28 | CONCRETO & Construções
pesquisa aplicada pioneira, com um
horizonte de curto prazo, que faz uso
das qualidades da fabricação digital,
que permite uma maior liberdade for-
mal e um alto grau de personalização,
associadas aos materiais à base de ci-
mento e concreto, amplamente utiliza-
dos e de baixo custo, com vistas à sua
utilização na construção industrializada
e, particularmente, na pré-fabricação.
Essa pesquisa teve entre seus obje-
tivos o desenvolvimento de elementos
pré-fabricados leves, utilizando o micro-
concreto de alto desempenho (Micro-
CAD) moldado em fôrmas de poliestire-
no expandido, cortadas por fio quente
(
hotwire
) acoplado a um braço robótico
de seis eixos. Por meio dessa técnica foi
possível criar elementos modulares de
contenção para muros de arrimo, porém
altamente customizáveis e com geome-
trias complexas, que podem se adaptar
melhor, por exemplo, à topografia do
terreno (MARTINS et al., 2015).
Pesquisa recente, que une a fabrica-
ção robótica e a tecnologia do concreto
reforçado com fibras de vidro ou
Glassfi-
bre Reinforced Concrete (GRC)
, vem sen-
do desenvolvida pelos autores deste arti-
go, Arq. Eduardo Lopes, sob orientação
do Prof. Dr. Paulo Eduardo Fonseca de
Campos. Essa tem como intenção reto-
mar o processo de robotização da produ-
ção de elementos de GRC com a técnica
de
spray-up
(onde a matriz cimentícia é
projetada juntamente com fibras de vidro
álcali-resistentes sobre um molde), inves-
tigação iniciada por Balaguer para a em-
presa espanhola Dragados, na década de
1990 (BALAGUER et al., 1994). Visa ainda
trazer avanços à industrialização de base
digital na construção civil, suportada pelo
atual estágio de desenvolvimento tecno-
lógico, onde os custos de aquisição dos
robôs são significativamente mais baixos
e o grau de integração e usabilidade dos
programas de computador utilizados na
concepção (CAD) e na manufatura (CAM)
é significativamente maior.
4. CONCLUSÃO
Já há algum tempo muito se comen-
ta a respeito da fabricação digital como
sendo o prenúncio de uma Terceira Re-
volução Industrial
7
. Por certo pode-se
estar assistindo ao surgimento de uma
inovação disruptiva ou radical (The Inno-
vation Policy Platform, 2016), por esta
representar uma oportunidade de que-
bra de paradigma, cujo impacto será
significativo sobre o mercado e a ativi-
dade econômica futura das empresas,
além de uma resposta ao esgotamento
de um ciclo produtivo calcado, original-
mente, nos clássicos padrões fordistas.
No setor da construção civil, e mais
especificamente no segmento da cons-
trução industrializada, os saltos tec-
nológicos, habitualmente, se dão por
meio de inovações incrementais, ou
seja, aquelas baseadas em produtos,
serviços, processos, organização ou
métodos já existentes, cujo desempe-
nho pode ser significativamente melho-
rado ou atualizado. Essa é a forma pre-
dominante de inovação na indústria em
geral, ainda que a natureza da inovação
e da taxa de mudança tecnológica mui-
to possam diferir de um país para outro,
entre setores produtivos e quanto aos
períodos de tempo envolvidos
8
.
Os processos de projeto e fabrica-
ção executados por meio dos sistemas
CAD
,
CAE (Computer Aided Enginee-
ring
ou Engenharia Assistida por Com-
putador) e
CAM
, integram aquilo que se
pode chamar de convergência digital
ou
“continuum digital”
, como os classi-
fica Kolarevic (KOLAREVIC, 2003). Uma
ligação direta entre projeto e produção,
a qual se estabelece por meio das tec-
nologias digitais.
A fabricação digital é aqui encarada
como um tema vinculado à Industrializa-
ção da Construção, uma nova alternati-
va tecnológica, com inúmeros conceitos
inovadores de projeto e produção a ela
vinculados. Entretanto, não há porque
enxergá-la como uma forma de ruptu-
ra com o passado, mas sim como um
meio de continuidade, uma possibilida-
de a mais que permite combinar concei-
tos aparentemente opostos: produção
padronizada e produção flexível.
Apesar de todo o potencial ofereci-
do por estas tecnologias, no entanto, é
preciso reconhecer que seu desenvol-
vimento e validação para uso no setor
da construção civil dependem, em boa
medida, do conhecimento profundo
das próprias especificidades desta in-
dústria, sem o que se corre o risco de
converter a fabricação digital em um
hobby ou uma curiosidade.
A aproximação entre o setor privado
e o aparato de ciência e tecnologia, além
dos investimentos em pesquisa, particu-
larmente de forma consorciada, consti-
tuem uma prática que já vem oferecendo
resultados tangíveis em países desenvol-
vidos, como a Inglaterra, caso específico
da Universidade de Loughborough.
O ponto de partida deste esforço
se dá com a geração de propostas
criativas e a identificação de oportuni-
dades, em um processo baseado na
aplicação de metodologias para inova-
ção e planejamento em estágios mais
avançados. A equipe multidisciplinar a
7
T
he
third
industrial
revolution
. M
atéria
de
capa
da
revista
“T
he
E
conomist
”
, 21-27
abril
2012.
8
T
he
I
nnovation
P
olicy
P
latform
(IPP, 2016) - O
rganisation
for
E
conomic
C
o
-
operation
and
D
evelopment
(OECD)
and
the
W
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B
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www
.
innovationpolicyplatform
.
org
(6/10/16)