Revista Concreto & Construções - edição 87 - page 15

CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 15
IBRACON
– P
or
que
a
escolha
pela
E
ngenharia
C
ivil
e
sua
opção
por
seguir
a
carreira
acadêmica
?
A
ntonio
D.
de
F
igueiredo
– Eu fui o
primeiro de uma família de imigrantes
portugueses a desbravar a carreira
de engenheiro civil. Na oitava série o
professor Pier Giuseppe Tuzi sugeriu-
me cursar edificações no Liceu de
Artes e Ofícios de São Paulo. Fiz o
colégio técnico no período de 1978
a 1981, com bastante entusiasmo
pela área de engenharia civil,
principalmente pelos rudimentos
do dimensionamento estrutural.
Ao servir o Exército em 1981 optei
pelo curso da Arma de Engenharia
do Centro de Preparação dos
Oficiais de Reserva (CPOR). Nesta
época cheguei a fazer uma visita às
obras do sistema ferroviário Tronco
Principal Sul quando passava por
Lajes, Santa Catarina. Atualmente,
esta ferrovia liga a Estação
Pinhalzinho em São Paulo à Região
Metropolitana de Porto Alegre. Voltei
apaixonado dessa visita técnica,
com o desejo de trabalhar com
infraestrutura e de cursar engenharia
civil. Por coincidência, no CPOR um
oficial pediu-me para dar uma aula
sobre cimento Portland. De início,
eu odiei a ideia. Mas, preparei-me
com os conceitos obtidos no curso
de edificações do Liceu. Para minha
surpresa, todos gostaram, inclusive
o oficial, o que me fez vislumbrar a
possibilidade remota de no futuro eu
dar aulas.
Em 1983 entrei no curso de
Engenharia Civil da Escola
Politécnica da Universidade de
São Paulo. Durante o curso fiz
estágios no escritório de engenharia
estrutural De Luca e no Instituto
de Pesquisas Tecnológicas de
São Paulo (IPT) – neste último
sob a supervisão do Prof. Paulo
Helene - até me formar em
1987. Ao trabalhar no IPT e ver a
possibilidade de publicar artigos, eu
acabei por me entusiasmar com a
área de pesquisa. Foi quando pensei
que poderia trabalhar com pesquisa
e inovação. Por estar dividido entre
estruturas e tecnologia, acabei
optando, no final, por pesquisar
sobre materiais estruturais, que,
apesar de se concentrar em
tecnologia, mantinha uma interface
com a área de estruturas. Um ano
após o início da pós-graduação,
tive a oportunidade de me tornar
professor e por aí a carreira seguiu.
IBRACON
– O
que
é
o
concreto
reforçado
com
fibras
(CRF)? Q
uais
suas
origens
? Q
uais
as
finalidades
de
se
usar
fibras
no
concreto
? Q
ue
tipos
de
fibras
podem
ser
usadas
?
A
ntonio
D.
de
F
igueiredo
– A ideia
de reforçar materiais com fibras é
milenar. Desde a Antiguidade os
povos costumavam usar crinas
de cavalo, palhas e outras fibras
vegetais para reforço do adobe e
de outros materiais construtivos,
porque essas fibras aumentavam a
vida útil e a capacidade de trabalho
desses materiais. Há inclusive um
registro bíblico de que o faraó
proibiu que os egípcios ajudassem
os judeus na coleta de palha para
produzir o adobe reforçado num
determinado período de
seu cativeiro.
Do ponto de vista industrial, o
cimento amianto foi a primeira
aplicação e ganhou grande impulso
no começo do século XX, pois a fibra
de amianto era barata e aumentava
grandemente a capacidade de
trabalho dos materiais cimentícios,
principalmente sua resistência à
tração. Com a descoberta de que
o amianto era prejudicial à saúde,
começou-se a buscar soluções
alternativas em termos de uso de
fibras para aumento da capacidade
mecânica, ou seja, da resistência
das peças. Já nos anos 1960
apareceram as fibras de aço, as
fibras de vidro, para serem usadas
no GRC (
glass reinforced concrete
)
e algumas fibras poliméricas.
Inicialmente esses usos visavam
aumentar a resistência mecânica,
mas, logo se percebeu que a grande
vantagem da fibra era tornar o
concreto menos frágil.
O concreto é um material
maravilhoso, por possuir muitas
virtudes, como a excelente
resistência à água com custo
relativo muito baixo. Mas o concreto
tem algumas desvantagens sérias:
ele trabalha a crédito, porque só é
LOGO SE PERCEBEU QUE A
GRANDE VANTAGEM DA FIBRA
ERA TORNAR O CONCRETO
MENOS FRÁGIL
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