CONCRETO & Construções | 121
com a superfície do concreto, úmi-
da ou seca. O equipamento imprime
uma corrente entre os dois eletrodos
externos e, consequentemente, uma
voltagem é captada pelos eletrodos
internos (IccET, 1989), como apre-
sentado na Figura 1.
Os resultados do ensaio de resis-
tividade elétrica podem ser compa-
rados aos limites prescritos pelo Bo-
letim 192 do CEB (1989), indicando
o risco de corrosão de uma estru-
tura de concreto armado (Tabela 1).
Além disso, a resistividade elétri-
ca pode ser utilizada para controle
de qualidade de pré-fabricados e
para modelagem da vida útil de es-
truturas de concreto armado sujei-
tas à corrosão por penetração de
íons cloreto.
Alguns fatores podem influenciar
o resultado da RES, tais como: a re-
lação água/cimento, a porosidade
da pasta, a origem e dimensão dos
agregados utilizados, a hidratação e
tipo de cimento, a presença de adi-
ções minerais, a geometria da peça,
a temperatura e a umidade do am-
biente e a presença de íons cloreto
(LENCIONI, 2011).
Os íons cloreto presentes no
concreto armado podem provir de
fontes internas ou externas, como,
por exemplo, do uso da água do
mar no concreto fresco, de agrega-
dos contaminados ou do uso de adi-
tivos aceleradores de pega que con-
tém cloreto de cálcio, amplamente
utilizados até meados de 1970 (FI-
GUEIREDO; 1994). No concreto en-
durecido, os cloretos podem pene-
trar na estrutura pelo contato direto
com a água do mar, pela presença
de maresia, pelos sais de degelo
ou em estruturas que armazenem
sal, como tanques de salmoura e
aquários (BROMMFIELD, 2007). Es-
ses íons são encontrados na matriz
cimentícia de duas formas: livres
(dissolvidos na água dos poros) ou
combinados com o C
3
A e C
4
AF (pro-
dutos da hidratação do cimento),
formando cloroferratos e cloroalumi-
natos (sal de Friedel). Os realmente
nocivos às armaduras são os livres.
Esses íons cloreto livres destro-
em de forma localizada a película
passivante das armaduras do con-
creto, provocando a corrosão por
pite (em pontos localizados). Estes
pontos formam o ânodo da pilha
de corrosão e, devido à sua pro-
gressão em profundidade, podem
até provocar a ruptura da barra de
aço. No Brasil, a ABNT NBR 12655
(2014) limita o teor de cloretos so-
lúveis em água (cloretos livres) de
acordo com a classe de agressivi-
dade ambiental.
O efeito dos íons cloreto na resis-
tividade elétrica do concreto ainda
é contraditório (LENCIONI, 2011).
Em 1982, Gjorv et al., apud Tuutti,
afirmaram que a resistividade elé-
trica do concreto se reduz em 50%
quando o teor de CaCl
2
passa de 0
a 4% em relação à massa de cimen-
to (CASCUDO, 1997). De acordo
com Brommfield (2007), a presença
de cloretos não afeta fortemente a
resistividade elétrica do concreto,
pois, como já há uma abundância de
íons dissolvidos na água dos poros,
os cloretos não fariam diferença. No
entanto, como podem ser higroscó-
picos, os íons cloreto são frequente-
mente responsabilizados por reduzi-
rem a RES. Em concordância com
tal fato, Lencioni (2011) acrescentou
ao concreto fresco 3% de cloretos
em relação à massa de cimento e
não encontrou variação significativa
ao comparar as resistividades elé-
tricas de concretos com e sem clo-
retos. Entretanto, em 2006, Santos
incorporou 0,4 e 1,0% de cloreto em
relação à massa de cimento e, após
7 dias, constatou uma redução de
28% na resistividade elétrica para o
traço com adição de 0,4% de Cl
-
em
relação à mistura isenta de cloretos
e de 47% para a contaminação com
1% de Cl
-
.
Tendo em vista o exposto e a
falta de um consenso entre os pes-
quisadores, o objetivo deste artigo é
avaliar a influência do teor de clore-
tos internos na resistividade elétrica
superficial do concreto.
2. PROGRAMA EXPERIMENTAL
A fim de analisar a influência do
teor de cloretos incorporados ao
concreto na resistividade elétrica
superficial, foram moldados corpos
de prova com um traço padrão, que
diferem entre si devido às concen-
trações de cloretos: 0 (referência),
1, 2, 3 e 4% de cloretos em relação
à massa de cimento. Para isso, foi
adicionado cloreto de sódio (NaCl)
ao concreto fresco. Os traços estão
descritos na Tabela 2.
Para avaliar a resistência à com-
pressão foram moldados 6 corpos
de prova cilíndricos (10x20cm) por
u
Tabela 1 – Probabilidade de
corrosão conforme resistividade
elétrica do concreto (CEB, 1989)
Valores de
resistividade
elétrica (k
Ω
.cm)
Risco de
corrosão
< 5
Muito alta
< 10
Alta
< 20
Baixa
> 20
Negligenciável