Revista Concreto & Construções - edição 85 - page 66

66 | CONCRETO & Construções
80 km, com todo seu relevo, curvas,
rampas, cortes e aterros, ficou claro
para mim que meu conhecimento da
disciplina era básico para acompanhar
e discutir as metodologias de levanta-
mentos, bem como os cálculos de fe-
chamento: quem de fato era especialis-
ta era exatamente o topógrafo!
Mas, por outro lado, a estrutura de
ensino como um todo e seus conteúdos
não estariam especializando demais os
estudantes? E os conteúdos, assim, não
se tornavammuito rígidos?Empedagogia
se sabe, ao menos em tese, que um
curso pode melhorar bastante em alguns
aspectos caso no primeiro momento de
aula o docente avalie as expectativas
dos alunos sobre o aprendizado na
disciplina e tenha a flexibilidade de alterar
positivamente o curso. No entanto, isso
não é de fato algo muito factível, pois há
uma sequência lógica do passo a passo
no ensino-aprendizado de engenharia,
que, ao final, encaminha o estudan-
te para os conteúdos tecnológicos de
uma habilitação.
Ainda em finais dos anos 90, essas
questões permeavam discussões de
docentes e discentes, de tal sorte que
foram tomando corpo dentro de diver-
sas comissões da EPUSP, sendo que
algumas respostas e dúvidas foram
emergindo. Uma escola de engenha-
ria deve formar engenheiros para atuar
como ponte entre a ciência e as comu-
nidades, de tal maneira a habilitar jovens
a desempenharem a inexoravelmente
necessária missão de desenvolver infra-
estrutura e serviços para o progresso e
bem-estar social. Essa foi uma resposta
inicialmente pensada, que poderia ser
tomada como reacionária.Mas foi acom-
panhada com consciência por mentes
que entendiam ser salutar uma grande
mudança que permitisse ao estudante
inserido em um mundo globalizado per-
ceber, buscar e desenvolver habilidades
que julgue necessárias para si mesmo
em suas atividades futuras. Ou que
permitissem ao estudante uma imersão
mais difusa no infindável mundo do co-
nhecimento (academia ou universidade).
Mas como fazer isso? Aumentan-
do o tempo de formação? Definitiva-
mente não!
A resposta estaria na análise do que
se dava de conteúdo em uma habilitação
na EPUSP e o que estudantes tinham de
conteúdo em uma mesma habilitação em
uma escola de engenharia de ponta, de
destaque internacional. Seria possível en-
quadrar esse tipo de formação, ajustan-
do de modo salutar e inteligente, à carga
horária exigida para cursos de formação
superior de cinco anos: 3.600 a 4.000 ho-
ras, conforme exigências da Câmara de
Educação Superior do Conselho Nacional
de Educação do Ministério da Educação
(Resolução nº 2, de 18 de junho de 2007)?
Sim, era possível. Mas uma escola de
tal porte, composta de docentes muito re-
flexivos, deveria ser aberta, em especial a
três grupos: o corpo discente (considera-
dos atuais e ex-alunos); ao mundo corpo-
rativo público e privado externo; ao corpo
docente (quem mais discutia a questão,
ao final das contas). Para atendimento de
demandas e sugestões do primeiro e do
terceiro grupo, além de debates abertos
e em diversas circunstâncias a partir de
2009, foi criada uma página no sítio da
EPUSP para recepção das mais amplas e
difusas ideias sobre como melhorar, como
alterar, como evoluir, como universalizar. O
segundo grupo foi ouvido emdiversas reu-
niões internas e abertas, tendo sido deno-
minado de “Comissão de Notáveis”, que
incluiu um dos fundadores da EMBRAER,
um reitor de centro tecnológico federal de
engenharia de elevadíssimo nível no Brasil,
um especialista em educação à distância,
dentre outros.
Todos os trabalhos foram centrali-
zados na Comissão de Graduação (CG)
da EPUSP, tendo em seu início como
presidente o Prof. Paul Jean Etien-
ne Jeszensky e, posteriormente, para
a conclusão dos trabalhos e início de
implantação dessa nova estrutura cur-
ricular, o Prof. Francisco Ferreira Car-
doso. O autor desse artigo era o vice-
-presidente da comissão no início dos
trabalhos para elaboração de uma nova
estrutura curricular.
3. AS IDEIAS-CHAVE
A CG-EPUSP tomou como funda-
mentais para uma mudança evolutiva
da estrutura curricular diversas ideias-
-chave ou princípios:
u
Ao aluno será dada a formação de
Engenheiro;
u
Ao aluno será dada sólida formação
em Ciências Básicas; essa formação
ocorrerá ao longo dos cinco primeiros
semestres;
u
O aluno terá contato com disciplinas
de habilitação já logo em seu ingresso
(no 1º ano do curso);
u
O aluno terá contato com Ciências de
Engenharia já logo em seu ingresso
(no 1º ano do curso); essa formação
ocorrerá ao longo do primeiro ao oita-
vo semestre;
u
A habilitação na modalidade será
completada em oito semestres, por-
tanto, em quatro anos, atendendo à
carga horária mínima legal;
u
Ao aluno será aberta a escolha de
nove disciplinas optativas livres (à
sua livre escolha) em qualquer curso
da USP;
u
O 5º ano é um Módulo de Formatura
em alguma modalidade desejada;
u
Não ocorreriam mais de 28 horas de
aulas semanais até o 7º semestre;
u
O 8º semestre totalizaria 24 horas de
aulas semanais;
1...,56,57,58,59,60,61,62,63,64,65 67,68,69,70,71,72,73,74,75,76,...100
Powered by FlippingBook