48 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018
CP III (cimento portland de alto forno) e
quartzo, constituinte do agregado. Isso
indica que a microestrutura está íntegra
e a temperatura não chegou a 100 ºC
nessa região.
Nas regiões entre 4 cm e 8 cm da
superfície exposta, reconhecem-se
os mesmos minerais identificados nas
regiões sãs, com exceção dos alumi-
natos hidratados, decompostos em
função das temperaturas alcançadas
avaliadas em cerca de 300 ºC, con-
forme a ausência de perda de massa
mostrada na Tabela 2
Nas amostras retiradas desde a su-
perfície até 2 cm de profundidade, não
foi identificada portlandita, nem alumi-
natos e silicatos hidratados, indicando
que a temperatura atingiu valores acima
de 480 ºC e abaixo de 800 ºC. A au-
sência de portlandita pode ser atribuída
também à sua carbonatação, ou seja, à
geração de carbonato de cálcio a partir
da reação do hidróxido de cálcio (por-
tlandita) com o CO
2
presente na atmos-
fera. Esta inferência é corroborada pe-
los teores de carbonato de cálcio mais
elevados nestas porções da amostra,
comparativamente ao determinado nas
amostras mais internas. Em suma, as
temperaturas mais altas ficaram restritas
as partes mais superficiais, estando o
concreto completamente íntegro a cerca
de 8 cm, informação que, aliada a outras
informações de inspeção de campo, foi
útil nas ações de recuperação.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os ensaios da microestrutura do
concreto possibilitam a identificação
da extensão dos danos causados
por incêndio ao concreto, particulari-
zando regiões e espessuras de cada
elemento estrutural, permitindo ava-
liar as partes de uma estrutura que
devam ser recuperadas e facilitando
a escolha das medidas corretivas
necessárias em cada caso, além de
identificar elementos estruturais que
devam ser substituídos.
As técnicas apresentadas e a corre-
ta interpretação dos resultados obtidos
podem auxiliar na tomada de decisões
para o desenvolvimento de projetos de
recuperação que considerem o estado
real da estrutura e, portanto, favoreçam
uma análise com base em segurança
e economia.
u
Tabela 1 – Identificação das reações
Temperatura
do pico (ºC)
Natureza da reação
Interpretação
30-110
Endotérmica
Perda de água livre e/ou adsorvida e decomposição
dos silicatos hidratados
155
Endotérmica
Decomposição dos aluminatos
da pasta de cimento hidratada
444-450
Endotérmica
Decomposição do hidróxido de cálcio
555-565
Endotérmica
Transformação do quartzo
a
em quartzo
b
650-695
Endotérmica
Descarbonatação do carbonato de cálcio (CaCO
3
)
875
Exotérmica
Provável devitrificação da escória
u
Tabela 2 – Perdas de massa determinadas nas amostras analisadas
Identificação
da amostra
Perdas de massa nas diferentes temperaturas de análise (%)
30-120 ºC
(Perda de
água livre e/
ou adsorvida e
decomposição
dos silicatos
hidratados)
120-400 ºC
(Decomposição
dos aluminatos
hidratados)
400-600 ºC
[Decomposição
do Ca(OH)
2
]
600-800 ºC
(Descarbonatação
do CaCO
3
)
prof. 0-2 cm
1,1
–
–
9,2
prof. 2-4 cm
0,8
–
–
9,0
prof. 4-8 cm
5,9
–
1,2
0,9
Acima
prof. 8 cm
4,8
3,2
1,2
1,2
[1] KALIFA, Pierre; MENNETEAU, François-Dominique; QUENARD, Daniel. Spalling and Pore Pressure in HPC at High Temperatures. Cement and Concrete Research,
N° 30. Elsevier Science Ltd. Amsterdam, 2000
[2] NEVILLE, Adam Matthews. Propriedades do Concreto. 2ª Ed. PINI. São Paulo, 1997.
[3] BATTAGIN, AF; SILVEIRA, ALZ. Muito além do Controle Tecnológico Convencional do Concreto. Concreto & Construções N° 86. Instituto Brasileiro do Concreto, São
Paulo, abril-junho, 2017
u
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