (10,04), Itália (8,36), Estados
Unidos (5,22), a quantidade de enge-
nheiros formados no país é modesta.
Apesar da criação intensa de vagas
desde o início dos anos 2000, já se evi-
dencia a existência de evasão significati-
va nos cursos de engenharia. O Censo
do Ensino Superior do INEP apresen-
ta que, em 2012, a taxa de evasão era
em torno de 25%, bastante alta quando
comparada com os 2,5% dos cursos de
medicina, cujo público é mais elitizado
pela taxa elevada de candidatos por vaga
e a perspectiva de ganhos garantidos ao
longo da vida do profissional. A evasão
é também muito grande em compara-
ção com outros países. Dados do
World
Bank
mostram que, em 2013, no Brasil
estavam matriculados 516.287 estudan-
tes, enquanto no Japão haviam 483.120,
e nos Estados Unidos 749.295. No mes-
mo ano concluíram no Brasil 41.112
profissionais contra 90.048 no Japão e
99.455 nos EUA, confirmando a evasão
e dificuldade de término do curso.
Esse valor de evasão pode ser, de
forma preliminar, gerado pelo desem-
penho inadequado em matemática do
ensino médico, demostrado pelo Pro-
grama Internacional de Avaliação de
Alunos de 2012 (PISA), da Organização
para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). Nesse estudo, o
Brasil ocupa a 33
a
posição entre 38 pa-
íses com avaliação inferior à metade da
média, sendo que a maioria dos países
têm maior relação entre a quantidade
de engenheiros e sua população.
Em termos de mercado de trabalho,
no intervalo de tempo entre 2000 e 2012,
o Brasil passou por período de retoma-
da econômica, sendo que a quantidade
de engenheiros, a grosso modo, do-
brou no período, atingindo em torno de
40.000 profissionais. Após esse período,
a situação do país se deteriorou e hou-
ve uma significativa redução da atividade
econômica, impactando diretamente na
construção civil. No seminário “Forma-
ção e Emprego de Engenheiros no Brasil:
Tendências Atuais”, em 2014, discutiu-
-se a necessidade de engenheiros no
país para vários cenários de crescimento
econômico, e existiria uma probabilidade
significativa de excesso de engenheiros
no mercado. Essa conclusão merece ser
analisada com reservas. A porcentagem
de engenheiros na população, compara-
da com o perfil de outros países, mostra
que a aplicação de inovação, utilização
de tecnologia e desenvolvimento de pro-
dutos é fundamental para a geração de
riqueza e mudança do perfil socioeconô-
mico brasileiro.
Assim sendo, como já discutido
no evento logo acima mencionado,
além da quantidade, a qualidade dos
engenheiros formados deve ser ob-
servada. Sempre tomando o cuidado
com generalizações e sabendo-se da
existência de exceções de excelência
no país, tomando como base o ENADE
(Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes), verifica-se que as notas
dos alunos das universidades públicas
concentram-se entre 4 e 5, enquanto
os das instituições privadas atingem
em sua maioria notas 2 e 3. Em nome
da justiça de julgamento, deve ser res-
saltado que existem excelentes institui-
ções de ensino superior particulares no
país. Nos últimos anos, o aumento da
oferta de novos cursos chegou à situa-
ção onde mais de dois terços dos cur-
sos existentes estão em instituições pri-
vadas. As provas em geral são simples
e básicas, com problemas às vezes
dissociados da realidade do exercício
profissional. Em 2012, dos engenheiros
atuando no país, apenas 6% dos enge-
nheiros possuíam mestrado ou douto-
rado, e desses, grande parte trabalhava
com educação e administração públi-
ca. A produtividade de docentes tam-
bém deve ser observada, sendo que o
World Bank
indicou que, em 2013, para
cada 100 professores dos cursos de
engenharia, no Brasil publicou-se em
média 6 artigos, no Japão 28 e nos Es-
tados Unidos 64. Para uma maior pre-
cisão da questão da formação de en-
genheiros, poderia ser realizada análise
complementar avaliando a interação da
academia com a indústria e a comuni-
dade técnica, verificando se a acade-
mia insere novos profissionais com as
características necessárias às diversas
modalidades do setor produtivo.
4. CONSIDERAÇÕES
E CONCLUSÕES
Nos últimos quarenta anos, o
currículo mínimo do curso de Enge-
nharia Civil vem sofrendo mudanças
significativas no foco, carga horá-
ria e na base formativa, o que, em
parte, é natural pela evolução tec-
nológica e social. Porém, algumas
considerações merecem ser apresenta-
das para uma análise da adequabilida-
de dos currículos atuais. Nas décadas
de 1960 e 1970, os cursos possuíam
cargas horárias mais elevadas que as
atualmente adotadas.
O Curso que eu fiz possuía em tor-
no de 5.700 horas aulas totais, que é
em torno do dobro do currículo míni-
mo atual, mas somente aulas a mais
não formam um parâmetro compa-
rativo. Deve-se avaliar se o que foi
retirado no tempo foi importante. O
curso tinha caráter formativo com al-
gumas características interessantes,
como a existência de dois anos bási-
cos com disciplinas gerais, incluindo
matemática e física muito sedimenta-
das, e os cursos básicos de Desenho
e Geometria, Mecânica dos Fluidos,
1...,38,39,40,41,42,43,44,45,46,47 49,50,51,52,53,54,55,56,57,58,...116
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