Revista Concreto & Construções - edição 89 - page 47

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 47
e morfologia das fases, presença de
fissuras, avaliação da compacidade e
segregações. Quando acoplada com
EDS (
Energy Dispersive Spectroscopy
),
a MEV permite identificar a composição
química, apontando elementos quími-
cos na área na qual se encontra o com-
posto mineralógico, tornando possível
seu diagnóstico. A técnica foi detalhada
no artigo dos mesmos autores, publica-
do na edição 86 (abril – junho de 2017)
desta Revista, com o título
Muito além
do controle tecnológico convencional
do concreto (BATTAGIN e SILVEIRA,
2017)
. Muitas das feições observadas
nos permitem deduzir a temperatura al-
cançada. Assim, ao se reconhecer por
MEV, numa amostra de concreto, a pre-
sença de cristais aciculares de etringita,
isso significa que amostra não superou
100ºC (Figura 5), pois a etringita ficaria
amorfa acima dessa temperatura, e a
ausência de microfissuração é também
um fator indicativo de que não se ultra-
passou esse patamar de temperatura.
Por outro lado, a presença de cristais
fraturados de quartzo e de fraturas nas
suas interfaces cristalinas é indicati-
va de transformações alotrópicas do
quartzo, significando que a temperatu-
ra foi superior a 570 ºC (Figura 6).
Quando o MEV mostra cal livre na
pasta, geralmente com morfologia simi-
lar a rosáceas, a melhor interpretação
é a desidratação da portlandita, com
recristalização, que ocorre entre 480
e 550 ºC, sugerindo que a temperatu-
ra do incêndio superou essa faixa. Já,
quando a presença de portlandita é
notável (Figura 7), esse fato indica que
a temperatura não atingiu 480 ºC, que
é quando ocorre a perda da água de
cristalização desse composto.
Amostras apresentando aspecto vi-
trificado, com presença de wollastonita
e anidrita superficial, indicam temperatu-
ras da ordem de 1100ºC. Por fim, cabe
registrar que a ausência de determina-
das fases hidratadas esperadas para
uma pasta de concreto em condições
ordinárias de temperatura é um fator in-
dicativo que a amostra foi submetida a
temperaturas acima da faixa de estabili-
dade das fases hidratadas usuais.
4. ESTUDO DE CASO
Os resultados das análises térmicas
de uma amostra de concreto extraída da
estrutura de um hospital da cidade de
Santo Andre (SP) permitiram determi-
nar os danos provocados por incêndio
em distintas profundidades em relação
à face voltada ao incêndio. As tabelas 1
e 2 resumem esses resultados.
As análises realizadas em porções
representativas da amostra, conforme
procedimento ilustrado na Figura 3,
em diferentes profundidades dos cor-
pos de prova, isto é, desde a porção
mais exposta ao fogo até a porção mais
protegida, revelaram alterações na mi-
croestrutura decorrentes da calcinação
causada pelo incêndio.
Na porção mais interna do testemu-
nho (acima de 8 cm a partir da super-
fície exposta), com base nas Tabelas 1
e 2 foram identificados os compostos
calcita, portlandita, aluminatos hidrata-
dos, escória de alto forno parcialmente
anidra, provavelmente devido ao uso de
cimento tipo CP II – E (cimento portland
composto com escória de alto forno) ou
u
Figura 5
Porção interna de amostra de
concreto em relação a face
exposta ao fogo, observada
em MEV, onde a presença de
cristais aciculares de etringita
indica que amostra não superou
100 ºC durante o incêndio
u
Figura 6
Amostra de concreto coletada
após incêndio e observada sob
MEV, com presença de cristais
fraturados de quartzo e
fraturas nas suas interfaces
cristalinas oriundas de suas
transformações alotrópicas,
sugerindo que a temperatura
foi superior a 570 ºC
u
Figura 7
Amostra de concreto coletada
após incêndio, sob observação
em MEV, onde a presença de
portlandita na região central
indica que a temperatura não
atingiu 480 ºC
1...,37,38,39,40,41,42,43,44,45,46 48,49,50,51,52,53,54,55,56,57,...100
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