CONCRETO & Construções | 57
Alvenaria estrutural protendida:
procedimento e aplicação
J. M. DÉSIR – P
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1. INTRODUÇÃO
O
uso da alvenaria como es-
trutura tem se consolidado
cada vez mais no Brasil.
Em diversos países, existem muitas
construções de grande porte, realiza-
das em alvenaria estrutural e que de-
mandam soluções arrojadas. É o caso,
por exemplo, de edifícios relativamente
altos, silos, muros de arrimo, reserva-
tórios, construções baixas, mas com
pé direito alto. Nessas construções, a
presença de tensões de tração se torna
uma preocupação, já que as ações la-
terais, origem da tração, são mais signi-
ficativas. A utilização de protensão tem
a vantagem de permitir a adequação
do sistema à fase construtiva no qual
se encontra ajustado o nível de tensão
admissível. Assim, a protensão possibi-
lita que as estruturas suportem ações
laterais elevadas, tendo elementos com
grande esbeltez.
O objetivo principal do trabalho é
a apresentação de diretrizes para o
dimensionamento de elementos estru-
turais utilizando o sistema de alvenaria
estrutural protendida, à luz das exi-
gências normativas vigentes, e de um
exemplo de aplicação em parede alta
de galpão. Para isso, são apresentados
os principais aspectos do sistema, os
procedimentos de execução sintetizan-
do os parâmetros de projeto a serem
usados no dimensionamento de uma
estrutura, conforme detalhado em Car-
doso (2013).
2. CONSIDERAÇÕES SOBRE
A ALVENARIA ESTRUTURAL
PROTENDIDA
Existem muitos trabalhos na lite-
ratura apresentando materiais e mé-
todos para a utilização da protensão
na alvenaria estrutural. Os assuntos
tratados pelos autores são os mais di-
versos: unidades e argamassa, graute,
armadura de protensão, aplicação da
protensão, grauteamento e contenção
lateral das armaduras, ancoragem das
barras, proteção das barras, o método
construtivo, dentre outros. Pelo escopo
deste trabalho, estes assuntos não se-
rão tratados em detalhes. Contudo, o
leitor poderá consultar autores, como
Parsekian (2002), que apresentam uma
revisão muito completa sobre esses
assuntos, compilando informações e
especificações, e ponderando as van-
tagens e desvantagens dos diferentes
sistemas de protensão e resultados de
extenso programa experimental.
Quando submetidas a ações la-
terais elevadas, a alvenaria pode ser
protendida para melhorar desempenho
e durabilidade. A protensão tem como
objetivo aplicar tensões de compressão
no sistema antes da atuação das de-
mais ações, para diminuir as tensões
de tração que surgem com a estrutura
em uso, aumentando a resistência à fle-
xão. Existem vários tipos de obras em
que a tração é o esforço predominan-
te: muros de arrimo, silos, reservatórios
de água, paredes de galpão sujeitas à
ação do vento. Apesar dos registros
de sua utilização há várias décadas,
somente em 1999 critérios quanto ao
dimensionamento e execução da pro-
tensão em alvenaria foram incluídos na
norma americana. A técnica também
tem sido utilizada com sucesso em pa-
íses, como Alemanha, Austrália, França
e Suíça, nos quais foi normalizada no
decorrer da década de 1990. No Bra-
sil, a NBR 15961-1, aprovada em julho
de 2011, inclui conceitos básicos para
dimensionamento e execução de alve-
naria protendida no anexo B.
Os blocos utilizados na alvenaria
protendida são os mesmos utilizados
na alvenaria estrutural convencional. A
resistência necessária varia de acordo
com os esforços solicitantes e a forma
de construção da parede. No mercado,
a faixa de resistência disponível vai de
3 a 20 MPa, geralmente suficiente para
a maioria dos casos. É recomendada a
utilização de argamassa mista com um
traço de 1:0,5:4,5 (cimento:cal:areia,
em volume), pois argamassas pro-
duzidas com esse traço apresentam
u
estruturas em detalhes