CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 65
pelo acúmulo de resíduos na natu-
reza, transformando-os em energia.
Para alcançar níveis de substituição
maiores e consequentemente miti-
gar ainda mais as emissões de ga-
ses de efeito estufa, o setor vem se
mobilizando para aumentar a varie-
dade de combustíveis alternativos,
ao utilizar os chamados resíduos só-
lidos urbanos, que nada mais são do
que aqueles resultantes das ativida-
des doméstica e comercial das cida-
des. A Lei 12.305/10 da Política Na-
cional de Resíduos Sólidos (PNRS)
contempla o aproveitamento ener-
gético de resíduos sólidos urbanos.
Essa prática é amplamente utilizada
na Europa, de forma a eliminar os
aterros e agregar valor energético
ao nosso lixo doméstico. Em São
Paulo, acaba de ser aprovada uma
resolução para regulamentar a uti-
lização de Combustíveis Derivados
de Resíduos Urbanos (CDRU) pre-
parados a partir de resíduos sólidos
urbanos e resíduos sólidos não pe-
rigosos, permitindo a sua utilização
em fornos de cimento.
O país passou pela pior crise da
economia da sua história. Depois de
um baixo crescimento econômico
em 2014, de apenas 0,5%, a eco-
nomia brasileira entrou em uma re-
cessão sem precedentes. Em 2015,
o PIB encolheu 3,8% e, em 2016, a
queda foi de 3,5%, acumulando re-
cuo de 7,1% no biênio 2015/16. Em
2017, houve uma pequena recupe-
ração, quando o PIB subiu 1%.
A crise atingiu mais fortemen-
te o mercado imobiliário e o setor
de infraestrutura, este último ainda
agravado pela Operação Lava Jato.
A restrição dos gastos públicos em
construção, o aumento da taxa de
juros e da inflação, e a queda da
massa salarial levaram a cadeia da
construção para uma recessão pro-
funda, que inviabiliza a tomada de
empréstimos para o financiamento
de investimentos.
A atividade da construção civil foi
16% menor no acumulado dos anos
2015 a 2017 em relação a 2014. Na
indústria do cimento não poderia ser
diferente, com retração de 25% no
consumo do insumo nesse mesmo
período, atingindo 54 milhões de
toneladas no final de 2017, o que
representa retorno do nível de con-
sumo ao de 2009. Esse panorama
se torna dramático quando se verifi-
ca que a capacidade ociosa atingiu
inédito nível de 46%.
Com a ociosidade alta, há ele-
vação dos custos fixos unitários,
restringindo a capacidade de in-
vestimentos ou até mesmo fazendo
com que empresas optem por fe-
char suas fábricas, retirando fatores
produtivos do mercado. Uma visão
ainda mais drástica da capacidade
ociosa mencionada, pode ser tradu-
zida pelas 13 fábricas que se encon-
tram fechadas em todo o país, com
grande número de fornos fora de
operação. Somente em São Paulo
encontram-se 6 delas com seus for-
nos inoperantes de um total de 13
fábricas presentes no Estado. Mais
grave ainda é que a profundidade
da recessão pode comprometer a
viabilidade econômica de algumas
empresas, fazendo com que saiam
definitivamente do mercado.
Nos últimos meses os núme-
ros da indústria do cimento vêm
demostrando um arrefecimento no
percentual de queda nas vendas,
isso decorrente de uma melhoria
no ambiente econômico do país.
Alguns indicadores já apresentam
sinais positivos como a taxa de ju-
ros (Selic) e da inflação, porém os
índices de confiança empresarial e
do consumidor ainda preocupam
pelas elevadas incertezas políticas
que retardam a retomada de muitos
investimentos.
E essas incertezas tornam
o exercício de projeção uma tarefa
difícil.
Nos primeiros quatro meses de
2018, as vendas de cimento no
mercado interno totalizaram 16,9
milhões de toneladas, de acordo
com dados preliminares da indús-
tria, representando uma queda de
0,2% frente ao mesmo período do
ano passado.
Em 12 meses, as vendas acu-
muladas totalizaram 53,5 milhões
de toneladas, quantidade 3,7% me-
nor do que nos 12 meses anteriores
(maio de 2016 a abril de 2017), con-
firmando a redução da velocidade
de queda de vendas do setor.
Esses números estão dentro das
expectativas da indústria, conside-
rando o atual cenário de melhoria na
atividade econômica do País. Ao fi-
nal deste trimestre (abril – maio – ju-
nho), deve-se anunciar os primeiros
resultados positivos desde 2015 e
fechar o ano com crescimento pró-
ximo de 1%, o que será um grande
avanço, tendo em vista as quedas
dos últimos anos.
Neste momento é importante ter
em perspectiva o favorecimento da
recuperação da indústria. Os go-
vernos federal, estadual e municipal
devem promover ações para rever-
ter a crise. O Brasil tem importantes
programas habitacionais e de infra-
estrutura a serem desenvolvidos, e o
cimento é a base indispensável para
essas construções.