Revista Concreto & Construções - edição 85 - page 8

8 | CONCRETO & Construções
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PERGUNTAS TÉCNICAS
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Segundo o item A.2.3.1 da ABNT NBR
6118:2014, a retração depende da UR
(Umidade Relativa) do ambiente, da
consistência (slump) do concreto fres-
co, do tempo de secagem, da idade
de início da secagem e da espessura
fictícia da peça.
O concreto expande com a absorção
de água e contrai com a sua perda e
a isso chamamos de movimentação cí-
clica reversível com a UR do ambiente
onde está inserido.
Óbvio que, quanto mais tarde começar
a secagem (ou seja, quanto maior o
tempo de cura), menor será a retração,
assim como quanto menor o período
de tempo de secagem, menor também
será a retração.
Observe que essa evaporação e absor-
ção cíclica de água ao longo do tempo
dependem do regime de mudanças da
umidade relativa no ambiente e, por ou-
tro lado, das dimensões da peça e da
relação superfície/volume.
Parece depender também da con-
sistência do concreto fresco, mas, na
verdade ,depende do volume de água
por metro cúbico, ou seja, concretos
fluídos se tiverem mais água por metro
cúbico poderão retrair mais.
Por essa razão, é mais comum e mais
preocupante analisar as consequências
dessa retração hidráulica ou de secagem
em peças “lineares”, tipo vigas e em pe-
ças “planas”, tipo lajes, muros e pisos.
Óbvio que se ainda essas peças esti-
verem engastadas ou “aderidas” a ou-
tros elementos, inclusive solo, rochas,
como no caso de muros e paredes,
a preocupação com essa retração hi-
dráulica aumenta devido aos riscos de
fissuração por esforços de tração.
As eventuais fissuras e esforços decor-
rem do fato de que, na maioria das vezes,
essas peças estão engastadas, estão
aderidas e principalmente esse fenôme-
no não atinge toda a peça por igual e sim
de forma heterogênea, gerando defor-
mações e tensões diferenciais.
A retração de secagem é maior em
concretos simples e menor em con-
cretos armados (consultar Anexo A da
ABNT NBR 6118:2014) e geralmente é
expressa em mm/m ou 0/00.
A teoria nos ensina ainda que existe a re-
tração química, autodessecação ou re-
tração autógena devida ao fato da pasta
hidratada ter volume ligeiramente inferior
ao volume inicialmente ocupado pela
soma do grão de cimento mais o volu-
me da água de hidratação desse grão.
Por essa razão, pastas e argamassas
retraem mais que concretos, nessa or-
dem decrescente.
Pragmaticamente para um concreto bem
dosado, com agregado graúdo e miúdo
organizados em composições granulo-
métricas de maior compacidade, essa
retração irreversível é muito pequena e
não causa problemas nem precisa ser
calculada, porém é fato que concretos
de mais alta resistência têm tendência,
sob mesmas condições, de retrair mais.
Diz a bibliografia que ainda existe a
retração por carbonatação, que pode
ocorrer depois de 5, 10, 20 anos, mas,
pragmaticamente, esta é bem super-
ficial, depende muito do consumo de
cimento e do efeito parede, e gera mi-
crofissuras na superfície da peça, um
certo craqueamento, que, uma boa
pintura ou estucamento resolve sem
maiores preocupações.
Na prática, em geral, não há preocupa-
ção com retração volumétrica, mesmo
a causada pela maior delas, que seria a
retração por secagem.
Em grandes volumes o problema maior
a ser considerado é efeito térmico e
não retração hidráulica.
Finalmente, há de se, eventualmente,
preocupar com retração plástica inicial
por conta de excesso de exsudação de
água, excesso de água no traço, vaza-
mento de nata em fôrmas mal vedadas,
paredes-cortina e estacas.
Esta ocorre em forma “volumétrica”
e sempre na direção da gravidade, e
pode causar fissuras sobre armaduras
rígidas, obrigar ao maior trecho de ar-
rasamento de estacas, deixar irregular
um acabamento superficial, criar fis-
suras em topo de pilares concretados
junto com lajes e vigas, criar fissuras
em tetos de formas cubetas, e fissuras
em lajes reticulares no encontro laje/
nervura, etc.
Em alguns casos, pode-se medir até
1 cm de redução na altura (30 cm) de
corpos de prova, ou seja, 3% a 4% line-
ar ou volumétrico.
Esta retração não reduz resistência,
mas exige do engenheiro capacidade
de saber administrar com categoria,
eliminando as consequências não de-
sejáveis que, em geral, seriam riscos
à durabilidade.
Mais informações práticas sobre o pro-
cesso de retração pode ser consulta-
das nas seguintes bibliografias:
u
PCA. Design and Control of Concre-
te Mixtures - Chapter 15 Volume
Changes of Concrete
u
ACI 209.2R-08 - Guide for Mode-
ling and Calculating Shrinkage and
Creep in Hardened Concrete - item
A.1.1
u
fib Model Code for Concrete
Structures 2010 – item 5.1.9.4.4
1,2,3,4,5,6,7 9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,...100
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