20 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
estado limite último e, portanto,
não permite correlação fácil com o
desempenho de uma estrutura de
CRF. O professor Ravindra Gettu,
do Instituto Indiano de Tecnologia
de Madras na Índia, país que
sofre dos mesmos problemas de
países em desenvolvimento como
o nosso, propôs uma metodologia
correlacionando este ensaio com
o grau de rotação e plastificação
imposto ao pavimento na premissa
de projeto. Isto porque é difícil
implementar outros ensaios nos
laboratórios de controle, com é
o caso do EN14651, base do
Código Modelo fib, pois exigem
equipamentos mais sofisticados
e caros, e pessoal altamente
especializado para operar,
aumentando custos. Infelizmente,
no Brasil, muitos veem os
procedimentos de controle como
custo simplesmente e isto gera uma
série de problemas. Não é raro que
profissionais me procurem para
“desvendar” algum problema de
elevada fissuração em um pavimento,
cuja informação de controle é nula.
Ou seja, chega-se a executar obras
com centenas ou milhares de metros
cúbicos de CRF sem qualquer ensaio
realizado para o controle. Isto não
pode ser classificado como obra de
engenharia. A atuação da engenharia
pressupõe controle tecnológico do
que se está produzindo.
Outro ensaio muito utilizado no caso
específico do concreto projetado
reforçado com fibras é o ensaio
de punção de placas. É também
um ensaio tradicional, não tão
antigo como o JSCE-SF4, mas,
mesmo assim, do século passado.
Eu mesmo utilizei bastante este
ensaio na minha tese de doutorado,
mas isso foi no ano de 1997. Ele é
baseado nas recomendações da
EFNARC (
Experts for Specialized
Construction and Concrete Systems
)
que estabelecem três níveis de
absorção de energia em ensaios de
punção de placas e quatro níveis de
resistência residual. Naturalmente,
quanto maior o nível de absorção
de energia e de resistência
residual, maior será a condição
de ductilização da estrutura e sua
segurança. Mas é difícil dizer qual é
o nível de energia associado a um
certo nível de solicitação. Portanto,
há a tendência de especificar níveis
elevados de absorção de energia
(1000 Joules
no ensaio de
punção de placa
quadrada, por
exemplo). Assim,
o projetista
se sente mais
seguro. O
problema é que o
ensaio de punção
de placas não
é muito prático
para o controle
corriqueiro
das obras
e muitas delas omitem esse
controle. Na verdade, o mesmo
poderia ser substituído, caso
estudos preliminares mostrassem
correlações com os ensaios de
flexão de prismas, ou mesmo com
os novos ensaios, como o de duplo
puncionamento, também conhecido
como ensaio Barcelona. Mas é,
infelizmente, muito frequente iniciar
obras de infraestrutura sem estudos
prévios, o que é uma lástima total
do ponto de vista tecnológico.
Esses ensaios de placas e prismas,
baseados em absorção de energia,
são de mais difícil correlação com
o comportamento estrutural, dado
que não diferenciam resistências
residuais para baixos e elevados
níveis de fissuração, como as atuais
concepções de projeto preveem,
tal como estabelecido no Código
Modelo fib. Portanto, deve-se fazer
um esforço de mudar a cultura de
[NO BRASIL] CHEGA-SE A EXECUTAR OBRAS COM CENTENAS
OU MILHARES DE METROS CÚBICOS DE CRF SEM QUALQUER
ENSAIO REALIZADO PARA O CONTROLE. ISTO NÃO PODE SER
CLASSIFICADO COMO OBRA DE ENGENHARIA
“
“
Ensaio JSCE-SF4