20 | CONCRETO & Construções | Ed. 91 | Jul – Set • 2018
da edificação inspecionada. Por
isso, eu acredito que a inspeção
deve ser efetuada por profissionais
especializados e com experiência em
avaliação de estruturas acabadas.
Infelizmente, preparamos ainda de
maneira deficiente nossos graduandos
de engenharia e arquitetura para
lidar com estruturas existentes. Na
maioria das universidades brasileiras,
Patologia das Construções não existe
ainda como disciplina, ou não é
obrigatória. Os conceitos de vida útil,
durabilidade, inspeção e manutenção
são vistos muitas vezes de forma
precária e sem contextualização.
Precisamos urgentemente mudar
essa situação, para começar a gerar
profissionais mais preparados para
lidar com o tema. Senão correremos
o risco de ter um arcabouço legal e
normativo que demanda inspeções
regulares, associado a uma escassez
de profissionais adequadamente
preparados para atender a essa
demanda. Esse é um quadro muito
negativo, pois pode impactar de
forma muito ruim a qualidade, custo e
resolubilidade das inspeções, inclusive
gerando um aumento de risco social,
pela geração de uma falsa sensação de
segurança baseada em processos de
inspeção deficientes ou incompletos.
É bom lembrar, ainda, que embora
reforçar a formação básica na
graduação seja essencial, a
capacitação e atualização de
profissionais atuantes no campo da
inspeção têm que ser feita de forma
permanente, pois o conhecimento,
os métodos de ensaio e o próprio
entendimento sobre processos de
deterioração, técnicas de recuperação
e reforço avançam continuamente. Para
o futuro, acho que seria interessante
iniciar uma discussão sobre a formação
específica no campo da patologia das
construções/inspeção/conservação,
nos moldes da engenharia de
segurança do trabalho. Esse é um
assunto polêmico, mas que merece
uma reflexão. Em minha opinião, é
uma alternativa se quisermos assegurar
qualidade e cumprir com eficiência o
papel de fazer uma efetiva gestão de
riscos e custos de conservação, com
diminuição das chances de falhas pela
inspeção regular e correção precoce
de problemas de desempenho e
patológicos das edificações.
Outra questão interessante é que a
inspeção predial de uma edificação
demanda uma variedade de
conhecimentos. Inspetores precisam
deter um conhecimento básico sobre
operação, desempenho e formas
de degradação de diversos tipos de
materiais e subsistemas. No caso
de alguns sistemas específicos e que
apresentam um histórico de falhas
graves, já houve até a geração de leis e
regramentos que demandam inspeções
específicas e periódicas (tais como
elevadores, caldeiras, reservatórios de
água). Caberá ao inspetor predial avaliar
se essas inspeções periódicas vêm
sendo feitas e qual seu resultado (assim
como se existe e está sendo executado
o plano de inspeção) e, se for o caso,
registrar uma não conformidade e
demandar que os responsáveis sobre o
condomínio as providenciem.
Dada a complexidade e amplitude
do escopo da inspeção predial,
em alguns casos, para poder fazer
uma adequada avaliação, pode ser
necessário ou recomendável reunir
equipes compostas por profissionais
de áreas especializadas. Caberá
ao inspetor que vai coordenar os
trabalhos definir se isso será necessário,
quando consultado pelo cliente. Meu
entendimento é que nesses casos, cada
profissional envolvido deve assumir
a responsabilidade profissional sobre
aspectos específicos de sua área de
atuação e, provavelmente, todos devem
assinar juntos a ART de inspeção, mas
que o inspetor predial contratado pelo
cliente é que terá a responsabilidade de
liderar e assegurar o bom andamento
da inspeção, coordenando os trabalhos
dos demais, organizando os dados
e se responsabilizado por produzir e
apresentar ao cliente os Laudos de
Inspeção e suas recomendações.
IBRACON
– Q
uais garantias
seriam
dadas
aos
usuários
das
construções
avaliadas
,
à
comunidade
e
à
sociedade
em geral
pelo
programa
de
inspeção
e manutenção
periódica
? Q
uais
ações
seriam
requeridas
nos
casos
de
não
atendimento
dos
critérios
avaliados
na
inspeção
? C
omo
essas
ações
seriam
fiscalizadas
e
enquadradas
judicialmente
?
PREPARAMOS AINDA DE MANEIRA
DEFICIENTE NOSSOS GRADUANDOS DE
ENGENHARIA E ARQUITETURA PARA LIDAR
COM ESTRUTURAS EXISTENTES
“