Revista Concreto & Construções - edição 89 - page 50

50 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018
em carbono, levou o cimento brasi-
leiro a apresentar um dos menores
fatores de emissão específica de CO
2
do mundo.
No entanto, a oferta de escória
de alto forno e cinzas volantes é li-
mitada, tanto globalmente como no
Brasil. A geração dessa escória, ex-
pressa como fração da produção do
cimento, vem caindo (ver Figura 1),
sendo que, em 2013, representava
menos de 9% da produção global de
cimento e por volta de 13% da brasi-
leira. A disponibilidade global de cin-
zas volantes é de aproximadamente
20% da produção do cimento, sendo
a maior parte de baixa qualidade, e
sua geração já começou a diminuir
em termos absolutos, chegando a
cerca de 4% da produção do cimen-
to no Brasil. De forma geral, escó-
rias, incluindo as de outras origens,
e cinzas volantes devem representar
algo em torno de 20% da produção
mundial de cimento em 2050 (SCRI-
VENER; JOHN; GARTNER, 2016) e
ainda menos no Brasil, cerca de 15%
(ABCP,SNIC,2018).
Mantidas as práticas atuais, a
combinação do aumento da de-
manda por cimento com redução
progressiva da disponibilidade dos
tradicionais substitutos do clínquer,
o baixo potencial de maiores ganhos
com eficiência energética e o custo
e limitações de disponibilidade de
combustíveis neutros em CO
2
, es-
pera-se em âmbito mundial um forte
crescimento das emissões de CO
2
do setor no futuro. No entanto, os
acordos do clima estabelecem para
2050 metas de redução dos valores
absolutos das emissões de gases do
efeito estufa equivalentes a 18% das
emissões do ano 2006 (SCRIVE-
NER; JOHN; GARTNER, 2016). Para
viabilizar uma redução absoluta das
emissões do CO
2
será necessário
capturar cerca de 600 Mt de CO
2
em
2050, o que exigiria um investimen-
to em torno de US$500 bilhões, au-
mentando o custo do cimento entre
15 e 30%
1
.
Um estudo sistemático de estra-
tégias de mitigação alternativas à
captura de carbono, que sejam eco-
eficientes, com baixo custo, baixo
impacto ambiental e escaláveis foi
conduzido pelo grupo de trabalho
do Programa do Meio Ambiente das
Nações Unidas entre 2015 e 2016
(SCRIVENER; JOHN; GARTNER,
2016), reunindo 23 cientistas de 20
países. O estudo concluiu que exis-
tem soluções técnicas que, se forem
introduzidas por investimentos em
P&D, têm potencial de mitigação de
CO
2
que ultrapassa as metas do se-
tor. As duas tecnologias escaláveis
de maior potencial de mitigação fo-
ram a substituição de clínquer Por-
tland por fíler e por misturas de fíler
e pozolana de argila calcinada, com
a vantagem adicional de preservarem
investimentos em fábricas equivalen-
tes a cerca de meio trilhão de dóla-
res. O potencial de novos cimentos
que não Portland, foi considerado li-
mitado dada a necessidade de inves-
timentos elevados, limitação de ma-
térias primas – como cinzas volantes
e silicatos de sódio e bauxita (BYF),
limitações a mercados de pré-fabri-
cados (no caso da cura térmica de
cinzas volantes e argilas calcinadas
com ativação alcalina e dos cimentos
que endurecem por carbonatação
acelerada – CCSC – em vasos de
pressão) ou por custo elevado (BYF,
cinzas volantes com ativação alcalina
1
A
ssumindo
o
custo
de
produção
do
cimento
típico
de
US$30/
t
e
o
custo
da
captura
do
CO
2
entre
US$40
e
80/
t
(SCRIVENER; JOHN; GARTNER, 2016,
p
. 6).
u
Figura 2
Potencial de mitigação de CO em âmbito mundial das principais
2
tecnologias identificadas como competitivas em função da sua taxa de
substituição em 2050 (SCRIVENER; JOHN; GARTNER, 2016)
-200
0
200
400
600
800
1000
0
10
20
30
40
50
60
Potencial de mitigação de CO (Mt)
2
Taxa de substituição (%, em 2050)
Meta de mitigação total
Meta para Captura de Carbono
Argila Calcinada AA
Cinza
volante AA
Filer
Argila
Calcinada + Filer
BFY
CCSC
1...,40,41,42,43,44,45,46,47,48,49 51,52,53,54,55,56,57,58,59,60,...100
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