CONCRETO & Construções | Ed. 86 | Abr – Jun • 2017 | 81
u
pesquisa e desenvolvimento
Caracterização e passivação
dos aços CA24 e CA50
LEONARDO GOMES DE SÁ E CARVALHO – M
estre
ENIO PAZINI FIGUEIREDO – P
rofessor
T
itular
, D
outor
E
ngenharia
C
ivil
e
A
mbiental
da
U
niversidade
F
ederal
de
G
oiás
1. INTRODUÇÃO
O concreto armado é uma asso-
ciação inteligente de materiais, que
fornece um material construtivo re-
lativamente barato se comparado
aos demais, com boa resistência à
água, grande estabilidade dimensio-
nal, possuindo inúmeras possibilida-
des de tamanhos e formas e, princi-
palmente, com alta capacidade de
suportar esforços, tanto de tração
quanto de compressão. Por esses
motivos, o concreto armado foi con-
siderado um material definitivo na
construção civil, aliando durabilida-
de e resistência.
Porém, com o passar dos anos,
a durabilidade do concreto armado,
que antes era considerada ilimita-
da, começou a ser questionada, em
razão do surgimento de manifesta-
ções patológicas que começaram a
deteriorar as estruturas de concreto,
algumas vezes de forma prematura,
sendo a principal delas a corrosão
das armaduras.
No contexto da Patologia das
Construções, a corrosão de arma-
duras em estruturas de concreto é
um dos problemas de grande des-
taque, sendo complexa, séria e
onerosa para ser resolvida na cons-
trução civil. Atualmente, vários pro-
fissionais e setores da construção
civil estão mobilizados no sentido de
prevenir, controlar e reabilitar estru-
turas de concreto que apresentam
ou estão suscetíveis a esse fenôme-
no tão danoso e que tanto prejuízo
econômico traz para a sociedade.
A corrosão das armaduras é um
processo eletroquímico que ocorre
naturalmente, conduzindo a forma-
ção de óxidos e hidróxidos de ferro,
com volume muito superior ao volu-
me do metal original. Esse aumento
de volume cria tensões internas no
concreto, que levam ao surgimento
de fissuras, manchas superficiais,
destacamento do cobrimento, per-
da de aderência entre o concreto
e a armadura, e perda de seção da
armadura, podendo levar à instabili-
dade e ao colapso da edificação ou
de suas partes.
Existem muitos trabalhos reali-
zados, nacional e internacionalmen-
te, que avaliam o desempenho do
concreto armado frente à corrosão,
levando em consideração apenas
características do concreto, tais
como a composição do concreto, a
espessura do cobrimento, a porosi-
dade do concreto e a presença de
contaminantes no concreto, entre
outros aspectos. Porém, ainda são
poucos os trabalhos que contem-
plam a participação da variável “tipo
de aço” no desempenho da corro-
são de peças de concreto.
Embora as características e
condições do meio (concreto) que
envolve a armadura sejam muito
importantes para o estabelecimen-
to e manutenção da passivação da
armadura ao longo do tempo, está
provado, pelos casos práticos, que
o concreto é falível, e, em condições
de uso, frequentemente, torna as ar-
maduras vulneráveis aos processos
corrosivos, permitindo sua despas-
sivação. A partir desse momento, a
variável aço passa a ter uma influ-
ência no desenvolvimento dos pro-
cessos corrosivos, uma vez que os
diferentes tratamentos térmicos e
mecânicos pela qual passam as ar-
maduras, bem como a composição
química variada e os diversos níveis
de inclusão apresentados pelos tipos
de aço, alteram a microestrutura do
material, tornando-o mais ou me-
nos suscetível à corrosão. Por essta
razão não são incomuns os casos
práticos em que se observam aços
menos processados industrialmente
(em obras antigas) praticamente sem
apresentar corrosão, enquanto que
aços mais novos, com elevada ener-
gia de produção, de alta dureza e re-
sistência mecânica, mostram sinais
visíveis e acentuados de corrosão,
mesmo em estruturas de concreto
relativamente novas e, muitas vezes,
inseridos em concretos mais nobres.