CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 51
e possivelmente CCSC). A pesquisa
que embasa o Mapeamento Tecno-
lógico da Indústria de Cimento Bra-
sileira, em fase final de elaboração,
também concluiu que, dadas as limi-
tações futuras de oferta de escória e
cinzas volantes, um aumento na adi-
ção de fíler é a solução com o maior
potencial de mitigação (ABCP, SNIC,
2018) (Figura 2).
Fíleres são materiais moídos que
dispensam a etapa de calcinação, a
qual é responsável por pelo menos
90% do consumo de energia e da
emissão de CO
2
na produção de ci-
mento. Como os fíleres são materiais
de baixo impacto ambiental, com
pegada de CO
2
abaixo de 20 kg/t
(cimentos convencionais possuem
pegada de 200-870 kg/t), a sua in-
trodução permite uma substancial
redução da pegada de CO
2
dos ma-
teriais cimentícios.
Este trabalho pretende discutir
os fundamentos da tecnologia
LEAP
(
Low-Emission Advanced Perfor-
mance
), que substitui ligantes por
fíleres, permitindo a mitigação de
CO
2
na cadeia do cimento a baixo
custo e, simultaneamente, otimi-
zando o desempenho dos produtos
cimentícios.
2. FÍLERES E A TECNOLOGIA
LEAP
2.1 Experiência de cimentos
com fíler
É provável que a Espanha, a
França e a Alemanha tenham sido as
pioneiras em introduzir o uso siste-
mático de fíleres na década de 1960
e 1970. Durante a crise do petróleo
nos anos 70, a Alemanha elevou o li-
mite de 20% para 35%, valor que foi
adotado pela normalização europeia
no início dos anos 90 e permanece
até hoje. A normalização brasileira
introduziu fíler nos cimentos no iní-
cio dos anos 1990, com um limite
máximo de 10% para o cimento CP
II e de 5% para os demais, valores
mantidos até a data de hoje. Recen-
temente outros países, como África
do Sul e México, adotaram os limites
Europeus (Figura 3).
A adição de até 35% de fíleres
calcários ao cimento é uma tecnolo-
gia consolidada, contando com larga
experiência internacional. A norma-
lização europeia permite utilizar em
estruturas cimentos CEM II/B-LL, que
possuem até 35% de fíler, exceto em
alguns ambientes agressivos. Atual-
mente a quantidade de fíler utilizada
pela indústria cimenteira mundial é de
7%, sendo superior à de escória (5%)
e cinzas volantes (4%). O teor médio
de fíler no mercado europeu é de 6%,
valor similar ao Brasil, apesar do limi-
te máximo de substituição ser bem
menor (1/3 do europeu) (CSI, 2016).
Esses dados revelam ainda uma limi-
tação do uso potencial da tecnologia
corrente de substituição de ligantes
por fíleres, particularmente em merca-
dos onde o principal uso do cimento
é industrial. A realização do poten-
cial de mitigação previsto na Figura 2
exige uma nova estratégia de adição
de fíleres.
2.2 Fíleres em cimentos,
argamassas e
concretos
LEAP
Do ponto de vista do uso do ci-
mento em produtos, os fíleres co-
laboram com uma das funções es-
senciais do cimento: formar uma
pasta que preenche o espaço entre
os grãos de agregados, dando coe-
são e fluidez ao sistema. Tem, por-
tanto, potencial para aumentar a efi-
ciência do uso do cimento, reduzindo
a quantidade de material reativo e de
u
Figura 3
Evolução do teor máximo de fíler calcário na normalização de países e
regiões selecionadas – (JOHN
et
al.
, 2017)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1960
1970
1980
1990
2000
2010
Teor máximo de fíler calcário (%)
Europa
Espanha
Alemanha
Canada
Brasil
Estados Unidos