70 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017
dimensional e resistência química
podem ser identificados, permitindo
que se atue de maneira a melhorar o
desempenho dos concretos.
Com relação à pasta verifica-se
que é constituída pelos compostos
resultantes da hidratação do cimento
Portland com a água, gerando com-
postos hidratados, como os silicatos
hidratados C-S-H, geralmente fibro-
sos, hidróxido de cálcio (portlandita),
que cristaliza em placas hexagonais,
e calcita, o carbonato de cálcio, re-
sultante da carbonatação da por-
tlandita. Em concreto celular auto-
clavado as condições ambientais de
temperatura e pressão favorecem a
formação de C-SH, bem cristalizado,
correspondente à tobermorita (Fotos
9 a 11). Outros compostos típicos
são os aluminatos e ferroaluminatos
cálcicos hidratados e etringita (tris-
sulfoaluminato cálcico), na forma de
acículas, que depois migram para a
forma mais estável (monossulfoalu-
minato cálcico), resultante da reação
dos aluminatos com o regulador de
pega. Essas fases, por não terem
proporção estequiométrica definida,
são conhecidas na química do ci-
mento como AF
t
e AF
m.
Qualquer ou-
tra fase pode ser considerada anô-
mala ao processo de hidratação do
cimento e pode indicar um potencial
para o aparecimento de manifesta-
ções patológicas, como o composto
etringita tardia, mostrado nas fotos
12 a 14, que indica um ataque inter-
no por sulfatos.
A porosidade é outra feição impor-
tante da microestrutura do concreto.
Ela é constituída pelos poros capila-
res, resultantes da migração da água
de amassamento, e pelos poros dos
produtos de hidratação, dos quais o
C-S-H é o predominante, esses últi-
mos chamados poros de gel.
Além disso, existem os vazios li-
gados ao adensamento do concreto,
os chamados macroporos, de forma
irregular, e eventualmente poros não
interligados, de formato esférico, re-
sultantes da incorporação de ar, in-
tencional ou não (Foto 15).
Os poros capilares são interligados,
se situam entre as fases hidratadas e
são responsáveis pelos mecanismos
de transporte das fases líquidas e ga-
sosas, com impacto direto na perme-
abilidade do concreto, migração de
íons agressivos e, portanto, na dura-
bilidade. A porosidade de gel sempre
aumenta com o passar do tempo até
determinado valor, ao passo que a po-
rosidade capilar tende a diminuir.
FOTO 12
Aspecto ao microscópio eletrônico do
concreto, em que se observa o contato
agregado graúdo com a argamassa
– aumento de 2.000x – MEV –
Elétrons Secundários. Observa-se a
presença de etringita tardia (E) no
contato do agregado graúdo (AG) com
argamassa (ARG).
AG
ARG
E E
FOTO 11
Aspecto ao microscópio eletrônico
de cristais aciculares (E) em vazios
no concreto – aumento de 4.000x –
Elétrons Secundários. As acículas são
constituídas de etringita, de origem
primária, em oposição à etringita
compactada (DEF), mostrada na foto 8.
E
E
FOTO 14
Aspecto ao microscópio eletrônico da
etringita compactada (E) – aumento
de 300x - Elétrons Secundários. O
poro está preenchido por etringita
compactada, feição indicativa de que se
trata provavelmente de DEF (
delayed
ettrigite formation
), que se diferencia
da etringita primária ou secundária pela
ausência de acículas típicas.
E
FOTO 13
Aspecto ao microscópio eletrônico da
etringita compactada (E), preenchendo
fratura na argamassa – aumento de
1.000x – Elétrons Secundários. A
microfissura com abertura aproximada
de 40 µm foi totalmente preenchida
por etringita compactada (DEF). A
microfissura foi um local preferencial
de deposição e pode aumentar com a
progressão do tempo por continuidade
da cristalização e expansão da etringita.
E
E