CONCRETO & Construções | Ed. 88 | Out – Dez • 2017 | 53
u
encontros e notícias |
CURSOS
te dendo o concreto
Estrutura: a criação de um
conceito para a construção
1. INTRODUÇÃO
O
que é estrutura, afinal? A
pergunta instigante, silen-
ciosa e permanente, coloca
esta questão para todos que lidam com
Engenharia e Arquitetura, no âmbito da
transformação da ideia em matéria, ou
seja, no domínio da construção.
Esse artigo é fruto de uma refle-
xão que pretende situar, a partir de
uma investigação relacionada aos as-
pectos históricos, os conceitos que
fundamentam a prática da Engenha-
ria Estrutural e sua relação com a Ar-
quitetura, para além das formulações
físico-matemáticas. Investigação que
se desenvolve em um recorte tempo-
ral que se inicia em meados do sécu-
lo XVIII, quando é fundada a École de
Ponts et Chaussées
1
, e vai até o início
do século XX, quando começam a se
desenvolver as teorias relativas às es-
truturas de concreto armado. Buscou-
-se o entendimento de como se formou
a ideia do que poderia ser uma estru-
tura independente da construção pro-
priamente dita e, como consequência
dessa abstração, da evolução das te-
orias que permitiram o surgimento da
ciência “Engenharia Estrutural”.
Propõe-se aqui o entendimento do
sistema estrutural de uma edificação
como produto, primeiramente de um
modelo abstrato, fruto da ideia, que,
analisado a partir de formulações te-
óricas, posteriormente dará origem a
um projeto, o qual, por sua vez, con-
ferirá materialidade ao sistema portante
da edificação.
2. O SURGIMENTO DE
UM CONCEITO
Estrutura é definida, no campo da
Filosofia, como um conjunto de ele-
mentos que formam um sistema, um
todo ordenado de acordo com certos
princípios fundamentais; uma constru-
ção teórica formal, um modelo visan-
do estabelecer as correlações entre
as variáveis de um sistema
2
. Por sua
vez, o termo sistema neste mesmo
campo de conhecimento, é caracteri-
zado como um conjunto de elementos
relacionados entre si, ordenados de
acordo com determinados princípios,
formando um todo ou uma unidade
3
.
Estrutura e sistema têm, portanto, sig-
nificados similares.
Assim, nesse artigo, faz-se refe-
rência à estrutura como um sistema
estrutural, constituído por elementos
inter-relacionados, que fazem parte
de um todo ordenado de acordo com
os princípios responsáveis pelo equi-
líbrio e sustentação das edificações.
Este sistema será abordado a partir
de duas chaves de entendimento: pri-
meiro, como sistema composto por
um conjunto de partes imateriais, os
elementos estruturais, fortemente re-
lacionados entre si, configurados em
um modelo abstrato de análise; se-
gundo, como sistema composto pe-
los elementos estruturais detalhados
em projeto e materializados na cons-
trução, fruto do modelo abstrato de
análise definido na primeira chave. Ou
seja, são dois os sistemas estruturais,
um abstrato e outro concreto: o que é
idealizado na fase de análise e o que
é efetivamente construído, a partir de
especificações projetuais.
A atribuição das corretas proprie-
dades físico-mecânicas dos elemen-
tos estruturais, bem como a adequada
configuração das restrições aos des-
locamentos das ligações e pontos de
apoio dos elementos que constituem o
sistema no modelo abstrato, tem sido,
desde a primeira formulação teórica
MONICA AGUIAR – P
rofessora
, E
ngenheira
C
ivil
P
ontifícia
U
niversidade
C
atólica
do
R
io
de
J
aneiro
(PUC-R
io
)
J
ustino
V
ieira
– M
onica
A
guiar
P
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E
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MARCOS FAVERO – A
rquiteto
e
U
rbanista
P
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U
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(PUC-R
io
)
1
A
fundação
da
É
cole
des
P
onts
et
C
haussées
,
em
1747,
na
F
rança
,
pelo
engenheiro
francês
D
aniel
-C
harles
T
rudaine
(1703-1761),
hoje
conhecida
como
É
cole
des
P
onts
P
aris
T
ech
,
é
considerada
como
o momento
de
separação
entre
as
profissões
de
engenheiros
e
arquitetos
.
2
JAPIASSÚ, H
ilton
; MARCONDES, D
anilo
.
D
icionário
B
ásico
de
F
ilosofia
. R
io
de
J
aneiro
: J
orge
Z
ahar
E
ditor
, 1996,
p
. 92.
3
I
bidem
,
p
. 250.