106 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018
coloidal os componentes do ligante, pe-
netra pelos poros e pelas cavidades do
substrato. No interior dos poros, ocor-
rem fenômenos de precipitação dos
produtos de hidratação do cimento e,
transcorrido algum tempo, esses preci-
pitados intracapilares exercem ação de
ancoragem da argamassa à base (CA-
RASEK, 2017). Se o substrato (no caso,
bloco de concreto de alta resistência)
não exerce sucção efetiva da pasta
aglomerante da argamassa (a qual tem
dificuldade de liberá-la devido à sua alta
capacidade de retenção de água), não
serão formados produtos de hidratação
no interior dos poros do substrato e,
portanto, a ligação será deficiente.
Após o início do endurecimento da
argamassa (cerca de 14 dias), quando
a retração já atingiu aproximadamente
80% do total, tendo em vista que a liga-
ção entre argamassa/bloco está muito
frágil, as movimentações geradas nos
materiais levam a ruptura dos poucos
pontos de ancoragem existentes.
Salienta-se que argamassas com
maior rigidez (módulo de elasticidade
alto) apresentarão maiores tensões de
cisalhamento na interface para uma
mesma movimentação, quando com-
paradas às argamassas de baixo mó-
dulo, conforme equação:
1
em que:
t
c
= tensão de cisalhamento;
E = módulo de elasticidade;
e
= movimentação do revestimento;
d = espessura do revestimento;
A = área de contato.
A aderência (ligação entre os mate-
riais) é que deverá se opor a estas ten-
sões de cisalhamento. Logo, se a rigidez
da argamassa é alta, com as movimen-
tações intrínsecas dos materiais (como
a retração da argamassa) serão geradas
altas tensões que não poderão ser ab-
sorvidas pela aderência bloco/argamas-
sa, a qual é muito baixa desde o início.
A tensão de tração na argamassa
oriunda da retração é função direta do
seu módulo de elasticidade, de sor-
te que argamassas ricas em cimento
sofrem notável influência da retração,
estando mais sujeitas a tensões de tra-
ção, que causarão fissuras e possíveis
descolamentos de sua base.
Assim, a explicação do mecanismo
de descolamento e fissuração obser-
vado na obra está calcada na retração
dos revestimentos, associada à sua
baixa aderência ao substrato. A Figura
7 ilustra o mecanismo proposto.
A retração é produzida pela saída
de água da camada do revestimento,
que se constitui em um elemento del-
gado, de elevada relação área/volume
e significativa parte desta área exposta
ao ambiente. Quando a ligação entre
o revestimento e o substrato é baixa,
como no caso em questão, pelo efeito
u
Figura 6
Valores médios de absorção de água pelo método cachimbo
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
0
5
10
15
20
Tempo (minutos)
PL
PLC
PD
Absorção de água (ml)
u
Figura 7
Ilustração do mecanismo de descolamento/fissuração dos
revestimentos devido à baixa aderência ao substrato e à retração.
Observação: o fenômeno foi exagerado na figura visando torná-lo
mais visível
a
b
c