78 | CONCRETO & Construções | Ed. 93 | Jan – Mar • 2019
chegavam a ser melhores que os da
região de São Paulo, dados os fa-
tores presentes, não valendo, neste
estudo específico, a por vezes citada
queixa de que as condições de clima
menos ameno no Nordeste levaria a
uma pior produtividade.
Internacionalmente falando, nos
últimos anos vem-se revisitando a dis-
cussão do assunto, como se pode ver
nos congressos internacionais do
CIB
(
International Council for Research
and Innovation in Bulding and Cons-
truction
) e em publicações de gran-
des empresas de consultoria. Choy
(2016) afirma que a comparação da
produtividade entre diferentes eco-
nomias é muito importante para se
poder importar as posturas que le-
vem ao melhor desempenho. Indica,
ainda, que a Construção é caracte-
rizada pela heterogeneidade e unici-
dade de seu produto, complexidade
no processo de entrega e pela estru-
tura da indústria e especificidades do
produto para cada país. Ao tentar,
no entanto, explicar as diferenças
de produtividade, aponta para uma
relação muito forte com o poder de
compra de cada região, olhando as-
pectos econômicos e não a produ-
tividade física da mão de obra para
executar uma mesma tarefa em di-
ferentes países, comentando apenas
que tal esforço varia conforme se te-
nha soluções realizadas parcialmen-
te fora do canteiro ou dependendo
da utilização de insumos pré-fabri-
cados. MGI (2017) comenta que a
“Construção tem crescido em mé-
dia 1% ao ano nos últimos 20 anos,
enquanto a economia mundial como
um todo cresce anualmente 2,8% e
a manufatura atinge crescimento de
3,6% anual”. E, ao tentar analisar as
causas desta variação, o MGI aponta
para variadas razões (regulamentos
do setor, formato dos contratos, pro-
jeto, suprimentos e cadeia produtiva,
técnicas de construção, necessidade
de melhorar a tecnologia e buscar
inovações, treinamento dos operá-
rios) sem apontar para uma diferença
regional que esteja atrelada às carac-
terísticas das pessoas de tais regiões
ou a outro aspecto geográfico.
Dentro deste contexto, este artigo
procura trazer maiores informações
sobre a relevância do “fator regional”
em determinar a produtividade, num
estudo exploratório usando um dos
serviços mais relevantes na constru-
ção brasileira.
2. OBJETIVO, DELIMINATAÇÃO
DO ESCOPO E MÉTODO
DE PESQUISA
Como hipótese inicial de pesquisa a
ser testada (comprovada ou desmenti-
da), considerou-se que o fator regional
é um grande indutor da produtividade
da mão de obra. Assim, imagina-se que
a execução de uma obra, com o mes-
mo projeto de produto e de processo,
implantada com a mesma organização
do trabalho, levaria a produtividades
diferentes, na medida em que tal obra
fosse localizada em diferentes regiões
do Brasil, ou seja, por conta das condi-
ções climáticas e/ou socioeconômicas
distintas vigentes.
Para testar esta hipótese, escolheu-
-se o serviço de fôrmas (relevante em
termos de custos, qualidade e deman-
da por mão de obra, além de presente
em todas as regiões devido a ter-se a
estrutura de concreto moldada “in loco”
como um dos principais métodos para
se executar a estrutura de edifícios). E,
em particular, para melhor delimitar o
escopo do trabalho (minimizando a difi-
culdade em se avaliar especificamente
o fator regional), limitou-se a análise às
fôrmas para pilares.
Com o suporte do conhecimento
conceitual sobre produtividade e uti-
lizando os princípios do Modelo dos
Fatores, delineou-se um método de
coleta de dados a ser utilizado nas di-
ferentes obras a serem estudadas (em
diferentes regiões do país). Efetivou-
-se uma significativa coleta de dados:
22 obras estudadas em 3 regiões do
país (Centro-Oeste, Norte/Nordeste e
Sul/Sudeste).
A coleta de dados baseou-se
na permanência contínua de um(a)
coletor(a), previamente treinado(a),
para apropriação contínua das horas
de trabalho disponíveis da equipe de
fôrmas, permitindo a separação do
tempo dedicado às fôrmas de pilares
em relação aos demais componentes
da estrutura. Cada uma das obras
teve ainda levantados os “fatores” (ver
discussão sobre o Modelo dos Fato-
res no texto adiante) que se imaginava
poderem influenciar a produtividade
(dentre eles, o “fator regional”).
Os dados coletados foram trata-
dos com procedimentos de base es-
tatística e à luz dos princípios advin-
dos do Modelo dos Fatores, gerando
uma análise, a ser apresentada ao
longo do texto, visando comprovar
ou não a hipótese de pesquisa sendo
testada (sobre a influência do fator re-
gional na produtividade).
3. CONCEITOS RELATIVOS
À PRODUTIVIDADE DA
MÃO DE OBRA
De acordo com Souza (2006),
produtividade é a eficiência (e, na
medida do possível, a eficácia) na
transformação de entradas em sa-
ídas que cumpram os objetivos de
um dado processo.