18 | CONCRETO & Construções | Ed. 93 | Jan – Mar • 2019
IBRACON
– O
que
levou
você
escolher
a
profissão
de
engenheira
civil
? O
que
a
atraía
para
este
campo
na
década
de
1980,
quando
o
país
passava
por
grave
crise
econômica
,
sem
muitos
recursos
para
investimentos
em
infraestrutura
? E
m
relação
à
atuação
profissional
de
mulheres
na
área
de
E
ngenharia
,
o
que
mudou
desde
então
?
Í
ria
L
ícia
O
liva
D
oniak
– Meu pai
era agropecuarista. Nasci e fui
criada em Curitiba, mas passava
férias quase sempre na fazenda. Ele
também se dedicava à criação de
cavalo puro sangue inglês, tendo
assumido cargos institucionais no
Jockey Club e na Associação dos
Criadores de Cavalos de Corrida.
Talvez daí venha o meu DNA
institucional. Fui educada num
colégio de freiras durante o hoje
chamado ensino fundamental. No
ensino médio, denominado à época
científico, fui para uma escola, com
média oito e com muita ênfase
em química, física e matemática.
Tive muitas dificuldades no início,
especialmente em matemática. Meu
irmão me dava muito apoio e insistia
que era essencial para a vida, que
minha única opção era enfrentar e
vencer. O ensino profissionalizante
era obrigatório e escolhi a opção
Laboratorista de Geologia. Vencida
a dificuldade inicial, passei a
tirar notas excelentes e, também
incentivada por um professor,
busquei a engenharia. Entrei na
universidade, ávida por aprender!
Creio que não pensava sobre a
crise que existia na época, queria
estudar e trabalhar. No campo
existe um princípio simples que
presenciamos a cada colheita: o
resultado da semeadura. Colhemos
o que plantamos e cuidamos!
Tudo o que sabia era que, com
esforço e dedicação, os resultados
seriam obtidos à despeito das
adversidades. Assim como nunca
vi crise como impedimento para
realizar meus sonhos, talvez por ter
passado parte da minha infância
no meio rural, aprendi a respeitar
as pessoas em todos os níveis e
a interagir com todos, num meio
essencialmente masculino. Acredito
que esses aprendizados fizeram
com que não me preocupasse
muito com a questão das mulheres
no mercado de trabalho, embora
me sensibilize com a causa. Não
tive dificuldades para encontrar
estágio e, posteriormente, trabalho.
Por princípio, não por competição,
sempre tive um espírito voltado a
fazer o que era preciso e a entregar
mais do que era solicitado, com foco
no resultado, não no tempo. Tinha o
desejo de ser reconhecida por meus
méritos e não apoiada no que havia
sido a conquista da minha família.
Morei com os meus avós, pais da
minha mãe, que faleceu quando eu
tinha 10 anos, dos 17 até quando me
casei. Meu avô sempre me dizia que
para trabalhar era preciso aprender e
que para aprender a humildade
era fundamental.
Ao longo da história excelentes
mulheres profissionais
demonstraram o seu valor e
conquistaram a abertura de
mercado na área. Em 2013,
na homenagem proposta pelo
saudoso jornalista Nildo Oliveira,
editor da Revista “O Empreiteiro”,
me emocionei muito. Fui uma
das sete mulheres escolhidas
para representar as profissionais
femininas que se destacam na área
durante cerimônia das 500 Grandes
Empresas da Construção. Neste
dia pensei em alguns exemplos
importantes do passado: a história
de Emily Roebling, responsável
por uma das obras relevantes dos
Estados Unidos, a ponte que liga
Manhattan ao Brooklyn. Quando
seu marido, engenheiro responsável
pela ponte, adoeceu em 1872, ela
o sucedeu, assumindo o processo
e a obra foi concluída sob sua
liderança. A Engenheira Enedina
Marques, minha conterrânea, que,
em 1945, foi a primeira mulher a
concluir engenharia no estado do
Paraná e primeira engenheira mulher
e negra do Brasil, tendo participado
de importantes obras de barragem.
E, por fim, e que deve ser sempre
citada e lembrada por nós da área
a engenheira, Maria Noronha, sócia
fundadora do IBRACON, referência
em concreto armado e protendido,
formada pelo Mackenzie em 1951.
AO LONGO DA HISTÓRIA EXCELENTES
MULHERES PROFISSIONAIS DEMONSTRARAM
O SEU VALOR E CONQUISTARAM A
ABERTURA DE MERCADO NA ÁREA
“