64 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018
massa salarial real, a redução dos
juros e da inflação, a expansão do
crédito imobiliário por parte do go-
verno e dos bancos privados, e o ob-
jetivo governamental de crescimento
dos investimentos em obras de infra-
estrutura foram fundamentais para
a alavancagem da construção civil
e, consequentemente, do consumo
de cimento.
Concorreu de forma decisiva
para esta recuperação o chamado
marco regulatório imobiliário, atra-
vés da Lei n°10.931/2004 e da Re-
solução n° 3.177 do Banco Central.
Tais medidas trouxeram um melhor
ordenamento jurídico no setor da
construção imobiliária e possibilita-
ram a capitalização das construto-
ras e incorporadoras no mercado
acionário, bem como o retorno dos
bancos privados ao financiamento
imobiliário.
Programas do governo, como o
“Minha Casa Minha Vida” (MCMV) e
o Programa de Aceleração do Cres-
cimento (PAC), impulsionaram tam-
bém o setor da construção civil, tan-
to na parte habitacional quanto na de
infraestrutura.
Entre 2004 e 2014, o consumo
de cimento mais que dobrou, sain-
do de 35 milhões de toneladas para
mais de 70 milhões, um movimento
sustentável e presente em todas as
regiões do país. Este movimento tor-
nou o Brasil o 4° maior consumidor
de cimento no mundo, atrás apenas
da China, Índia e EUA .
No período de 2004 a 2016 fo-
ram inauguradas 42 novas fábricas,
através de empresas já atuantes e
novos produtores, com investimento
de mais de R$15 bilhões em todas
as regiões do país. Esse constante
esforço de produção doméstica para
atender a demanda de cimento no
Brasil refletiu-se na constituição de
uma capacidade produtiva conside-
rável (Gráfico 3). Em 2017, a capa-
cidade instalada anual de produção
chegou a 100 milhões de toneladas
por ano, distribuídas em 100 unida-
des fabris.
4. CENÁRIO ATUAL DA
INDÚSTRIA DO CIMENTO
O desafio da indústria brasileira
do cimento é continuar investindo e
produzindo o cimento necessário às
obras do país, mantendo os padrões
de competitividade e de excelência
ambiental conquistados.
A mais recente iniciativa pretende
mapear as emissões do setor, proje-
tadas até 2050, e suas respectivas
alternativas de redução. Este am-
bicioso projeto, conhecido interna-
cionalmente como Cement Techno-
logy Roadmap, é uma parceria da
indústria do cimento brasileira com
o WBCSD, a Agência Internacio-
nal de Energia (IEA, em inglês) e o
Banco Mundial, e deve ser concluído
em 2018.
A crescente utilização de adições
no Brasil tem representado uma das
mais eficazes iniciativas de controle
e mitigação de emissão de CO
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da
indústria de cimento. Diante do pa-
norama de redução na disponibilida-
de de escórias siderúrgicas e cinzas
volantes em um futuro próximo, o
desafio consiste em propor alterna-
tivas para garantir o uso crescente
de adições ao cimento. Para isso, a
ampliação no uso de fíler calcário – o
que requereria uma atualização das
Normas de Cimento, hoje em curso
na ABNT – e de argilas calcinadas
representariam a principal alterna-
tiva do setor, tanto na redução do
fator clínquer quanto das emissões
do setor.
A queima de resíduos em fornos
de cimento, conhecida como co-
processamento, é uma tecnologia
mundialmente consagrada e que,
além de reduzir as emissões da in-
dústria, surge como uma solução
ao passivo ambiental representado
u
Gráfico 3
Estimativa da capacidade de produção de cimento
Fonte:
SNIC