CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 107
da baixa sucção da base, a camada de
revestimento tende a se contrair pelo
efeito de retração, conforme se vê na
Figura 7(a); como a restrição a essa
contração é pequena, ou seja, a resis-
tência de aderência ao cisalhamento é
fraca, o revestimento tende a empolar,
como se vê na Figura 7(b) e fissurar
(Figura 7(c)). Se porventura em alguma
região do revestimento a resistência
de aderência ao cisalhamento superar
a resistência à tração do revestimento,
ocorrerá fissura, que, no entanto, se
produzirá em muito menor escala se
comparada à situação de elevada ade-
rência do revestimento ao substrato.
Ressalta-se que, quando não há fissu-
ração incidente e nem empolamento
visível, mesmo assim o descolamento
pode estar ocorrendo, o que é detec-
tado através do som cavo produzido
quando o revestimento é percutido.
Como este fenômeno se produz a in-
tervalos aproximadamente regulares,
isto pode resultar na ruína do reves-
timento como um todo. A tendência é
de ocorrer uma movimentação do re-
vestimento para fora (afastando-se do
substrato – empolamento).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas discussões anteriores
é possível tecer algumas recomendações
de cuidados a serem tomados para evi-
tar manifestações patológicas de revesti-
mentos relativas à produção dos blocos
de concreto de alta resistência e relacio-
nadas à composição/formulação, bem
como ao processo de aplicação, das ar-
gamassas de revestimento.
4.1 Produção dos blocos
estruturais
Além da elevada compacidade
intrínseca dos blocos de alta resis-
tência, a baixa sucção de água pode
estar relacionada com novos aditivos
que vem sendo utilizados na manu-
fatura dos blocos de concreto de alta
resistência. Esses aditivos químicos
visam: à melhoria do adensamento do
concreto através da máquina de com-
pactação (preenchimento mais rápido
do molde); à otimização da produção
com menor tempo de compactação e
rapidez de retirada das peças (gerando
um menor ciclo de fabrico); à redução
do atrito entre a fôrma e o concreto
(redução do desgaste dos equipamen-
tos); à redução da aderência entre a
camada superior de concreto e a peça
de compressão dos blocos; à melhoria
do acabamento superficial – textura –
dos blocos; dentre outras vantagens
na produção. Cabe, portanto, aos fa-
bricantes verificarem se esses aditivos
não estão comprometendo o sistema
“parede estrutural com revestimento”,
se levarem a uma redução substancial
da aderência entre bloco e argamassa.
4.2 Composição da argamassa
A argamassa de revestimento a
ser aplicada sobre blocos de alta re-
sistência pode ser industrializada (si-
tuação preferencial) ou preparada em
obra. Recomenda-se que essa arga-
massa tenha:
a) Moderada retenção de água (clas
ses U2 a U4, da ABNT NBR
13281:2005), como ilustrado na Fi-
gura 8(b). A retenção não deve ser
alta (U5-U6), pois como o bloco es-
trutural de alta resistência apresenta
baixa sucção de água, a argamassa
precisa liberar a pasta aglomerante
para o substrato com certa facilida-
de, de forma a garantir a ancora-
gem adequada;
b) Rigidez não muito elevada, ficando
na faixa de resistência à compres-
são entre P3 e P4 da ABNT NBR
13281:2005. Argamassas com alta
rigidez (alto módulo de elasticida-
de) apresentarão maiores tensões
de cisalhamento na interface para
uma mesma movimentação, quan-
do comparadas às argamassas de
baixo módulo.
4.3 Execução do revestimento
Quanto à execução dos revesti-
u
Figura 8
Exemplo de argamassas com diferentes capacidades de retenção de
água. Ensaio empírico de retenção – resultado após 8 minutos de
aplicação da argamassa sobre um papel filtro
Alta retenção de água – U5
a
Baixa retenção de água – U2
b