82 | CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017
O aço 37-CA, aqui denominado de
CA24 para igualar a nomenclatura atual
que identifica, na simbologia, a tensão
de escoamento mínima, a qual para o
aço 37-CA é de 240 MPa, segundo a
ABNT EB-3:1939, foi amplamente em-
pregado nas construções até a déca-
da de 60 e o aço CA50 é o aço atual
mais empregado como armadura de
elementos em concreto. Em muitas si-
tuações, durante a realização de recu-
perações e reforços em estruturas de
concreto antigas, que foram feitas com
aço CA24, é comum o uso de arma-
duras de aço CA50 para repor seções
de armaduras perdidas pela corrosão
ou para a realização de reforços. Quan-
do juntas em um mesmo elemento, o
comportamento dessas armaduras
pode ser diferente dependendo do su-
cesso na etapa de remoção do concre-
to contaminado com cloretos. Neste
artigo apresenta-se o comportamento
dos aços CA24 (antigo) e CA50 (atu-
al) durante o processo de passivação,
simulando a situação em que os dois
tipos de aços estarão imersos em con-
creto não contaminado por cloretos e
não carbonatado, após a realização de
recuperação ou de reforço.
2. PASSIVAÇÃO
DAS ARMADURAS
Desde que bem projetado, empre-
gando as recomendações da ABNT
NBR 6118:2014, ou seja, com relação
água/cimento, resistência, espessura
do cobrimento, consumo de cimento
e abertura máxima de fissuras compa-
tíveis com a agressividade ambiental,
e bem controlado e executado, em-
pregando os procedimentos da ABNT
NBR 12655:2015 e da ABNT NBR
14931:2004, ou seja, cuidando do
controle de recebimento e das ativida-
des de transporte, lançamento, aden-
samento e cura, o concreto representa
uma barreira física ao ingresso e avan-
ço dos agentes iniciadores do proces-
so de corrosão das armaduras, princi-
palmente os cloretos e a carbonatação.
Contudo, o concreto não se limita ape-
nas a fornecer uma proteção de nature-
za física contra os elementos nocivos à
armadura, ele também estabelece uma
proteção de natureza química.
Durante o processo de hidratação
do cimento, gera-se um sólido consti-
tuído pelas fases hidratadas do cimento
e pela fase aquosa que ocupa a rede
de poros intersticiais e capilares do
concreto. Com o decorrer do proces-
so, a pasta de cimento torna-se muito
alcalina devido à presença de íons OH
-
,
Ca
++
, Na
+
, K
+
e SO
4
--
no líquido aquoso
da rede de poros. A alcalinidade gera-
da apresenta um potencial de hidrogê-
nio (pH) entre 12,7 e 13,8 (LONGUET
et al
., 1973), ocasionando a formação
da película de passivação da armadu-
ra, protegendo-a da corrosão enquan-
to não ocorrer alterações físicas ou
químicas na camada de concreto que
a envolve. A denominada película pas-
sivadora pode ser entendida como um
filme transparente, com nanômetros de
espessura, fortemente aderida sobre
o aço, estável e composta por duas
camadas de óxidos de ferros mais ou
menos hidratados com vários níveis de
Fe
2+
e Fe
3+
, sendo uma interna, onde
predomina o Fe
3
O
4
, e outra externa de
g
-Fe
2
O
3
(BERTOLINI et al (2004), HELE-
NE (1993)). Segundo Hausmann (1998),
a utilização excessiva de adições mine-
rais no cimento tende a diminuir este
pH da solução intersticial, porém não o
suficiente para comprometer a película
passivadora.
Conforme pode ser observado
na Figura 1, enquanto o concreto se
mantiver com alta alcalinidade, valor
de pH superior a 9,0 e sem cloretos
livres, a armadura estará protegida da
corrosão. Entre as duas retas trace-
jadas paralelas e oblíquas do diagra-
ma forma-se uma região onde exis-
tem condições para a formação da
u
Figura 1
Diagrama de equilíbrio termodinâmico de Pourbaix.
Potencial
versus
pH para o sistema Fe-H O a 25°C (POURBAIX, 1976)
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